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sábado, 5 de abril de 2014

O fole de Zé Vítor e um pandeiro agoniando na brasa

Por João Bosco de Araújo

Foto com exclusividade para o blog
Nem sempre estamos preparados para o inesperado. Isso é fato, ainda mais se depararmos com situações vexatórias, inusitadas, ainda criança.

Nunca fui de dançar nos forrós que aconteciam na época das férias escolares no sítio de meu pai e arredores do Umbuzeiro, em Caicó. Gostava, sim, de participar tocando pandeiro ou outro instrumento de percussão, os que fazem o tripé do chamado forró pé de serra.

Bom, mas bem antes ainda de tocar, os primeiros passos a observar, atentamente, as manobras do pandeirista. Impressionavam-me a marcação de ritmos, a coreografia das mãos em cima do couro e do instrumento, em si. Até, então, o pandeiro era construído a partir de couro de animal, às vezes de gato.

Encostado no canto de parede, o sanfoneiro e seus cabras acochavam no forró, a poeira subindo e a turma no miudinho, de um lado a outro da sala; certas ocasiões de barro batido, no reboco.

O tocador era Zé Vítor, o pai também fora tocador, de rabeca. E o filho, Tico, herdou a vocação, agora com mais ênfase profissional.

Aliás, José Vítor, agricultor, trabalhava na roça e tocava seu fole de oito baixos para ajudar nas compras da feira dos filhos que eram muitos. Tanto que, logo encerrasse o baile ou farrinha, corria para a bodega mais perto.

Um dia, numa tarde de domingo, o tocador não esperava por vir. O fole roncava alto e o forró corria solto. Por ser de couro, o pandeiro precisava de um arrocho para acertar o som.

Prontamente, de repentemente me dispus a oferecer ajuda, ouvindo do próprio sanfoneiro: “dá um esquente no pandeiro, garoto”. Ora, aquilo me fez sentir parte dos tocadores, já sendo o quarto do Trio, com o pandeiro na mão!

Corri em busca do fogão de lenha da casa, sequer pensei duas vezes e taquei o pandeiro em cima do braseiro. Em segundos, vi o que acabara de praticar, o fim do que nem começara. Um fiasco!

Lá fora, o pessoal resmungava da demora. Sem jeito, sem pandeiro, retorno com o resto do que sobrara. Um padeiro agonizado na brasa!
    
Esta semana, em Caicó, Zé Vítor partiu para sua eterna morada, aos 83 anos de idade.  Seu corpo foi sepultado na quinta-feira, 3 de abril.

Para homenageá-lo, busquei este vídeo com o sanfoneiro paraibano, que também era seu xará, Zé Calixto.

Descanse em paz, Zé Vítor!
 
Atualizado com foto
 
Esta foto envidada por minha irmã Socorro é o retrato mais oportuno desta postagem e flagra o momento do forró de Toinha no Manhoso, cerca de 10 anos atrás e após mais de 30 anos dos antigos forrós.
   
Vídeo


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