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sábado, 30 de outubro de 2010

O homem do IBGE

--- Walter Medeiros* – waltermedeiros@supercabo.com.br

Numa dessas noites de outubro estávamos sossegados no nosso aconchego, Graça - minha mulher e nossos dois filhos ainda solteiros – Firmino Neto e Walter Filho, quando o telefone toca. Atendo e do outro lado da linha ouço a voz aflita de uma amiga nossa, ex-colega de trabalho aposentada que mora no condomínio em frente à nossa casa. Ela diz, rapidamente, que haviam acabado de chamar na cigarra do seu apartamento dizendo que era do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para fazer o seu recenseamento e que havia dito que não abriria a porta. Perguntava se tinha feito certo. Prontamente lhe apoiei, dizendo que sim, fez certo, pois já passava das dez e meia da noite. Ela achava que o homem esta com uma máscara branca. Ainda perguntei se o homem estaria por perto, ela muito aflita confirmou que fazia poucos minutos do fato.

Com as facilidades que se tem hoje, procurei o IBGE pela internet e soube em questão de segundos que o atendimento do 0800 era feito somente até dez da noite. Imediatamente saímos para a calçada, para ver quem estava saindo do condomínio, que não tem portaria nem vigilância permanente. De longe vimos um homem de trajes escuros chamando na entrada dos prédios e aos poucos seguindo no rumo da rua. Tinha mesmo as características de recenseador, mas aquele horário, nos dias de hoje, não era tão normal assim. Resolvemos ficar observando, até decidir por uma abordagem. Chegamos a pensar em chamar a ronda da vigilância do quarteirão, mas ainda observávamos atentamente, os quatro na calçada e a rua meio deserta.

Quando menos esperávamos, eis que chega uma guarnição da Polícia Militar, comandada pelo nosso vizinho, que é tenente e estava encerrando seu expediente. Ao ver o grupo na calçada da sua casa, indaga se desejaríamos falar com seus pais, mas foi logo informado do que estava se passando. Com todo aquele aparato de farda e armamento, ele chama o colega de equipe para fazerem a abordagem do indivíduo que estava se aproximando da saída do condomínio. Chamam-no e lá vem o rapaz, nervoso, mostrando todos os documentos, crachás e demais símbolos e inscrições que o identificam como funcionário do IBGE. Em meio à abordagem, percebo tratar-se da mesma pessoa que fizera o recenseamento na minha residência logo nos primeiros dias do trabalho. Informo rapidamente aos policiais que conheço o rapaz e eles começam a aliviar a tensão.

A justificativa do recenseador era de que muita gente que mora em condomínios chega tarde à casa e neste ano o IBGE passou a fazer o trabalho também à noite. Como já estava extrapolando todos os horários razoáveis, os policiais determinaram que ele suspendesse o trabalho naquele dia e voltasse no dia seguinte para concluí-lo. Liberaram e nos despedimos. Em seguida telefonamos para nossa amiga, que estava menos intranqüila e chegamos à conclusão de que a suposta máscara que ela teria visto era o crachá que o rapaz tentava mostrar através do olho mágico da porta.

No dia seguinte a nossa amiga telefonou para o IBGE, informou sobre o fato e lhe deram razão por não ter aberto a porta, já que não havia sido avisada e o horário era impróprio. Aproveitou para marcar a visita do recenseador; mas foi recenseada por outra pessoa. Depois de tudo, agora o censo para nossa miga virou algo engraçado. Quando nos encontramos, sempre há quem pergunte: cadê o homem do IBGE?

*Jornalista
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