Por Fernando
Antonio Bezerra*
Hoje é 15 de
agosto, dia que o Acari de nossas raízes reverencia a Padroeira, Nossa Senhora
da Guia, uma das devoções mais antigas do Seridó que a gente ama. Paulo Balah,
imortal das letras, tio a quem tento imitar no gosto das coisas de antigamente,
foi longe e com sua prosa peculiar anotou que: “em 1718, situou-se no Saco o
pernambucano Nicolau Mendes da Cruz, com fazenda de criar, a qual foi vendida,
em 1725, ao recém-chegado Sargento-Mor Manuel Esteves de Andrade, cobrador do
dízimo. Este, em 1737, levantou capela ´por estar distante 8 dias de viagem do
curato do Piancó´ e, em 1748 requereu, com o Capitão Faustino de Abreu, a Data
do Saco que veio a ser vendida aos seus sobrinhos, os irmãos Francisco Pereira
da Cruz e Antonio José Pereira. Estes requereram sesmaria, para ratificar a
compra, em 1769. Assim, resulta ser considerado fundador de Acari, o
Sargento-Mor Manuel Esteves de Andrade por ter erigido uma capela para
invocação de Nossa Senhora da Guia e haver doado meia légua de terra para o seu
patrimônio.”
A Paróquia
de Nossa Senhora da Guia do Acari, por sua vez, foi criada em 13 de março de
1835 por D. João da Purificação Marques Perdigão, 17º Bispo da Diocese de
Olinda. A atual Matriz, segundo publicação da própria Paróquia, foi iniciada no
dia 15 de agosto de 1857, e concluída a 3 de dezembro de 1863. “A transladação
da imagem de N. S. da Guia da primitiva capela para a nova igreja ocorreu no
dia 5 de agosto de 1867, véspera do início da sua festa. À frente da construção
da nova matriz esteve um filho da terra, e seu primeiro vigário durante 35 anos
(16/04/1935 a 04/06/1870), o Padre Tomaz de Araújo”.
Outro
acariense de garbosa estirpe, Jesus de Rita de Miúdo, meu colega de infância e
um dos bons pesquisadores que conheço, resgatou o livro “ACARI – Fundação,
história e desenvolvimento”, editado pela Editora Pongetti em 1974, do grande
intelectual acariense Jayme Santa Rosa, transcrevendo na finada – e saudosa –
página www.acaridomeuamor.nafoto.net: “O município de Acari foi criado pelo
Presidente da Província em conselho por ato de 11 de abril de 1833. Esta
criação foi aprovada pela Lei Provincial n.º 16, de 18 de março de 1835. A sede
do município ficou sendo a vila do Acari. De 1833 a 1858 ficaram no Seridó dois
municípios: o de Caicó e o de Acari. A Freguesia foi estabelecida pela Lei
Provincial n.º 15, de 13 de março de 1835, sob a invocação de Nossa Senhora da
Guia.”
Acari é,
portanto, a segunda cidade do Seridó e tem tradições tão ricas que a faz muito
estimada por todos. Todos gostam de Acari. Não há rivalidade conhecida que a
faça menor em qualquer circunstância. Por outro lado, sua história a credencia
a ser reconhecida como uma das cidades mais importantes do Rio Grande do Norte.
Nomes de Acari já estiveram em páginas destacadas da história política
potiguar. Desde Tomaz de Araújo, o primeiro e seus sucessores, passando por
João Damasceno, Silvino Bezerra de Araújo, José Gonçalves, Francisco Seráphico,
José Vinicius, Monica Nóbrega Dantas, Paulo Gonçalves de Medeiros, Padre José
Dantas Cortez, dentre outros. Juvenal Lamartine de Faria, não sendo acariense,
casou-se com uma filha do Coronel Silvino; José Augusto, por sua vez, era neto
do Coronel Silvino, ou seja, por muitos anos, apesar de pequenina cidade, Acari
tinha, por seus filhos ou agregados, um espaço distinguido no cenário político
do Rio Grande do Norte, sem falar nas artes, na religião – com Dom Eugênio de
Araújo Sales – ou em outras manifestações de cultura e economia.
A exemplo de
outras cidades, foi também sede de usinas de beneficiamento de algodão e viveu,
naquele momento, o seu apogeu econômico. Ganhou, por seus riachos e gargantas,
o colosso do Seridó chamado Açude Marechal Dutra, Gargalheira, reservatório
d´água que mesmo seco inspira emoção. Ademais, ganhou e zela pelo título de
cidade mais limpa do Brasil. Enfim, é terra que recebe os que passam ou os que
ficam. É orgulho para o Seridó de todos os lados!
A Festa, na
data de hoje, está terminando. Juntou gente; provocou reencontros; fez o povo
chorar de alegria ou de saudade. É uma boa mistura que chega ao colo de Maria,
a Padroeira, mãe de Jesus e do cristianismo. De todo modo, está chegando ao
fim, com grande procissão, sempre uma das maiores de toda Região. Com a
bandeira arriada e a imagem de volta ao altar, como diz Paulo Balah, fica o
“desejo desembestado de estar de volta no ano que entra”.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página do Barde Ferreirinha.
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