Isolamento e
determinação nos 80 anos de vida
Por
João Bosco de Araújo
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divulgação |
Lembro-me que cerca de dez anos atrás, em um artigo que escrevia
para um outro jornal da capital, o
título dizia: “A professorinha isolada”. Contava a trajetória de uma
menina-moça que chegava a uma comunidade rural para ensinar as primeiras letras
para as crianças do lugar. Passaram-se os anos, porém não poderia deixar passar
que no último dia 13 de abril, àquela professorinha aniversariou 80 anos de
vida.
É por isso que Alzira Tavares demonstrou desde muito jovem
determinação, altivez, garra. Sempre soube o que queria. Aos 18 anos estava
casada, pronta para os ensinamentos do lar, mas nem por isso deixou de
alfabetizar os meninos e as meninas da localidade por outros anos, ofício que
também voltou a praticar tempos depois, na época do Mobral, dessa feita para a alfabetização de adultos. Sem deixar de
esquecer que nas horas vagas, o tempo estava ocupado para o trabalho de
costureira. Modista de mão cheia, vestiu noivas da região e costurava a própria
roupa dos filhos e do marido.
Antes disso, fez seus estudos no Grupo Escolar Senador Guerra e
no Educandário Santa Teresinha, amparados pelo empenho caprichoso dos pais
Severino e Luzia Tavares que não mediram esforços de educá-la como também a
outros três irmãos, com o trabalho de fabricação de chapéu de couro.
Foi com a viuvez que ela se mudou de Caicó para a capital.
Nesses últimos 28 anos tem recebido o carinho dos sete filhos e dos quinze
netos e mais quatro bisnetos. Mas nem por isso esquece de voltar à sua cidade,
nem que seja para comprar carne de carneiro, um de seus pratos prediletos, e
anualmente, como peregrina de Sant’Ana para assistir, assiduamente, ao
novenário na Catedral, ao lado da amiga e companheira, comadre Amália. Aliás,
suas melhores amigas, desde que chegou para ensinar no Umbuzeiro em 1945,
continuam sendo: Amália, um ano mais
velha, e Severina Melada, de 90 anos, essa última, imagine só, foi noiva de seu
marido Pedro Salviano. Mas isso é romance para outras páginas.
Viajar a Brasília, onde mora seu irmão Chico Tavares, tem sido
sua outra alegria, embora com menor freqüência nos últimos anos. Por lá, os
quatro sobrinhos lhe cobrem de beijos, a paparicar e fazer seus desejos. É lá,
também, que Maria Helena, outra amiga e da família de seu cunhado Chico
Salviano, a convida para passear e comer nos restaurantes mais badalados da
capital federal. Os álbuns de fotografias dessas ocasiões demonstram sua
satisfação de momentos tão significativos em sua vida. Que bom!
Tem sido assim, e completar oito bem vividas décadas é mais uma
bênção para Alzira Tavares de Araújo, essa fantástica e corajosa mulher, mãe
minha e dos meus irmãos: Socorro, Salete, Sônia, Sueli, Gilberto e Flávio, na
ordem de nascimento.
Isolada, porque foi ser professora em uma escola afastada da
cidade, mas integralmente compartilhada com as causas de sua geração, logo
assumindo compromissos importantes para sua pouca idade, numa época em que o
desenvolvimento sequer era pauta de discussão, tampouco no interior do país,
cujo analfabetismo imperava absoluto. Ainda mais em se tratando de uma região
rural, em pleno sertão nordestino.
Parabéns Dona Alzira, o isolamento lhe deu oportunidade de
crescer e ser útil para o engrandecimento de todos aqueles que viveram e vivem
ao seu lado. Que o Pai-Eterno lhe cubra das bênçãos divinas. Amém!
MÃE, MAMÃES: Texto publicado há seis anos, no
octogésimo aniversário de Dona Alzira, e agora em homenagem ao Dia das Mães, de
todas as mães, aliás, suas filhas, noras e netas que também são mamães!
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