Por Laíse Santos Cabral de Oliveira
Psicóloga - Casa Durval Paiva
CRP 17-3166
O tratamento
do câncer tem apresentado um progresso nas últimas décadas. Nos casos dos
tumores sólidos, a cirurgia pode ser a porta de entrada do paciente no
tratamento oncológico, pois é através da intervenção cirúrgica que muitos
chegam para investigar o diagnóstico, através das biopsias ou para dar início
ao tratamento. Os pacientes que tem a cirurgia como uma das estratégias de
tratamento podem passar por um processo de reparação ou mutilação do corpo,
como também, podem vivenciar o luto pela perda da saúde. Eles entram em contato
com as perdas reais e até mesmo simbólicas, como a perda de alguma parte do seu
corpo ou de sua integridade. É importante destacar que a cirurgia é uma das
mais antigas modalidades de tratamento do câncer e uma das principais armas de
combate a essa patologia.
No caso de
uma mastectomia (remoção parcial ou total da mama), por exemplo, uma mama pode
representar a marca da feminilidade de uma mulher, ou nos casos de pacientes
que amputam um membro, como a perna, pode representar uma ameaça a autonomia do
sujeito. A partir da representação que esse órgão/parte tinha para ele, cada
paciente impõe um significado diferente a parte retirada. A cicatriz que fica
após a cirurgia pode trazer uma mudança de identidade, pois a imagem corporal
também faz parte do processo da identidade pessoal, encontrando-se alterações
na autoestima e na autoimagem. Além de tudo isso, é preciso passar pelo
processo de recuperação exigido por um procedimento cirúrgico.
Acrescido as
perdas simbólicas e mudanças citadas, tem-se a ansiedade para alcançar a cura.
No imaginário de que na cirurgia se retira parte do corpo doente, pode-se
fantasiar que a doença será retirada. Geralmente, a intervenção cirúrgica é um
momento em que o paciente se depara com manifestações de ansiedade e tristeza.
Os profissionais devem ficar atentos para essas possíveis manifestações de um
corpo e uma mente doentes, que se unem formando o ser integral, para poder
trabalhar de modo humanizado.
Para
oferecer um suporte emocional de qualidade ao paciente cirúrgico, segundo os
escritores Ismael e Oliveira (2008), algumas situações devem ser analisadas,
como: se o paciente percebeu a doença que o acometeu, ou se percebeu e adiou
sua investigação; se já adoeceu anteriormente, como foram essas experiências e
como interagiu com ela do ponto de vista emocional; qual a sua rede de apoio; e
como a sua família e o meio em que vive reagiram a essa situação. No caso das
crianças e adolescentes assistidos na Casa Durval Paiva, além de ficar atento
ao comportamento e expressão de sentimentos dos pacientes, também é preciso
ficar vigilante como os familiares se posicionaram diante dos primeiros sinais
e sintomas.
Durante a
internação cirúrgica, o psico-oncologista pode observar diversos sinais, como o
nível de ansiedade e angústia, a disponibilidade de escuta, os medos, as
fantasias, as crenças, estigmas, preconceitos, os mecanismos de defesa, a
sobrecarga emocional, o apoio familiar, a rede de apoio social, os recursos de
enfrentamento, a dinâmica de personalidade e conhecimento sobre a doença.
Muitos
fatores psicológicos estão presentes durante o tratamento desses pacientes.
Submeter-se a uma intervenção cirúrgica pode levar o paciente a fazer uma
reavaliação de seus valores, uma vez que o processo de adoecimento permite que
ele repense a sua vida. Geralmente, eles fazem reflexões sobre a vivência de seus
sentimentos, suas inseguranças e medos. Pacientes e familiares pensam no futuro
incerto, no que poderia ter feito e no que e como poderá fazer. Os adolescentes
param para refletir de modo mais intenso nos seus projetos futuros e nos seus
sonhos. Apesar da marca simbólica negativa, o câncer pode trazer um novo
sentido para a vida das pessoas.
Alguns
pacientes oncológicos, após receber o diagnóstico, passam a valorizar os
aspectos comuns do cotidiano, priorizando os relacionamentos e a convivência
familiar. Tornam-se pessoas mais reflexivas, passando a ter mais atenção,
cuidado e demonstrando mais carinho às pessoas que fazem parte de sua vida.
Porém, não são todos os pacientes que possuem esse comportamento, muitos deles
têm questões problemáticas externas ao processo de tratamento que eram
evidentes e são reforçadas pelo processo de adoecimento.
Assessoria de Comunicação Casa Durval Paiva
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