Por Albimar Furtado*
Jornalista
▶ albimar@superig.com.br
Sentir-se fora de moda. Duplamente fora de moda. Foi
assim que me vi numa tarde de sábado deste novembro que está meando. Primeiro,
fui fazer uma visita a parentes que há muito não via. Você, amigo, lembra que
as pessoas, as famílias se visitavam? E que até retribuíam ou, como era comum
dizer, “pagavam” as visitas? Fiz a visita porque desejei fazê-la sem esperar
“pagamento”.
Deu vontade, saudade, talvez necessidade de rever
pessoas queridas. Ao comentar depois a visita descobri, na cara de espanto do
amigo com quem conversava, que usara uma
palavra absolutamente démodé. E vejam só, acabei de escrever uma palavra
igualmente fora de moda. A expressão do amigo foi acompanhada da interrogação,
quase soletrada: V-I-S-I-T-A? Interrompi o assunto. Imagine se eu contasse,
como desejava, que tinha visto um álbum de fotografias decorando a mesa central
da sala. Não me atrevi mais. Mas eu vi e gostei de ter visto, menos pelo apego
ao passado e mais por conter ali, naquele caderno de capa dura, o registro da
história de pessoas simples, humildes e de lugares que tiveram seus cenários transformados
por novas construções ou traçados.
É curioso rever e perceber as mudanças contundentes
que o tempo vai imprimindo nos homens, nas mulheres e nos lugares. Na visita
que fiz vi o álbum e não me contive. Tomei-o nas mãos e passei a folhea-lo. Uma
quase árvore genealógica: avós, pais, tios, filhos, sobrinhos, agregados, além
de amigos, claro. E chama a atenção a qualidade das fotografias, grande parte
em preto e branco, ainda nítidas, algumas emolduradas em papéis grossos e
trabalhados, realçando mais as imagens. Retratavam casamentos, primeira
comunhão, passeios na praça, a família à frente da casa e, junto a todos, o
cachorro, daqueles vira-lata mesmo, de pelos todos brancos.
Chamava atenção, ainda, a elegância das pessoas,
homens e mulheres. Elas, vestidos sempre compridos, os sapatos invariavelmente
altos, algumas com chapéus. Eles, com paletós, jaquetões, sapatos bico finos.
Os ambientes das fotos individuais eram muito semelhantes, parecendo fotos
feitas em estúdios.
Tudo bem distribuído nas páginas do álbum,
repousando nas velhas cantoneiras que, coladas às páginas, prendiam as
fotografias em suas quatro quinas. Coisa meio mágica, difícil de ser vista
hoje. Saí me perguntando se aquele álbum ainda provoca a curiosidade de outras
pessoas, como fez comigo. Depois, aconteceu o encontro com aquele amigo que fez
cara de espanto ao ouvir o começo do meu relato.
Entendi. Como falar de visitas e álbum de fotografias em mesas de centro de salas de estar em tempos de aifones e aipedes? Você não precisa ir à casa de ninguém para conversar ou ver as fotografias, você as recebe em seu telefone, ali, na hora e ainda pode fazer, no mesmo instante, comentários a respeito. As fotos são coloridas, feitas em cenários fantásticos, mostram pratos bonitos e coloridos em restaurantes, visitas a pontos turísticos, poses sensuais, sorrisos que duram apenas o tempo do click e muito mais.
Entendi. Como falar de visitas e álbum de fotografias em mesas de centro de salas de estar em tempos de aifones e aipedes? Você não precisa ir à casa de ninguém para conversar ou ver as fotografias, você as recebe em seu telefone, ali, na hora e ainda pode fazer, no mesmo instante, comentários a respeito. As fotos são coloridas, feitas em cenários fantásticos, mostram pratos bonitos e coloridos em restaurantes, visitas a pontos turísticos, poses sensuais, sorrisos que duram apenas o tempo do click e muito mais.
Pra terminar: tenho outra visita em mente, torcendo
para ver um novo álbum. Mas não provocarei mais espanto em ninguém. Satisfeita
a curiosidade, permanecerei, como um ser normal, vivendo neste tempo veloz de
aifones e aipedes.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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