Por Flávio Rezende *
Estes dias conversando
com uma pessoa ouvi de sua parte lamentos quanto às altas remunerações pagas
aos jogadores de futebol. Depois fez comentários sobre o culto ao corpo e o
vazio intelectual reinante entre a grande maioria dos seres.
Em seguida fiquei
refletindo sobre tudo isso e percebi que não podemos culpar pessoas por altos
salários e foco demasiado ao corpo. Como muitos de nós ainda vivemos na
gestação e na infância espiritual, seguimos um modelo de vida mais fácil, não
procurando muita sarna para se coçar, buscando quase inconscientemente a
satisfação dos sentidos e o porto seguro da materialidade, ficando felizes
quando essas coisas estão ok.
O que percebemos é que
no existir terrestre os modelos vão nascendo, tomando corpo e depois
inexoravelmente cedendo vez a outros, estando os humanos vivenciando eles nas
transições, nascimentos ou existindo exatamente durante todo o tempo de um
modelo em vigor.
O futebol, por exemplo,
começou faz tempo com seres jogando coisas redondas para lá, para cá, depois os
ingleses deram uma formatada e, hoje, as regras estão aceitas em todo o globo.
Com o tempo e a coisa
certinha já em voga, fomos todos gostando muito do tal futebol, que começou a
atrair a atenção do povo que sabe ganhar dinheiro, dos políticos que se
aproveitam das massas, começando a tomar forma como diversão, como empresa e
como ponte para cargos eletivos.
O modelo foi criando
verdadeiros heróis, seres que se sobressaem e com suas habilidades levam países
inteiros ao delírio. Inevitavelmente esses poderosos indutores da alegria
coletiva são excepcionalmente bem recompensados.
Essa paga além do
imaginado, não leva em conta a cor do sujeito, o berço do camarada, o seu gosto
musical ou a sua religião. O vencedor desta loteria é verdadeiramente o que
domina a pelota, o que faz dela sua refém e o que encanta as torcidas, com um
futebol perfeito e eficaz.
No futebol, com milhões
de imagens registrando cada milésimo do tempo do trabalhador em campo, só
alcança a glória quem de fato é o melhor neste mister.
Quero dizer então, que
não podemos cometer a injustiça de condenar fulano ou sicrano pelo alto salário
que ganha. Estamos vivendo um modelo e, se alguém tem algo contra, que comece a
falar, criar uma organização, protestar e propor mudanças ou sua extinção.
No existir terrestre já
vivenciamos diversos modelos econômicos, políticos, religiosos, comportamentais
e muitas pessoas já deram a vida pelo nascimento, sobrevivência ou a extinção
de modelos.
Os seres, dentro deles,
podem sim ser responsabilizados, criticados ou elogiados, tudo depende do ponto
de vista e de como estamos situados nos modelos.
Para uma pessoa forte,
saudável, que renuncia a pizzas e sorvetes de chocolate para manter um corpo
malhado, a visão de um barrigudo lendo um livro, remete seu pensamento a uma
condenação. O barrigudo, vivenciando outro modelo, também julga o fortão de
acordo com sua percepção das coisas.
A vida é assim, cheia de
modelos e, dentro deles, todos nós, vivenciando nossas picuinhas e caminhando,
uns para a compreensão, aceitação e transcendência do atual para o ideal e,
outros, estacionados em suas doses de satisfação pessoal, simplesmente vivendo
de acordo com suas próprias conveniências e sem interesse nenhum em saber se
existe algum modelo mais interessante.
Enquanto a Terra viver
no modo expiação, todos os modelos seguirão lentamente suas sinas. Quem sabe um
dia, no modo regeneração e, lá na frente, iluminação, os modelos acelerem e
possamos ter mais luz em nossas existências.
* É escritor, jornalista e ativista social em
Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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