Texto
Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra*
Não vem mais
o trem de ferro, comendo o espaço com fumaça esbaforida de sua chaminé
ambulante, trazendo carga, puxando gente, comendo léguas no leva e traz da vida
e das coisas que se precisa. Seu sossego é temporário e se chama estação. É ali
que, para embarque e desembarque, se vê a vida, nos abraços de despedida, na
alegria da chegada.
Só ele, trem
máquina, sabe que a vida é uma plataforma, tem sempre gente que chega, gente
que parte, certo de que tudo flui e nada perecerá, por isso silencia, se
acalma, sossega o sopro quando para. Nesse caminho, de ponto em ponto,
serpenteia pela sua estrada de ferro, caminho único e traçado que o leva sempre
ao mesmo destino provisório e temporário, o espaço da estação. Entre apitos
assinalados de seu movimento, uma parada numa pequena cidade foi seu pouso,
Papary, que não se chamava município de Nísia Floresta/RN, a augusta educadora
brasileira, e guardou a estação no tempo da memória.
O estilo
antigo do prédio é de 1881, de um Brasil ainda escravo, monarquista e à beira
de mudar tudo isso para abolicionista e republicano. Por ela todo esse
movimento se passou no meio do canavial que a cerca de verde e preserva o
silêncio que hoje conserva como a estrutura da estação, dizem que projeto e
execução de engenheiros ingleses por encomenda do presidente da província, tudo
parte de um plano de ligar o país por ferrovias e de se desenvolver o estado
por estradas de ferro.
Alvenaria e
tijolo desenharam uma construção de sabor neoclássico e com arcos, frontão
triangular com óculo, platibandas, portas frontais, duas maiores e outras
menores, e janelas, cobertura de quatro águas, patrimônio histórico tombado e
restaurado nos detalhes, o piso é o mesmo, a cor amarela, que brilha no
canavial e a caixa d’água de ferro, que rasga o céu plano, própria para
abastecer as locomotivas. O trânsito que se mantém depois de desativada, um
século depois, é para o restaurante, que lá funciona com mesas sobre os trilhos
e comida regional.
*Com post na página do IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do RN.
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