Um homem à frente de seu tempo
Por Fernando Antonio
Bezerra*
Fui aluno do Educandário
Santa Teresinha nos anos 80 e, por vezes, encontrei um homem idoso, bastante
sereno sendo hóspede das freiras do Amor Divino em Caicó. Era Dom José de
Medeiros Delgado que regressava algumas vezes para pregar retiros, momentos de
formação e lançar livros. Sabia que se tratava de Dom Delgado, mas,
confesso-lhes, não conhecia, naquela época, a dimensão histórica e a
extraordinária obra religiosa e social daquele que foi o primeiro Bispo da
Diocese de Caicó.
Dom José de Medeiros
Delgado, apesar de laços familiares no Seridó, nasceu na Paraíba, em 28 de
julho de 1905, na zona rural do Município de Pombal, atualmente Município de
Malta–PB. Era filho de Manoel Porfírio Delgado e Francisca de Medeiros Delgado.
Foi ordenado sacerdote no dia 2 de junho de 1929 e empossado como Bispo da
Diocese de Caicó em 26 de julho de 1941.
Foi um grande
construtor. Estruturou não apenas a Diocese, mas fixou obras para a edificação
humana. Foi um peregrino ao sair pelas fazendas em busca de donativos. Construiu
amizades, inclusive, com líderes do protestantismo, algo difícil para aquele
tempo.
Em Caicó, seu episcopado
foi de 1941 a 1951. Em seguida, foi nomeado Arcebispo de São Luis-MA e por lá
ficou de 1951 a 1963 quando foi transferido para a Arquidiocese de
Fortaleza-CE, onde permaneceu até 1973. Mesmo sendo Arcebispo Emérito de
Fortaleza preferiu residir em Recife-PE e escolheu a Matriz de São José, antiga
Capela do Seminário Santa Cura D’Ars, em Caicó, para abrigar seu túmulo.
Dom Delgado, como assim
foi chamado ao longo de seu pastoreio, faleceu no dia 8 de março de 1988. Foi,
seguramente, um dos maiores líderes da Igreja Católica no Brasil, inclusive, um
dos fundadores da CNBB. Ainda hoje é lembrado por seu protagonismo social e
pela firmeza de suas posições.
Dom Delgado não foi
apenas o fundador do Ginásio Diocesano Seridoense, Seminário Santo Cura D'Ars,
Escola Prevocacional de Caicó e a Escola Doméstica Popular Darcy Vargas. Já
seria muito, mas ele fez mais! Dom Delgado, seguramente, é o maior construtor
de escolas da história do Seridó.
A Professora Paula Sônia
de Brito (UFRN), em trabalho de pós-graduação, elencou a gigantesca obra de Dom
Delgado no Seridó: “Escola dos Pobres São Vicente de Paulo (Jucurutu); Escola
Diocesana Seridoense (Jardim de Piranhas); Escola Pio X (Florânia); Escola de
Menores Tomaz Sebastião (Acari); Escola Nossa Senhora das Vitórias (Carnaúba
dos Dantas); Escola Nossa Senhora dos Remédios (Cruzeta); Escola Divino
Espírito Santo (Ouro Branco); Escola Paroquial São José (São José do Seridó);
Escola Rural Jardim Seridoense (Jardim do Seridó); Escola Rural Lagoanovense
(Lagoa Nova); Escola Rural Serranegrense (Serra Negra do Norte); Escola Rural
Santa Teresinha (São João do Sabugi).” Mesmo hoje, com as facilidades
contemporâneas, dificilmente, no mesmo período, alguém faria tanto!
Onde passou edificou
obras relevantes e teve uma destacada atuação. Em São Luis, por exemplo, foi um
dos fundadores da Faculdade de Filosofia que logo se transformou no embrião da
Universidade Federal do Maranhão. Em Fortaleza, dentre outros, reabriu o
Seminário Regional Nordeste I; fundou o Centro de Treinamento Frederico Ponte,
em Pacatuba; revitalizou o Banco Popular de Fortaleza. Foi, por onde passou,
administrador competente, pastor dedicado, pregador coerente e corajoso
defensor da Igreja.
Escolheu o Seridó a
terra mais amada para, nela, repousar seus restos mortais e, por ela, pela
crença dos mais crentes, continuar intercedendo pelo que, em vida, conseguiu
milagrosamente edificar. Dom Delgado foi, decisivamente, um homem à frente de
seu tempo. Merece mais homenagens!
*Fernando Antonio Bezerra é seridoense de Caicó
- Com post na página do Bar de
Ferreirinha
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