Gabriella
Pereira do Nascimento - Coordenadora
pedagógica
Laíse Santos
Cabral de Oliveira - Psicóloga CRP
17-3166
Casa Durval
Paiva
O processo
de hospitalização ocasiona diversas mudanças na rotina dos sujeitos que o
perpassam em qualquer momento da vida. Além das mudanças físicas, há o
surgimento também de sintomas emocionais que necessitam ser observados e
cuidados. Para crianças e adolescentes, o diagnóstico e a hospitalização podem
ser vivenciados como uma situação traumática, em que o sujeito “deixa de ser
criança” para dar conta da nova rotina, repleta de exames, procedimentos,
medicações e restrições. As condições do tratamento quebram sua rotina de vida,
podendo alcançar sua totalidade de modo que o seu desenvolvimento físico,
emocional, social e cognitivo seja afetado.
Quanto mais
prolongado o tratamento médico, maior deve ser a atenção às necessidades
apresentadas pelo indivíduo. Crianças e adolescentes diagnosticados com câncer,
por exemplo, passam longos períodos vivenciando a rotina hospitalar, em
detrimento da sua rotina de vida habitual. Em meio a este contexto, percebe-se
que as perdas estão presentes em diversos aspectos da sua vida, entre eles, as
relações familiares e sociais (escola, igreja, esportes, lazer, dentre outros).
O resgate dessa rotina, mesmo adaptada ao contexto hospitalar, tem bastante
relevância e impacto sobre os resultados médicos obtidos, mostrando a
importância de cuidar do sujeito de forma integral, com ações humanescentes
aliadas ao tratamento de saúde.
Mesmo diante
das mudanças acarretadas pelo surgimento da doença e da necessidade de realizar
o tratamento, o processo evolutivo do ser humano continua com as necessidades
próprias de cada idade. Dentre estas, incluem-se os aspectos emocionais,
psicossociais e educacionais. Durante o desenvolvimento das habilidades
motoras, por exemplo, a criança aumenta a autonomia e o autocontrole. Esse fato
marca a sua primeira emancipação com relação à mãe. A partir dos 3 anos, a
criança acredita que há regras para a manutenção da saúde e pode apresentar
retraimento, pânico ou agitação motora quando há o surgimento de doenças.
Parte do
desenvolvimento da criança e do adolescente ocorre dentro do contexto escolar e
é nele que se percebe o maior impacto das perdas. Levando-se em consideração
que este é o ambiente de maior interação, socialização e apreensão de
conhecimentos diversos acerca da sociedade a qual está inserido, esta é uma das
primeiras e mais significativas privações vivenciadas durante o tratamento,
nesta fase da vida.
Nesta
perspectiva, oferecer ao paciente o suporte educacional, mesmo que seja no
ambiente hospitalar, possibilita o resgate de parte da sua rotina,
oportunizando o desenvolvimento continuo paralelo à atenção a saúde. As
atividades educativas realizadas na Casa Durval Paiva, por exemplo, ocorrem
através do serviço do atendimento pedagógico hospitalar e domiciliar. Nestes
espaços, o paciente tem acesso à sala de aula, tanto no hospital, quanto na
casa de apoio, sendo possível sua participação efetiva nas atividades
propostas.
Nesse
contexto, diversas propostas educativas são possíveis, como por exemplo, a
aplicação de projetos pedagógicos onde podemos reunir diversas áreas de
conhecimento partindo de um tema gerador, oficinas de desenho, música,
musicalização, teatro, passeios, informática, além da intervenção pedagógica
sobre os conteúdos formais trazidos da escola regular. Com isso, é possível dar
continuidade ao desenvolvimento educativo aliando a aprendizagem com a
interação, socialização e integração deste aluno com os seus pares, aliviando o
cansaço da rotina hospitalar, oferecendo a estes uma perspectiva de futuro para
além da doença.
Na sala de
aula também é possível perceber mudanças no comportamento e desenvolvimento das
crianças decorrentes do tratamento médico, oportunizando a intervenção de
outros profissionais.
A queda de
cabelo, perda de peso, cansaço e a limitação na participação dos jogos e
brincadeiras pode fazer com que a criança que enfrenta tal situação se sinta
insegura por achar que é incapaz de realizar determinadas atividades, podendo
haver perda da autoestima, sentimento de inferioridade e uma descrença de que a
sua vida pode voltar a ser como era antes. Nesse momento, torna-se oportuno
trabalhar a inclusão com o grupo, por vezes, abordando a própria doença,
fazendo com que ela se empodere da sua situação atual e possa enfrentar as
adversidades da vida com o apoio dos colegas e das intervenções
multiprofissionais. Este trabalho pode ser realizado através de atividades
lúdicas como: jogos, brincadeiras, rodas de conversa e leitura, contação de
histórias, entre outras.
Assim, vale
ressaltar que, toda possibilidade de intervenção supracitada ocorrerá de forma
significativa com o apoio da equipe de saúde e, principalmente, com o
compromisso e envolvimento da família, pois mesmo em vigência de tratamento
médico, os indivíduos podem e devem ter uma rotina de vida, ainda que diferente
da que se tinha antes do diagnóstico.
Foto por assessora de imprensa
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