Walter Medeiros*
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Imenso Céu de colorido
bíblico – aquele colorido encantador das fotos que vemos nas revistas
religiosas – um vento frio agradável das seis horas da manhã, muitas nuvens
carregadas, grandes poças d’água resultante da chuva da madrugada, flores
brilhando em suas mais belas tonalidades, o perfume de rosas que vem de vários
lugares, pássaros cantando felizes com o sinal de inverno em pleno verão, assim
caminhamos pelo calçadão numa manhã de quarta-feira. Ao longo de toda caminhada
tem também dezenas de gatos desgarrados e sem donos que povoam o pé da cerca do
belo Parque das Dunas, em Natal.
Na caminhada, gente de
todas as idades, todos os tipos, alegres, felizes, sérios, carrancudos, uns
andam, uns se arrastam, outros correm, alguns vão de bicicleta, todos preocupados
com a saúde ou com a aparência. Os cardiologistas mandam criar esses hábitos,
para evitar surpresas desagradáveis ao funcionamento do coração, cada um de
acordo com o seu estado. E no passo a passo sempre surgem as conversas e
relatos de experiências que tiveram, sustos que passaram, verdades que
encontraram vida afora.
Refletindo sobre a vida,
que está diretamente relacionada com o nosso tempo, procuro em cada passo algo
inesquecível que justifique um valor para aquele momento. Ou seja, dali a
minutos, horas, dias, anos, o que terei para dizer exatamente dessa caminhada
de hoje, para que ela tenha valido à pena, para que a vida tenha significado,
para que me sinta alguém. Se chove, aquela água me marca para sempre; se faz
sol, o calor tem de ficar na memória; como ficaram na memória tantos momentos
da vida.
Um amigo aproxima-se no
mesmo rumo, porém com passos mais apressados e diminui instantaneamente o ritmo
para perguntar como estou me sentindo com as caminhadas matinais. Digo-lhe que
o resultado já está aparecendo e ele conta também sua experiência de diabético.
Faz-me lembrar outro amigo de trabalho que há uns 25 anos teve um problema
cardíaco e precisava emagrecer. Emagreceu somente com caminhadas e aquilo ficou
fortemente na nossa lembrança. Aí veio a relação médico x paciente na história.
Costumo lembrar que o
termo “paciente” surgiu no tempo em que hospital era um lugar que recebiam as
pessoas prá morrer. As doenças não tinham remédio nem terapias à altura eram
ainda utilizadas e existia um clima de resignação. Era, então, uma questão de
paciência esperar a morte. Mas o termo foi sendo usado através do tempo e mesmo
que consiga tratamento e cura das doenças, as pessoas são chamadas de
pacientes. Menos pelas doenças, mas pelo estado dos serviços de saúde, tanto
públicos como privados, o termo paciente finda sendo cabível e adequado; é o
jeito.
Naquela rápida troca de
experiência no calçadão, sem impedir os passos de cada um, lembrei que a
caminhada tem efeito da mesma forma que a auto-hemoterapia, um estimulante
natural do sistema imunológico, conforme explica o Dr. Luiz Moura. A natureza
faz sua parte, garantindo a saúde e mostrando que os medicamentos às vezes são
receitados mesmo sem as pessoas precisarem. É das doenças que vivem os laboratórios.
Mas aquele meu amigo
explica imediatamente: “tenho diabetes e somente com caminhada deixei de
precisar dos remédios”. Assim ele evita intoxicação para o organismo. Digo-lhe,
então, que esses remédios de farmácia, quando se vê os efeitos colaterais dá
medo. Ouvia atentamente, e ele rapidamente continuou: “meu médico, vez por
outra me diz que tem um remédio novo, que eu devia experimentar, mas eu digo
que vou continuar caminhando”. Aproveita prá dizer uma frase interessante sobre
a caminhada: “isso é um remédio; é o meu remédio”.
*Jornalista
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