“Esse
processo contribui para a preservação do meio ambiente, visto que faz a
reutilização do bagaço da cana, podendo agregar um maior valor comercial
bastante importante à cadeia de produção da cana de açúcar e do etanol de
primeira e segunda geração. Uma das vantagens no processo é o baixo custo, se
comparado com outros processos de produção de sílica, pois há a diminuição no
consumo da energia necessária, contribuindo para um melhor aproveitamento dos
recursos energéticos. Isso pode ser um diferencial econômico quando utiliza-se
essa tecnologia, pois poderá gerar diminuição nos preços dos produtos derivados
da sílica produzida”, pontua a professora do Instituto de Química (IQ).
A
docente acrescenta que a sílica é um produto de elevado valor agregado,
aplicado em diversos setores industriais e sendo inclusive considerado um dos
principais constituintes da indústria de base moderna. No invento, a
metodologia inovadora adotada acaba na obtenção de um material de ótima pureza.
É o que destaca José Alberto Batista da Silva, inventor que, na época do
depósito de pedido de patente, em 2017, era aluno do Programa de Pós-graduação
em Química (PPGQ).
Em vídeo, pesquisadores explicam aspectos da invenção patenteada
O
cientista enumera que o resultado é alcançado apesar de a cinza do bagaço
possuir composição variável, tanto em sua morfologia, tamanho e forma das
partículas, como em sua composição química, de acordo com as diferentes
condições de temperatura e tempo de incineração.
“A
sílica do bagaço de cana, também denominada sílica MP2, pode ser utilizada em
vários processos industriais, por exemplo como suporte para processos de
adsorção de compostos de enxofre no diesel, aplicabilidade essa utilizada nessa
patente nos testes que fizemos, em que se utilizou na síntese de peneiras
moleculares do tipo MCM-41, e posterior impregnação com metais para a
utilização na retirada do enxofre do diesel”, explica o hoje professor da rede
estadual na Paraíba e no Rio Grande do Norte.
A
tecnologia apresenta um Technology Readiness Level (TRL) entre três e quatro.
Os TRLs são níveis de prontidão tecnológica, um método para estimar a
maturidade das tecnologias em uma escala que se estende até nove. Há um
“protótipo” ou produto já sintetizado, em escala de bancada, em torno de 10
gramas. Luciene Santos frisou que há a necessidade de escalonamento, ou scale
up, para uma produção em planta piloto de até um quilo e, futuramente, em
escala industrial.
Patenteamento
Depositado
em abril de 2017, o Processo de Obtenção de Sílica Proveniente da Cinza in
natura do Bagaço da Cana-de-Açúcar recebeu a concessão definitiva da patente
nesta terça-feira, 10. A pesquisa que originou o invento contou também com a
participação de José Carlos Florêncio de Andrade, Etemistocles Gomes da Silva,
Renata Martins Braga, Dulce Maria de Araújo Melo, Valdic Luiz da Silva, Rafael
Viana Sales, Fernanda Maria de Oliveira e Keverson Gomes de Oliveira. Em suas
áreas específicas, os cientistas deram sua contribuição tanto no
desenvolvimento do processo como na preparação do material, na caracterização
dos materiais obtidos e na própria discussão dos resultados e revisão do texto
da patente.
“Trata-se
da culminância de toda uma pesquisa, desenvolvida por alunos de iniciação
científica, mestrado e doutorado, principalmente os pesquisadores da
pós-graduação, José Alberto Batista da Silva, Valdic da Silva e Keverson Gomes
de Oliveira, que sob a nossa orientação, contribuíram de forma decisiva para
que se chegasse a um resultado reconhecido como inovador pelo Inpi, gerando um
produto de alcance industrial”, coloca Luciene.
Valdic
faz coro com as palavras da coordenadora, acrescentando que a obtenção de um
processo inovador no campo da investigação científica pode trazer inúmeros
benefícios acadêmicos e econômicos para a Universidade e para a sociedade em
geral, que poderão usufruir do invento, e para os pesquisadores envolvidos na
pesquisa e toda a comunidade científica que desenvolve pesquisas com esses
materiais. Tanto ele como José Alberto e Valdic são oriundos da graduação em
Licenciatura em Química pelo Ensino a distância (EaD) da UFRN e depois fizeram
mestrado e doutorado no PPGQ.
“Como
receptor na época de muitos dos conhecimentos gerados na e pela pesquisa, posso
atestar o quanto a patente fomentou de forma significativa o aprendizado dos
envolvidos nessa pesquisa, desenvolvendo suas aptidões acerca do assunto e
corroborando para o desenvolvimento de outros estudos”, afirma Valdic da Silva.
Luciene
Santos agradece à contribuição da Direção do IQ, dos técnicos da Central
analítica, e do Laboratório de Peneiras Moleculares (Labpemol) pelas análises
de caracterização dos materiais. “O trabalho em grupo está fazendo a diferença
no nosso caso”, finaliza a docente.
Por Wilson Galvão, da Assessoria de Comunicação
da Agência de Inovação da
Reitoria/UFRN
Fotos:
Cícero Oliveira/UFRN
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