Por João Bosco de Araújo
Jornalista ▶ boscoaraujo@assessorn.com
Não tenho as provas, só as trovas. Parou aos 40, para se casar com minha mãe, véspera dos anos 1950, recomeçando vida nova no torrão onde nasceu, para nunca mais sair. Seu pedaço de terra no Umbuzeiro era um todo de sua vivência, em pleno sertão caicoense.
Não sei se por eu ter os traços dele – mais do que os outros filhos –, ele me reservava atenção especial, que me regozija a manter essa afinidade infinita. Cumplicidade de pai e filho. Revelava-me, sabiamente, laços de seus ancestrais, suas andanças, esperanças; apontava caminhos de retidão, labutas, crenças, desavenças, paixões. Que pensamento poderia frasear: “O Brasil é grande, o mundo é pequeno!”
Pai só se tem uma vez. E tem que viver como muita paixão. Emoção que um dia transcrevi, rabiscando numa folha de caderno e anotei:
Travessa, Travessia
Travessando a porteira eu cantei
Sorri, brinquei, chorei
Travessando a fronteira eu rezei
Senti, pensei, estudei
Travessando a ponte...
Eu não sei.
Faz pouco tempo que eu cheguei
Ainda não sei como se foi
É tanto tempo que passei
Distante daquele que me pôs.
Um dia, na mais pura sabedoria e inocência de uma criancinha eu também tive a bênção de ser pai. Aos dois aninhos de idade Maria Fernanda me adotou como pai, seu pai de fé, de verdade, de comunhão. Pai de todas as glórias.
A exemplo de meu velho e amigo Pai Pedro Salviano de Araújo, de tantas vidas por mim e a seus outros filhos, meus irmãos, dedicou com afinco, sem limites, sem restrições, na certeza do dever cumprido nesta terra como pai.
Um Paidégua, no melhor sentido da palavra.
E que Deus Pai abençoe a todos os pais, de todas as terras. Amém!
- Texto original publicado em 2009 (e noutras postagens), nos 102 anos de nascimento (1907) de pai Pedro Salviano de Araújo e 28 anos de sua morte (1981).
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