Por Fernando Luiz*
Nos anos 70, durante o regime militar,
vários compositores brasileiros tinham que usar a criatividade para driblar a
censura. A música de Belchior Apenas
Um Rapaz Latino-Americano também foi composta no período em que os militares
estavam no poder e na letra Belchior expressa tudo o que o povo brasileiro e os
artistas viviam e sentiam naquele momento: “Eu
sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes
importantes e vindo do interior...” E depois: “Por favor não saque a arma no
"saloon" / Eu sou apenas o cantor / Mas se depois de cantar você
ainda quiser me atirar / Mate-me logo à tarde, às três / Que à noite tenho um
compromisso e não posso faltar por causa de vocês... O trecho refere-se claramente ao fato de que
o poder criativo dos artistas estava profundamente cerceado.
Um dos grandes sucessos do início daquela década, a música Jorge
Maravilha, assinada por um tal de Julinho de Adelaide, tinha um refrão que
se tornou conhecido: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. A
canção falava de uma relação conflituosa entre um sogro, um genro e uma filha:
o autor namorava uma garota cujo pai o detestava. Poucas pessoas entenderam o
recado que se encontrava oculto naqueles versos...
Outro exemplo é a canção Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, gravada por Roberto Carlos, cuja letra dizia: “Um dia, a areia branca, seus pés irão tocar / E vai molhar seus cabelos, a água azul do mar...” A música, uma composição de Roberto e Erasmo Carlos, foi feita para Caetano Veloso, que tinha sido obrigado a se mudar para Londres em 1969, numa época em que os cantores e compositores de vanguarda, impedidos de criticarem a política do país, eram tratados como inimigos do regime.
Em 1970, dois anos antes de Roberto Carlos gravar Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, o cantor pernambucano Paulo Diniz foi o primeiro a homenagear Caetano Veloso, de quem era amigo, com a música Eu Quero Voltar Pra Bahia. Apesar de ter alcançado sucesso nacional, quase ninguém percebeu a verdadeira mensagem cuja letra já dizia tudo o que a canção de Roberto e Erasmo Carlos reafirmaria dois anos depois:
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@fernandoluizcantor
*Fernando
Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão
Pública, apresenta programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8:30 na TV Ponta
Negra, afiliada do SBT no RN.
©2024 www.AssessoRN.com | Jornalista João Bosco Araújo- Twitter @AssessoRN | Instagram:https://www.instagram.com/assessorn_
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