Por Jomar Morais*
Ah, essa hiperatividade
que nos rouba a vida!
Pare e respire.
Provavelmente você não
deu atenção ao meu apelo e já está aqui, correndo a linha dessa frase. Tudo
bem, vou pedir de novo. Pare e respire, de verdade. Respire cinco vezes, suave
e profundamente, e então retorne ao nosso bate-papo.
Se desta vez você
conseguiu, aposto que está se perguntando: mas o que ele quer dizer, quer fazer
com isso? Uma sessão de meditação “on paper”? Uma digressão filosófica? Uma
gracinha sem graça?
Homem! (ou mulher!),
pare com isso. Pare com essa sofreguidão por fórmulas e coisas explicadas.
Mudando de assunto.
Dizem que, num momento de mau humor, o jovem Mark Zuckerberg, fundador do
Facebook, profetizou que os brasileiros iriam acabar com a sua gigantesca rede
social. O cara, que imaginou um sistema de trocas de amenidades e coisas sérias
baseado na palavra, estaria irritado com a explosão de fotos e de todo tipo de
piruetas visuais que os brasileiros utilizam para mandar o seu recado na rede,
muitas vezes sem uma única legenda que expresse um pensamento, algo abstrato ou
introspectivo.
Teria sido assim que os
brasileiros ajudaram a matar e a enterrar o Orkut? Não sei. Mas acho que, a ser
verdade a irritação de Zuckerberg, ela tem lá seus motivos. No próprio Face
costumo encontrar posts de usuários implorando que alguém leia suas mal
traçadas e já circulam até “testes” nos quais um post sem imagens desafia os
usuários a lerem algo sem uma fotinha, uma charge, um desenho...
O que eu me pergunto é
se o exagero constatado por Zuckerberg tem a ver, como dizem os
preconceituosos, apenas com o alto índice de semi-analfabetismo e a ausência de
hábito de leitura entre nós. Acho que não.
O que nos faz saltar os
posts de textos solitários é que eles nos pedem tempo e concentração – e isso é
coisa da qual estamos cada vez mais desacostumados. Andamos a mil, na ânsia de
vivenciar (de curtir, para usar o jargão do Face) todos os eventos, todas as
pessoas, todas as ofertas e uma imagem - que pode ser apreendida, ainda que
superficialmente, num único movimento dos olhos -, atende melhor a essa nossa
“necessidade”.
Você já percebeu como os
blocos das novelas estão cada vez mais curtos e os diálogos cada vez mais
rápidos? Pois é, os produtores sabem que o telespectador comum já não consegue
ficar mais que 8 minutos concentrado numa história. É preciso intervalos mais
frequentes para acompanhar o ritmo frenético do controle remoto, aquele que nos
dá a ilusão de acompanhar tudo ao mesmo tempo.
E os jovens na balada?
Aquela ansiedade por beijar muitas bocas enquanto a cabeça voa para a balada
seguinte?
E os maduros, nós
mesmos, preocupados sobre como será o retorno antes mesmo de iniciar a viagem?
Ah, essa hiperatividade
que nos rouba a vida... O espaço da coluna, irônico, já me pede: pare e
respire! Que correria é o final de ano, né?
*jornalista e editor do Planeta Jota [Texto publicado na edição do Novo Jornal de
17/12/2013]
Nenhum comentário:
Postar um comentário