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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O destino de um padre

Dom Jaime Vieira, novo arcebispo de Natal, lembra da infância em Tangará e do talento da sua mãe na cozinha


A CARNE DE sol assada de Maria Nini era um manjar de Deus. Coberta com manteiga da terra e aquela cebolinha roxa, então, fazia Jaime Vieira voar. Aliás, dona Nini sabia das coisas. Quando o garoto nasceu pelas mãos da parteira da família, na fazenda Cruzeiro, em Tangará, foi só ver que a criança era homem para dar a sentença: “Esse aí vai ser padre”. Foi tiro e queda. Hoje, se viva fosse, a dona da carne de sol mais gostosa de Tangará veria o filho nomeado arcebispo metropolitano de Natal.

Dom Jaime Vieira toma posse dia 26 de fevereiro de 2012 no lugar de dom Matias Patrício de Macêdo, que deixa o cargo depois de ter completado 75 anos, idade limite segundo a lei . E aos 64 anos de idade se diz preparado, embora num arroubo de humildade acredite que não mereça tamanha bênção.  “É uma honra muito grande, até porque sou do clero de Natal. Recebo como uma dádiva, uma bênção de Deus, acho que não mereço essa graça. Não dependia de mim, evitei até criar expectativa”, afirmou por telefone de Campina Grande, onde vive há 15 anos exercendo a função de bispo.

A previsão de dona Nini foi se concretizando com o tempo. Ainda garoto, Jaime tinha mania de enxugar todos os dedos, um por um, quando lavava as mãos. E já rezava as missas para um público fiel que não arredava pé da igreja improvisada dentro de casa: as bonecas das irmãs. O futuro arcebispo de Natal nasceu numa família de oito irmãos (três homens e cinco mulheres). Devoto da virgem Santíssima, rezava o terço de Nossa Senhora de Fátima todos os dias na infância.



Jaime Vieira fala português, italiano e espanhol. Diz que largou o francês e arranha no latim. Geraldo Vandré estava entre seus músicos preferidos durante a ditadura militar. Ainda assim, ideologicamente vê o mundo bem distante da divisão política entre esquerda e direita. Admite que se adapta melhor ao centro.

Hoje, para saber o que está acontecendo no mundo, lê jornais e assiste aos telejornais, principalmente os que entram noite adentro. Tenta abrir email todos os dias, mas confessa que nem sempre dá por causa do trabalho desenvolvido nas pastorais. “Gosto muito de atender as demandas pastorais, e isso compromete meu tempo. Gosto de ver os telejornais à noite para fazer a recapitulação do que aconteceu durante o dia”, conta.

Dom Jaime Vieira acha fantástica essa nova geração antenada, mas freia um pouco o entusiasmo quando alerta para os perigos de tanta informação. Para ele, a internet, o celular e a motocicleta são os três elementos que contribuem para o comportamento humano. Achou estranha a presença da motocicleta? É qual é o veículo que faz o ser humano chegar mais rápido entre dois pontos, ora!

“Eu vejo com entusiasmo e admiração a geração Y, que já nasce nessa cultura. Somos de uma geração que estamos tentando migrar para esta realidade, é algo fantástico e importante para você estar atualizado e antenado. Mas devemos ter cuidado com estes instrumentos que tanto servem para o bem como para o mal. A questão dos crimes na internet é difícil de provar e combater”, analisa.

Nesse mundo agitado em que agora o arcebispo terá a responsabilidade de representar os fiéis católicos, dom Jaime Vieira encontra a paz no passado, na deliciosa carne de sol assada de dona Nini. “Nunca vi igual uma carne de sol daquela. Morávamos na fazenda Cruzeiro, papai era administrador da fazenda de Salviano Gurgel, numa época em que os sertanejos e os fazendeiros integravam a vida. Lembro de homens conhecidos como Orlando Gadelha e Aristófanes Fernandes, que passavam por lá e não deixavam de elogiar a carne de sol com manteiga da terra e cebolinha roxa”, recorda, para depois confessar: “Mas hoje tenho que cuidar da minha saúde. Fiz uma cirurgia bariátrica (redução de estômago) e não posso mais exagerar”, encerra.
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