O Grito do Ipiranga não teve qualquer repercussão na
época.
Autora – Lucia Bastos
Fonte –
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/nem-as-margens-ouviram
![]() |
Foto acervo internet do quadro do pintor paraibano Pedro Américo |
“Independência ou
Morte!” Consagrado pela História, o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de
1822, quase não causou repercussão entre seus contemporâneos. Na imprensa do
Rio de Janeiro, somente o número de 20 de setembro do jornal O Espelho exaltou
“o grito acorde de todos os brasileiros”. Na prática, a Independência estava longe
de chegar.
Três séculos depois do
descobrimento, o Brasil não passava de cinco regiões distintas, que
compartilhavam a mesma língua, a mesma religião e, sobretudo, a aversão ou o
desprezo pelos naturais do reino, como definiu o historiador Capistrano de
Abreu.
Em 1808, os ventos
começaram a mudar. A vinda da Corte e a presença inédita de um soberano em
terras americanas motivaram novas esperanças entre a elite intelectual
luso-brasileira. Àquela altura, ninguém vislumbrava a ideia de uma separação, mas
esperava-se ao menos que a metrópole deixasse de ser tão centralizadora em suas
políticas.
Vã ilusão: o império
instalado no Rio de Janeiro simplesmente copiou as principais estruturas
administrativas de Portugal, o que contribuiu para reforçar o lugar central da
metrópole, agora na América, não só em relação às demais capitanias do Brasil,
mas até ao próprio território europeu.
O auge do questionamento
das práticas do Antigo Regime aconteceu em 24 de agosto de 1820, quando
estourou a Revolução Liberal do Porto. Clamava-se por uma Constituição baseada
nas liberdades e direitos do liberalismo nascente. A revolução teve importante
eco no Brasil, por meio de uma espantosa quantidade de jornais e folhetos
políticos. Durante todo o ano de 1821, porém, não surgiu nesses impressos
qualquer proposta favorável à emancipação.
Até o início de 1822,
ninguém falava de Brasil. Ao partir para as Cortes de Lisboa, para a discussão
da Constituição do Reino, os deputados americanos pensavam apenas em suas
“pátrias locais”, ou seja, em suas províncias. Só os paulistas demonstraram
alguma preocupação em construir uma proposta para o conjunto da América
portuguesa. Nem por isso abriam mão da integridade do Reino Unido: sugeriam o
Brasil como sede da monarquia, ou então a alternância da residência do rei
entre um lado e outro do Atlântico. “Independência” significava, antes de mais
nada, autonomia.
Ao longo daquele ano,
porém, o discurso se radicalizou. A insatisfação com a metrópole crescia, pois
das Cortes vinham propostas para retomar algumas das antigas restrições
políticas e econômicas que tinham limitado a autonomia do Brasil no passado.
Junto com o projeto constitucionalista surgia a ideia separatista, embora ainda
não direcionada a toda a América portuguesa. [Clique aqui para continuar leitura na página do historiador e pesquisador Rostan Medeiros]
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