DA CHUVA QUE SE ESPERA CHEGAR
Por Fernando
Antonio Bezerra*
Os dias até
que vinham caminhando com certo otimismo em relação ao inverno de 2017, mas na
semana passada uma certa apreensão tomou corpo, sobretudo, pela previsão da
meteorologia para os próximos meses: “a persistência de águas superficiais
anomalamente aquecidas no Atlântico Tropical Norte, no decorrer do próximo
trimestre (DJF/2017), como previsto pela maioria dos modelos de previsão
climática sazonal, favorece a continuidade da condição de déficit pluviométrico
no norte da Região Nordeste, nos meses da pré-estação chuvosa” (Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, Cptec - INPE).
A reza, até
dias atrás, chamava o La Niña para o Nordeste. O fenômeno “La Niña
caracteriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano
Pacífico Tropical.” Nos anos de ocorrência mais forte do dito fenômeno o efeito
de chuvas é benéfico para o Nordeste, como 1988, 1989, 2007 e 2008. O “El
Niño”, por sua vez, não favorece as chuvas por aqui. A análise científica diz
que o “El Niño” está descartado, mas as chuvas ainda não estão confirmadas para
o inverno de 17.
Não sei o
que andam dizendo os Profetas populares... Espero que tenham melhores notícias.
Observam sinais da natureza e os associam ao inverno. São experiências de
várias gerações transmitidas pela oralidade e pelo gosto das coisas do sertão.
Um ou outro pesquisador se animou a sistematizar. Na prateleira da internet tem
algumas lições sobre o tema. A pesquisadora Neusiene Medeiros da Silva, por
exemplo, sistematizou, em sua dissertação de Pós-Graduação na UFRN um dos mais
objetivos resumos sobre o tema.
Quem estuda
igualmente o assunto é Arysson Soares, pesquisador e genealogista radicado em
Timbaúba dos Batistas. Neusiene conta, dentre outras experiências, que se a
Rolinha fizer ninhos; “pôr muito; fazer seu ninho sobre as plantas”, é sinal de
bom inverno. Assim também quando as formigas saem do porão (de dentro) do açude
para a parede (local mais alto). Esta experiência já presenciei anos atrás. É
bastante visível a saída e o indício de que estão prevenindo uma inundação no
local.
Também é
sinal de bom inverno, segundo o relato encontrado, se o Caboré cantar durante a
noite; “quando o Pau D’Arco flora e segura sua carregação nos meses de Setembro
até Novembro”; se chover nos dias 08 (dia de Nossa Senhora da Conceição), 09 a
12 de dezembro, além do conhecido 19 de março, última grande esperança do sertanejo.
Ademais, o
olhar da maioria se volta para o horizonte em buscas de relâmpagos no Ceará; a
posição do vento no final do ano e as notícias de chuvas no Piauí, fora outras
tantas experiências que historicamente são feitas ou observadas, inclusive,
como amanhece a maré do Oceano Atlântico em Natal no dia 01 de janeiro e como
anda a temperatura das poucas águas dos açudes da Região.
Evidentemente
que a tecnologia aperfeiçoou e os institutos de meteorologia conseguem melhor
precisão a cada ano. O semiárido nordestino, em especial, é uma das regiões
mais estudadas no mundo. Mas, também os Profetas populares são imprescindíveis.
São eles que observam com melhor atenção o que fala a natureza, conseguem
interpretar reações, mesmo com os sinais mudando... Ora, o homem mexeu muito
com a natureza e alguns sinais confiáveis de outrora desapareceram ou não
conseguem refletir as mesmas informações.
De todo
modo, vindo a informação de onde vier, precisamos de notícias mais animadoras
em relação a um inverno generoso e restaurador. A situação é crítica e não é de
hoje o aviso. Desde 2012 nos foi dito que o período seria de grave estiagem.
Governo e sociedade, com o devido respeito, poderiam ter adotado medidas mais
ousadas de economia, educação, tecnologia e infraestrutura hídrica. Agora, o
problema é muito grave! Falta água no Seridó e perto dele. Mesmo querendo ir
buscar, as alternativas são
poucas. A
seca é em todo o Nordeste.
Assim sendo,
sem prejuízo de outras medidas que devem ser adotadas, quem é de reza, persevere.
A força divina, com o nome que tenha sua crença, tudo pode e, a exemplo de
outros momentos da história, ouvirá o clamor de misericórdia: precisamos de
água; precisamos de vida!
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página Bar de Ferreirnha
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