Os melhores filmes vistos nos anos 60
Por Anchieta
Fernandes*
O cinema Rex, situado no espaço, à Av.
Rio Branco, onde hoje estão as lojas Insinuante e Express, teve uma bonita
história na vida cultural de Natal. Idealizado e concretizado por Enéas Reis e
Francisco Nogueira do Couto (Xixico, conhecido capitalista nos anos 30), ficou
como mais um cinema da empresa Rex, administradora também dos cinemas Rival (na
Ribeira), Royal Cinema (na Rua Ulisses Caldas) e cinema São Pedro (no bairro do Alecrim).
O Rex seria o primeiro cinema no Grande
Ponto, ao lado do prédio da representação da Cruz Vermelha na cidade. Sua
planta foi traçada pelo arquiteto Heitor Maia Filho e a construção do prédio
esteve sob a direção do engenheiro Omar O`Grady, que já havia sido prefeito de
Natal, criando o seu primeiro Plano Geral de Sistematização. O novo cinema foi
inaugurado a 18 de julho de 1936 com o divertimento musical “Melodias da
Broadway de 1936”, produção da Metro Goldwyn Mayer, enviada pela referida
companhia, por via aérea, especialmente para a inauguração da nova casa de
espetáculos cinematográficos de Natal.
Na tela do Rex, depois, foram
mostradas muitas obras-primas da Sétima Arte. Vejamos algumas, ou que pelo
menos se aproximam desta categoria, e que marcaram a década 60 do espectador
natalense no século passado com visuais e timbres qualitativos inesquecíveis,
além do humanismo dos enredos. Lembre-se, por exemplo, Um Rosto na Noite, filme
com o qual, em 1957, o diretor italiano Luchino Visconti antecipou-se a
Antonioni e sua trilogia famosa (“A Aventura”, “A Noite” e “O Eclipse”), com o
enfoque preciso de um fotógrafo sensível (como o Giuseppe Rotunno deste filme),
na beleza estética de um preto-e-branco a comunicar o trágico sentimento de
seres solitários. O filme estava em cartaz no Rex a 01 de maio de 1960.
Um ano depois, precisamente a 11 de
maio de 1961, o velho cinema trintenário dava de presente ao nosso espectador a
magia do filme de marionetes Velhas Lendas Tchecas. Realizado em 1953 pelo
mestre Jiri Trnka, consegue, com a linguagem de um verdadeiro cine-balé,
iluminar de forma bem criativa a história e o folclore de um povo, os filhos da
Tchecoslováquia.
Seguiu-se, em 1962, a exibição da
grande obra-prima da nouvelle vague, o filme que às vezes lidera listas dos
melhores filmes de todos os tempos (como aconteceu na escolha da crítica
cinematográfica, que em março/abril de 1980, pôs em primeiro lugar para o
suplemento cultural “Contexto”, do jornal “A República”, o referido filme):
Hiroshima, Meu Amor, realização de 1959 de Alain Resnais, e que estava em
cartaz no Rex a 06 de maio de 1962, trazendo uma revolução de linguagem
(planos-sequência, imagens trabalhadas em laboratório, junção de cenas em
incríveis visualizações de flashes de ao mesmo tempo memória e esquecimento,
documentários crus dos efeitos da bomba atômica sobre o cenário urbano e sobre
as pessoas) para formar um novo tipo de espectador.
Quando o Cine Clube Tirol criou as
sessões do Cinema de Arte, escolheu o Rex para nele serem exibidos os filmes,
começando com o ótimo Glória Feita de Sangue, do diretor Stanley Kubrick, de
1957 e em sessão de 16 de fevereiro de 1963. É uma forte denúncia do
carreirismo dos oficiais superiores durante a Primeira Guerra Mundial, que não
se pejam de contribuirem para o massacre dos seus soldados, contanto que a
honra deles, oficiais, não seja atingida.
Na seqüência, o cinema Rex mostrou
outro ótimo filme, de autoria não de um norte-americano mas de um brasileiro,
um dos criadores do movimento cinema novo. Trata-se de Deus e o Diabo na Terra
do Sol, de 1959, de Glauber Rocha, de teor revolucionário (em tema e
linguagem), visto em sessão de 04 de outubro de 1964. E a 28 de abril de 1965,
sendo exibido El Cid, bem realizado épico histórico, por Anthony Mann, em 1961.
Vieram, em seguida, a ser
apresentados no Rex, obras-primas inesquecíveis: Os Reis do Iê-Iê-Iê, de 1964,
de Richard Lester, exibido a 26 de janeiro de 1966; Sempre aos Domingos, de
1962, de Serge Bourguignon, exibido a 18 de julho de 1967; O Eclipse, de 1962,
de Michelangelo Antonioni, exibido a 03 de março de 1968; e O Fofoqueiro, de
1967, de Jerry Lewis, exibido a 18 de outubro de 1969.
O cinema Rex fechou as portas após
a sua última sessão, que foi na noite de 30 de julho de 1984, exibindo o filme
A Morte em Minhas Mãos, feito em Hong Kong pela dupla de irmãos Rumne e
Run-Run, da Show Brothers Company, sem um mínimo de qualidade, ao contrário do
que se pode deslumbrar em outro filme de caratê, O Tigre e o Dragão, do
consagrado diretor Ang Lee.
Foto p&b relacionada à divulgação/
Fachada Cine Rex
*Texto publicado na página do Jornal Zona Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário