Por Sidney
Caicó*
A educação é
poder. Ela está presente em todas as culturas mesmo que em algumas a escrita
não tenha sido desenvolvida. A educação perpassa os signos que servem para
representar seu significado, pois muito além de ser uma forma de ensinar as
gerações sobre seus costumes e ajudar a guardar a memória de seus antepassados,
é uma invenção que permite aos que a dominam multiplicar e disseminar através
dos ensinamentos o que
realmente é
considerado mais importante.
Mas o que é
realmente mais importante na educação? Quem escolhe o que devemos aprender e
ensinar? Como a educação é pensada e por quem é pensada? Quando existem
mudanças na educação também existem mudanças significavas nas relações sócias e
tais mudanças interessam a todas as pessoas em uma sociedade? Estas reflexão é
um chamado do Antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, em seu texto “O que é
educação” (?); também afirma: “Ninguém escapa da educação”. (Esse texto será
notado nas citações). A educação é necessária para que as pessoas convivam em sociedade.
É através da educação que uma civilização perpetua sua existência, consolida
sua cultura e passei pela história. A educação é poder e sua força é demonstrada
através do desequilíbrio existente entre as camadas da sociedade, na dinâmica
existente entre formas de produções que são exercidas pela elaboração do
conhecimento. Seja no trabalho, nos meios de produções e comunicações, no
comércio, nas relações existentes entre pessoas e entre o meio, a educação é um
poder que revela diferenças.
A educação
proporciona ao ser humano discernir sua participação no mundo e a pensar sobre
sua evolução. A educação é praticada no cerne da sociedade humana e não é um instrumento
utilizado para perpetuar a espécime, mas sim um meio pelo qual o ser humano toma
posse da sua própria evolução. Sua evolução é possível devido sua “dupla
estrutura corpórea e espiritual”, dando-lhe condições especiais para sua
manutenção e transmissão que lhe é particular e as “organizações físicas e
espirituais”, aos seus conjuntos que chamamos de educação. Um fim consciente:
aprender, ensinar e evoluir. Através do trabalho, e nas trocas das relações
sócias o homem torna-se aprendiz de si mesmo e no interior de suas culturas aprende
a “aprender-ensinar-e-aprender”, aprende educar, inventa a educação.
Os
antropólogos ao fazerem observações sobre as tribos mais primitivas entendem que
os processos sociais de aprendizagem existem; independente de uma estrutura institucional
ou escolar. A sabedoria acumulada pelo grupo é repassada aos mais jovens que aprendem
com a prática. O conceito de educação é nos estudos substituído por
aprendizagem; os antropólogos “pouco querem falar de processos formalizados de
ensino.” As situações pedagógicas observadas nos “grupos humanos mais simples”
são guias para evolução dos indivíduos. “As formas vivas e comunitárias” de
“ensinar-e-aprender” que as conhecemos como socialização realiza em todas as
pessoas que estão inseridas nos “projetos da sociedade”, sendo o que precisam
para serem reconhecidas como parte do grupo ou da comunidade.
Nesse
processo de aprendizagem nos grupos com culturas mais primitivas a experiência
mais livre da educação ocorre na proliferação da “endoculturação”. A “endoculturação”
é o processo de situação pedagógico e total que orienta a formação do adulto no
“interior de todos os contextos sociais coletivos”. Esse processo de aquisição pessoal
de saber “crença-e-hábito” de uma cultura funciona como uma situação pedagógica
atuando sobre o educando. “A educação é uma fração da experiência
endoculturativa” e está presente na relação entre as pessoas que
intencionalmente estão na lenta transformação que opera a aquisição do saber.
O
“ensinar-e-aprender nas relações entre as pessoas constituem a enduculturação.
A socialização dos membros de uma sociedade em tipos de sujeitos sociais é realizada
através de um outro grupo social. No processo
vivenciado o educador imagina servir a um propósito mais elevado que é o de
repassar os conhecimentos e que através do saber as pessoas modifiquem o meio; sendo
assim melhor para todos. É fato que o educador em sua sociedade, por vezes,
reproduz o conhecimento que é produzido, modificado e delimitado por grupos que
exercem o poder sobre outros. Quando o educar não dobra o conhecimento sobre o
próprio conhecimento e não consegue refletir sobre os diversos motivos que o
levam a educar, pode deixar de detectar que a educação estar impregnada por
ideologias que servem como meio de dominação e perpetuação de poder. No momento
que as pessoas começam a dividir os bens produzidos pelo trabalho, começa a
dividir o poder, gerar hierarquias sociais, também o conhecimento é restrito
para alguns e passa a ser empregado como meio de dominação, passando a ser uso
de políticas que reforçam as diferenças. “[...]
A educação
escolar é uma invenção recente na história das sociedades primitivas que nos
acompanharam até aqui, a educação escolar que ajuda a separar o nobre do plebeu
parece ser um ponto terminal na escala de invenção dos recursos humanos de
transferência do saber de uma geração a outra. Também nas sociedades ocidentais
como a nossa - sociedades complexas, sociedades de classes, sociedades capitalistas
[...]”
A escola é
uma grande invenção que surge nesse contexto e o saber é selecionado por
categorias para diferentes categorias de sujeitos. O ser humano é identificado
conforme a atividade que desempenha no sistema político de relações do grupo.
Desde seu surgimento a escola surge para formação dos jovens em adultos que
irão desempenhar suas funções de acordo com a divisão do trabalho e de acordo
com suas origens sociais irão estar em cargos considerados mais nobres. Quanto
mais pobre mais trabalho e menos conhecimento, quanto mais ricos mais
conhecimentos e menos trabalhos. “[...] “Citação de Sólon, legislador grego: ‘As
crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres
devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os
ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia,
à caça e à frequência aos ginásios’.[...]"
*Sidney Caicó é escritor autor de O tesouro de Sant’Ana e acadêmico de
Psicologia na UFRN
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