O grupo usou a lignina, substância encontrada nas paredes celulares das plantas — no caso, do sabugo de milho —, e a alterou quimicamente. Com a inserção de cloreto de colina e peróxido de hidrogênio, popularmente conhecidos como sal amarelo e água oxigenada, respectivamente, alcançaram um composto com propriedades melhoradas para remoção de poluentes de ambientes aquáticos. O processo de modificação acaba por aumentar a porosidade, área superficial e afinidade com contaminantes orgânicos.
Esse composto tem assim alto potencial para aplicação na indústria petrolífera e têxtil, contribuindo para a diminuição dos impactos ambientais causados pela descarga de resíduos líquidos, ao mesmo tempo que agrega valor ao sabugo de milho, uma biomassa amplamente disponível e pouco valorizada.
“Testes demonstraram que as esferas de lignina modificadas apresentam maior eficiência na adsorção de contaminantes quando comparadas a materiais convencionais, como carvão ativado. Além disso, a cinética de remoção revelou elevada afinidade da lignina modificada pelos poluentes, destacando sua viabilidade para aplicações em grande escala”, relata Alcides de Oliveira Wanderley Neto.
Assim, a principal aplicação está no tratamento de efluentes industriais e domésticos, com destaque para ambientes que sofrem com vazamentos de petróleo ou presença de compostos orgânicos. Ou seja, desde indústrias têxteis, cosméticas e alimentícias, no controle de poluentes gerados durante os processos produtivos, até filtros domésticos e purificadores de água, como barreiras extras de proteção contra poluentes orgânicos. Também podem ser aplicadas em laboratórios e hospitais, no tratamento de resíduos líquidos contaminados por substâncias químicas, além da possibilidade de postos de gasolina e oficinas mecânicas usarem para contenção e absorção de óleo derramado.
Não bastasse, o invento é útil em estações de tratamento de esgoto e em áreas sujeitas a acidentes ambientais, como rios e lagos afetados por derramamentos de petróleo, promovendo a descontaminação de forma rápida e sustentável. Elano Costa Silva situa que a tecnologia tem custo reduzido, por ser derivado de um resíduo agroindustrial, o sabugo de milho, e versatilidade, podendo ser adaptado para diferentes tipos de contaminantes com simples ajustes de formulação. Portanto, alia eficiência técnica à viabilidade econômica e ao impacto ambiental positivo.
O desenvolvimento do material representa uma solução inteligente e ambientalmente responsável para a crescente demanda por tecnologias de purificação de água. A percepção a respeito da relevância da patente é ratificada por utilizar resíduos agroindustriais, valorizar a economia circular e reduzir a dependência de materiais sintéticos de alto custo. Ademais, é potencialmente reutilizável, com possibilidade de recuperação do petróleo adsorvido em determinadas condições e contribui para o cumprimento de legislações ambientais e práticas de ESG (ambiental, social e governança) por empresas e instituições.
Elano reforça que o grupo já desenvolveu um protótipo funcional, cujo composto modificado é encapsulado em esferas de um outro composto, o alginato de sódio, formando um sistema poroso e reutilizável. “Esse sistema facilita o manuseio, melhora a eficiência na captura dos poluentes e simplifica sua remoção do meio após o tratamento. A tecnologia está atualmente em fase de validação laboratorial, com testes em diferentes tipos de efluentes e cenários simulados. O próximo passo envolve a escala piloto, com vistas à transferência para aplicação industrial e comercial”, explica Elano, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFRN.
Por causa disso, o grupo de pesquisa está testando novas combinações químicas para ampliar o espectro de poluentes que podem ser adsorvidos, situação que implica em desenvolver versões encapsuladas do adsorvente para facilitar o uso em filtros e colunas de tratamento. “As ações buscam aperfeiçoar e expandir sua aplicabilidade em escala industrial e doméstica, englobando um contexto de avaliação do desempenho do material com contaminantes emergentes, como medicamentos e pesticidas, bem como investigando a reutilização do material e os melhores métodos para regenerá-lo após o uso, o que aumenta a sustentabilidade do processo”, descreve outro dos cientistas envolvidos, Dennys Correia.
Nesse percurso de testar novas possibilidades e avançar no grau de progresso que uma investigação científica ou tecnológica faz ao longo do tempo, desde a concepção inicial até a sua aplicação ou implementação, Dennys acredita que o patenteamento é um ponto importante, em virtude de alguns aspectos. “Primordialmente, a trajetória científica e tecnológica do grupo de pesquisa é impactada. Para além disso, é um instrumento de valorização da pesquisa aplicada, conectando universidade e mercado, e uma ferramenta de fomento à inovação ao mostrar como é possível transformar conhecimento em soluções práticas. Outros pontos são que a patente é um caminho de promoção da visibilidade acadêmica, facilitando colaborações interinstitucionais e atraindo investimentos, e, por outro lado, contribui para a formação de profissionais empreendedores preparados para gerar impacto positivo na sociedade por meio da ciência”, finaliza.
Por Wilson Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/
Assessor de Comunicação AGIR/UFRN-84 991936277
Foto: Cícero Oliveira/UFRN
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