Bárbara
Heliodora, quem diria, tinha uma frustração relativa ao Rio Grande do Norte.*
Nos anos 40, Câmara Cascudo
deu ao pai dela uma coleção de textos de peças, algumas em italiano,
integrantes do repertório teatral que, até os anos 60, os circos que perambulavam
pelo interior do Nordeste apresentavam como segunda parte do espetáculo diário.
A coleção representava
um tipo de "elo perdido" entre a tradição teatral européia e os
circos brasileiros. Muitos deles nasceram pelas mãos de ciganos europeus, ou migrantes
italianos, como o famoso Nerino,
Quem viveu em alguma
cidade do interior do Brasil até os anos 60 deve lembrar-se de A louca do
jardim, ou da Paixão de Cristo, peças icônicas do teatro circense.
Eram de peças como essas
a coleção doada por Cascudo à mais importante crítica teatral brasileira. Foi vendo-a
que Bárbara Heliodora cresceu.
Só que, em algum maldito
momento, talvez em meio a alguma mudança, a coleção se perdeu, para tristeza e
frustração de Bárbara que, de sobrepeso, ainda se lamentava de não ter
conhecido Cascudo pessoalmente.
Bom, essa história quem
contou foi a própria Bárbara Heliodora, a mim e à repórter Sheyla Azevedo, em
2000, quando participávamos de um seminário em São Paulo. Mal tomamos uma mesa
para o café, e aproximou-se aquela senhora alta e magra, com ar distinto e
marcante.
- Posso sentar com
vocês? Não gosto de tomar café sozinha.
Perguntou os nossos
nomes e nos apresentamos, muito prazer, somos de Natal.
Ela apresentou-se, sou Bárbara
Heliodora, e uma alegria me percorreu a alma: estava diante da jornalista cujos
textos n’O Globo tanto apreciava, mais pelo estilo, pois talvez nunca tenha
assistido a sequer uma das peças de que ela fazia a crítica. E nem tinha tanto
interesse assim pelo teatro, lia pelo estilo e riqueza dos escritos.
E agora ela estava ali, Bárbara
Heliodora.
E ao saber que éramos de
Natal, tomou o fato como uma madeleine e nos contou essa história.
*Jornalista Osair
Vasconcelos, em sua página no Facebook
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