Por Salete Pimenta Tavares
“O Padre é bom de urna”. Esta é uma frase que
ficou famosa, na vida pública do sacerdote, poeta, político e ex-governador do
Estado do Rio Grande do Norte, Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel. Antes de
entrar para a vida pública e antes de ser ordenado sacerdote (ordenação esta
realizada no dia 25 de outubro de 1931, em Roma), ele já havia recebido o grau
de doutor em Direito Canônico e colou grau em Filosofia (1928) e depois de
ordenado o grau de Teologia (1932) na Universidade Pontifícia Gregoriana de
Roma.
Chegando ao Brasil,
entre as suas inúmeras funções religiosas, foi Capelão do Hospital das Clínicas
e do Orfanato Padre João Maria em Natal, professor, Vice-Reitor e Reitor do
Seminário São Pedro em Natal, Vigário de Acari e da Diocese de Caicó, e teve a
honra de exercer a função de camareiro do Santo Padre Pio XII, no ano de 1955.
(v: livro “400 nomes de Natal” – Coordenação Editorial Rejane Cardoso –
Prefeitura Municipal de Natal – Ano 2000).
Antes, também, de ser
eleito para exercer as funções do Executivo no Estado, já tinha sido eleito
Deputado Federal em 1945, Senador da República em 1962 e Vice Governador do
considerado grande líder político do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves. Nas
eleições para 1965, foi eleito Governador do Estado, tendo como vice-governador
Clóvis Mota.
Apesar de uma campanha
acirrada, onde a preferência parecia ser para o candidato da oposição, Dinarte
Mariz, com o seu Slogan “O Velho Tinha Razão”, a “Cruzada da Esperança”, como
era conhecido o Slogan do Partido de Aluísio Alves, foi mais forte e Monsenhor
Walfredo venceu as eleições. Tomou posse na tarde do dia 31 de janeiro de 1965.
Sempre se comportou como um diplomata, recebendo correligionários e adversários
da mesma maneira e nunca se ouviu falar em perseguição no seu governo.
Monsenhor Walfredo era
considerado o continuador das metas do ex-governador Aluísio Alves. No entanto,
na sua administração não pode realizar grandes empreendimentos, pois uma das
suas maiores preocupações era resolver os problemas financeiros deixados pelo
seu antecessor Aluisio Alves. (v: livro “Da Brejeira ao Rabo de Palha – Uma
História dos Governos do Rio Grande do Norte”, de José Ayrton de Lima – Natal –
1986).
Mesmo assim ainda
realizou obras importantes como o Hospital Pronto Socorro de Natal, hoje
denominado Hospital Walfredo Gurgel; uma nova ponte de concreto armado,
substituindo a antiga ponte de ferro de Igapó; construiu e recuperou milhares
de escolas e estradas; implantou asfalto em várias rodovias do Estado;
recuperou prédios da Polícia Militar e ainda adquiriu novas viaturas.
Com a Revolução de 31 de
março de 1964, encerrava-se com Monsenhor Walfredo Gurgel, a administração de
governadores eleitos e iniciava-se o período de governadores indicados. O
Comando Revolucionário recebia e analisava os currículos e a vida pública dos
indicados e com o aval da Presidência da República os candidatos eram nomeados.
O primeiro governador nomeado para o Estado do Rio Grande do Norte foi Cortez
Pereira, nomeação esta feita pelo o então Presidente da República, General
Garrastazu Médici.
Depois do governo Cortez
Pereira, veio a indicação e nomeação do Dr. Tarcisio Vasconcelos Maia, que já
havia assumido o cargo de Secretário de Educação e Cultura do Estado no Governo
de Dinarte Mariz e participado da criação da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Após o governo do Dr. Tarcisio Maia, outro médico foi indicado para
governar o Estado, o Dr. Lavoisier Maia.
Outros padres também
governaram, individual ou coletivamente, o Estado antes de Monsenhor Walfredo.
Participavam de Juntas como a Junta Constitucional Provisória cujo Padre,
Francisco Antonio Lumechi de Melo, governou o Estado de 03/12/1821 a 07 / 02
/1822. Outro que governou o Estado foi o Padre Manuel Pinto de Castro,
Presidente da Junta de Governo Provisório, que foi constituída e empossada a
18/03/1822 e governou até 24/01/1824; da mesma Junta participou o Padre João
Francisco Fernandes Pimenta. O Padre Manuel Pinto de Castro governou ainda como
membro do Conselho de Governo: de 04 a 24/09/1832 e de 08/10/1832 a 23/01/1833.
Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes, 6º Vice-Presidente da Província, governou
de 29/07 a 06/08/1868. Monsenhor João da Mata Paiva, como Presidente da
Assembléia Legislativa assumiu o governo, na ausência do Governador Rafael
Fernandes Gurjão, governando de 13/06 a 02/08/1936.
O Monsenhor Walfredo
Gurgel foi, portanto, o único padre que
governou o Estado por eleição direta do voto popular, e não por participar de
órgãos coletivos.
- Com post na página online
do Jornal Zona Sul (em Natal)
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