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sábado, 23 de outubro de 2010

Uma mulher de setenta anos, cheia de perseverança, determinação e filhos

Por João Bosco de Araújo
Jornalista

Na foto, Maria Estela ao lado da
filha Lalá, a segunda da fila dos quinze
Uma galinha caipira na mão, vivinha da silva, era o sinal de que mais uma vida estava prestes a dar a luz neste mundão de meu Deus. “Ti Pedro está?”, era a senha para adentrar na casa da rua. Sem cerimônia, despachada, e muita alegria no semblante, com uma barrigona no pé da goela, foi assim que me acostumei a ver àquela sobrinha de meu pai, dentre tantas outras, filha de tio Manoel Salviano. E foi por muito tempo na minha infância, em Caicó.

Afinal, todas as vezes que Maria Estela ia dar a luz a um filho, a cena se repetia. Nessa pisada, foram 15 partos, é brincadeira? Também pudera, Geraldo não pôde adquirir um aparelho de televisão naqueles tempos de vacas magras, e por cima, a responsabilidade maior era criar a prole que aumentava a cada ano que passava.

Além da penosa, substância no pós-parto, começava a partilha para saber os padrinhos do rebento. Começou pelos tios, os meus pais, e foi se revezando pelas minhas irmãs, todos foram padrinhos de batismo e compadres do casal. Aliás, se não estou enganado, os dois primeiros filhos não constam da lista lá de casa, e como a família cresceu, outros parentes foram se juntando para a cerimônia batismal e ingresso na vida cristã.

Aliás, um fato me chamou a atenção ao ser revelado pela mãe, de que ainda jovens, recém-casados, no primeiro parto a criança foi assistida pelo próprio pai, que fez a incisão do cordão umbilical, cortando-o acima de um palmo, tudo isso sozinhos, numa casinha do sítio, sob a luz de uma lamparina. Na segunda vez - me contou -, a criança começou a nascer dentro de um riacho, cheio d‘água no inverno, também no sitio de tio Manoel.

São muitos fatos da trajetória fascinante dessa mulher, que superou muitos obstáculos e como uma guerreira soube enfrentá-los, corajosamente, um a um, sem desanimar. Lembro-me, muito bem, de que na época não havia essas campanhas de saúde, de incentivo, divulgadas pelo governo, muito mais difícil para quem morava no meio rural.

No entanto, de iniciativa própria, Maria Estela arrumava as crianças e se mandava para a cidade, decidia que era dia de vacinação e assim cumpria sua missão, pelo menos no que estivesse ao seu alcance. Não esperava, porém, que um dia pudesse esquecer um filho dentro do ônibus. Como eram muitos, passou a fazer a chamada, todas as vezes que desciam enfileirados do veículo, iam respondendo, cada um, “estou aqui mãe”!

Noutra ocasião, no período das férias escolares, estávamos no sitio, e era de praxe tio Manoel passar com sua carroça puxada pelo boi Tremendão, repleta de meninos; era Maria Estela que ia visitar a mãe no sítio Ourives, para ela conhecer os netos. Eles saíam de Jardim do Seridó, da propriedade rural Mavioso, de Nelson Canuto, e percorriam cerca de três léguas. Ainda lá em casa, uma parada para beber água e a benção dos tios, com àquela fila de crianças, da menor a maior. Ao saírem, minha alegria era pegar uma carona em cima da carroça, até a porteira mais próxima.
     
Outra alegria, há poucos anos, com os filhos criados, todos bem encaminhados na vida, já casados, trabalhando, foi na formatura do filho que se tornou sacerdote. Padre Gerlúcio concluiu seus estudos em Roma, passando quatro anos no Vaticano, ordenando-se no final de 2005, na Catedral de Sant’Ana, em Caicó, rezando sua primeira missa na vila do perímetro irrigado do Sabugi, onde havia nascido, emoção para os pais, irmãos, familiares, amigos e vizinhos.

Estou contando essas histórias, pelo simples fato de neste mês de outubro de 2010, Maria Estela está aniversariando 70 anos de vida, cuja data seus 15 filhos - onze homens e quatro mulheres - e netos comemoram neste domingo (24), com missa de ação de graças no clube APUC, a partir das 10 horas da manhã e em seguida um churrasco almoço ao som de Dão Amado e banda.

Parabéns, Maria Estela, essa alegria eu também compartilho, apesar dos mais de três mil quilômetros de distância, e faço por meio de minhas irmãs e minha mãe, essa que tanto te admira, que estão pertos de você para que possam abraçá-la, pessoalmente. Você é tão forte quanto o fumo de Arapiraca. Uma vencedora, exemplo de garra, determinação.
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