*Fernando
Antonio Bezerra
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Júlia Medeiros exercendo o direito
de voto,em Caicó
|
Na semana
que lembra os direitos da mulher e destaca seu protagonismo político e social,
recordo, deste canto de página, a boa fibra da mulher seridoense, algumas das
quais que assumiram postos de liderança e escreveram, com merecido destaque,
seus nomes na história.
A primeira
delas, certamente, é Júlia Augusta de Medeiros, nascida no Caicó de todos nós,
na Fazenda Umari, no dia 28 de agosto de 1896, filha de Antonio Cesino de
Medeiros e Ana Célia Amélia de Medeiros. Júlia Medeiros é uma das mais
importantes personalidades da história de Caicó. Adauto Guerra Filho,
pesquisador e escritor, chega a afirmar que ela é a mulher mais importante da
história de Caicó. Júlia Medeiros foi professora e, sendo excelente oradora,
era chamada para fazer saudações a autoridades e a falar em público em ocasiões
festivas da cidade. Foi a primeira mulher a dirigir um automóvel em Caicó;
também a primeira conterrânea a viajar de avião e a pioneira a votar no Seridó.
Para que o voto feminino se consolidasse como um direito foi preciso uma luta
de anos. A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi uma das
instituições nacionais que se destacaram nesta luta. Sua Presidente, Bertha
Lutz, visitou Caicó e estabeleceu com Júlia Medeiros uma posterior comunicação
por cartas sobre temas de interesse da luta feminista daquela época. Júlia
também foi, anos depois, a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Câmara
Municipal de Caicó (1951-1954 e 1954-1958).
Sobre o voto
feminino, é necessário – fazendo justiça - destacar a sensibilidade e o apoio
que a causa teve dos seridoenses José Augusto Bezerra de Medeiros e Juvenal
Lamartine de Faria.
No Seridó,
ainda sobre o tema, a primeira inscrita como eleitora é de Acari. Segundo
pesquisa de Rostand Medeiros no sempre consultado sítio eletrônico
www.tokdehistoria.com.br, “a professora Marta Maria de Medeiros, de 24 anos,
nascida e morando na Fazenda Rajada, filha do fazendeiro e coronel nomeado da
Guarda Nacional Joaquim Paulino de Medeiros e da senhora Maria Florentina de
Medeiros (conhecida como Dona Maricota), buscava junto ao Juiz da cidade, João
Francisco Dantas Sales, o seu alistamento eleitoral, pois preenchia todas as
condições para a inscrição. A decisão do juiz Sales, ante o pedido da
professora, foi publicada oficialmente no dia 10 de dezembro de 1927,
tornando-a a quarta eleitora do Rio Grande do Norte e a primeira da região do
Seridó.” A primeira eleitora no Estado do Rio Grande do Norte é de Mossoró.
Foi, aliás, “a primeira mulher oficialmente alistada e a primeira a receber um
título eleitoral na América do Sul”: professora Celina Guimarães Vianna (Diário
Oficial, em 25 de novembro 1927).
Não foi uma
luta fácil. Os primeiros votos foram, inclusive, questionados. Em 1929,
contudo, uma primeira mulher foi eleita. Em Lages-RN, Alzira Soriano se elegeu
Prefeita, sendo a primeira mulher a ocupar tal cargo no Brasil. No Seridó
demorou um pouco mais a termos Prefeitas. Florânia foi a primeira cidade do
Seridó a ter uma Prefeita: Possidônia Medeiros (Santa Laurentino). Jardim de
Piranhas (Daura Saldanha) e Jardim do Seridó (Maria José de Medeiros) foram as
seguintes. Mas os Municípios de Acari, Ipueira, Equador e Ouro Branco também já
elegeram mulheres para o mais destacado cargo do Executivo local.
É consenso
que o espaço político vai se ampliando, sobretudo pela atuação eficaz de muitas
mulheres nas Câmaras e Secretarias Municiais, porém muito se deve as pioneiras,
nem tanto lembradas como mereciam. E, mesmo não citando o nome de todas, espero
ter provocado a lembrança e a homenagem as que não foram citadas.
Quanto a
Assembleia Legislativa, a primeira mulher Deputada Estadual no Rio Grande do
Norte é uma conterrânea seridoense de Currais Novos. Trata-se de Maria do Céu
Pereira Fernandes, eleita em 1934. Depois de Maria do Céu, recordo somente
outras duas seridoenses na Assembleia Legislativa: Monica Nóbrega Dantas e
Ivonete Dantas. Teríamos tido mais alguma?
Monica
Nóbrega Dantas, acariense, nascida em 1915, no dia 5 de maio e falecida em 18
de julho de 2000, foi Deputada Estadual por dois mandatos e Prefeita de Macaíba
também por duas vezes. Ela era casada com Francisco Seráfico Dantas, empresário
e agropecuarista que também foi Deputado Estadual e Prefeito de Acari. Ivonete
Dantas, por sua vez, é caicoense, nascida em 16 de agosto de 1959. Foi Deputada
Estadual por um mandato, eleita em 1994. Foi, também, Suplente de Senador,
chegando a assumir o mandato por alguns períodos até concluir, como titular, a
legislatura passada (2014-2015).
Com raízes
no Seridó, duas deputadas federais já se elegeram: Wilma de Faria (1986) e
Zenaide Maia (2014). Aliás, Wilma de Faria, inclusive, chegou ao Governo do
Estado por duas vezes (2002 e 2006). Levam consigo a poeira do Seridó que
contagia e nos cobra a fazer bem feito. Como declarou, certa vez, o poeta Diógenes
da Cunha Lima, ex-reitor da UFRN: "o Seridó é uma civilização solidária.
Região desfavorecida pelo clima, nuvens e chão; é beneficiada pelo homem, sua
vontade, sua decisão. E pelas bênçãos de Deus".
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página do Blog
Bar de Ferreiriha.
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