Nas calçadas da vida
Por Fernando
Antonio Bezerra*
Em Caicó
houve uma época em que as calçadas eram famosas pelos nomes de seus patronos,
pela boa conversa e pela repercussão da opinião de seus participantes. Não
convivi em todas, mas participei de muitas no centro da cidade... Na Rua Felipe
Guerra, a calçada de Macedo, Paisinho Rangel, Simão Leleco (depois, Marinês).
Na Av. Carlindo Dantas: Barraco de Branca, Milton do Dominó, Zé do Barraco e
Seu Gaspar. Na Coronel Martiniano, os pontos comerciais de Dorgival Fernandes,
Bosco, Santiago dos Confeitos e Ivonaldo dos Pneus, dentre outros.
Na Otávio
Lamartine, a calçada da Rádio Rural, a Farmácia de Rocha e o Bar de
Ferreirinha. Na Avenida Seridó, os batentes de Zé Simplício, Nilson de Brito,
Farmácia de Neto, Barraco de Valdemar, Barraco de Tarcísio, O Pescador e,
antes, na Biblioteca Olegário Vale.
Na feira
livre, no mercado, no açougue e em outros pontos há sempre um ponto de encontro
para atualização da pauta, do debate, da resenha ou, simplesmente, da vida
alheia.
Algumas
rodas se mantêm. Outras novas surgiram, inclusive, nas chamadas “praças de
moto-taxi” e em bares como, por exemplo, Zeca Barrão. Em cada uma, debates
acalorados sobre tudo e sobre todos. Temas dos mais complexos e dos mais
diversos ramos da atividade humana. As calçadas famosas de Caicó se tornaram
fóruns privilegiados de aprendizado e de convivência entre gerações diferentes.
As pessoas conversavam e, mesmo divergindo, voltavam ao debate, sem armas, sem
intolerância.
Evidentemente
que a paixão eleitoral, não raro, fazia grupos convergir para uma mesma
calçada, mas, mesmo com a predominância de uma ou outra cor partidária, as
calçadas eram frequentadas democraticamente. Assim, por exemplo, era a calçada de
Paisinho Rangel (Tomaz Rangel), ex-vereador de Caicó e “dinartista” convicto. A
maioria era “dinartista”, a exemplo do anfitrião, mas alguns poucos convivas
“aluizistas” também participavam e eram respeitados.
Outras
famosas confrarias se estabeleceram, durante muitos anos, na vida caicoense.
Aliás, de tão famosas que outros seridoenses viam a Caicó e cumpriam, antes ou
depois de qualquer outro compromisso, expediente em algumas das calçadas.
Também os caicoenses ausentes inseriam no rol de visitas a seus familiares uma,
duas ou três das calçadas famosas como pontos indispensáveis à visita a terra
natal. Alguns dos
pontos mais famosos resistem. Outros, infelizmente, pelo tempo ou por razões
diversas, foram desaparecendo...
Não estão,
entre nós, muitos dos que lideravam ou participavam do bom debate nas calçadas
da cidade. Em alguns dos recantos lembrados, para os que conheceram e
frequentaram as confrarias, os tamboretes ainda estão postos, mas a saudade é o
assunto que não se esgota na pauta do dia. Para os mais jovens, apenas calçadas
que facilitam a passagem de pedestres. Para história de Caicó, todavia, são
encontros e desencontros de gerações e opiniões que, ao longo dos anos,
descobriram verdades, descortinaram horizontes, contraditaram versões, construíram
mitos, assistiram nascimentos e mortes, enfim, fatos e pessoas que nas calçadas
da cidade foram protagonistas da vida.
Foto p&b relacionada à publicação
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página do Novo
Bar de Ferreirinha
JBAnota – Eram,
deveras, muitos os pontos de encontros na boca da noite que reuniam os chamados
péias moles nas décadas de 1960, 70, pelo menos na minha adolescência, alguns já
citados acima, e acrescento o da “Boca Maldita”, na avenida Seridó onde
funcionou o Banco do Brasil, imediações da lanchonete de Euclides e do Bar de
Ferreirinha. Outro ponto de se assentar em tamboretes, era o da Bodega de Zé
Teófo (José Teófilo), esquina da avenida Rio Branco com a rua Augusto Monteiro,
caminho do Cine São Francisco, nessa foto atual de 2015, só existindo a
fachada da bodega onde tombou morto Manoel Chicola no 7 de Setembro de 1969.
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