Flávio Rezende *
escritorflaviorezende@gmail.com
Recentemente li uma interessante entrevista na Veja,
extraindo da mesma a constatação que a dramaturgia novelesca nacional caminha
para mostrar a ascensão das classes B e C, pois são destas classes sociais que
estão emergindo as figuras mais badaladas do Brasil atualmente.
As celebridades atuais são jogadores de futebol,
cantores de músicas regionais, atletas e novos ricos, todos com histórias
interessantes de vida, sepultando momentaneamente os antigos cenários da classe
rica nacional, sempre mostrada em seus dramas em belos cenários no eixo Rio-São
Paulo.
Essa nova situação, bem expressa na novela Avenida
Brasil, me leva a outra reflexão. Como convivo com todas as classes sociais,
devido a meu envolvimento com a Casa do Bem, que trabalha com classes sociais
distintas e de baixa renda, observo que nestas classes C e D, estão pessoas que
agarram com vontade os projetos que disponibilizamos em várias áreas.
Observo ainda que os jovens, da classe A, não todos,
éclaro, estão presos às redes sociais, perdendo o interesse por conhecimento e
muito interessados em troca de mensagens, muitas das quais despidas da
observância das regras gramaticais. Não consigo detectar neste meio uma garra,
uma pujança na busca de ideais de vida, precisando que os pais fiquem cutucando
com vara curta o tempo todo, para que assumam um comportamento mais objetivo na
vida.
Os jovens de classes sociais menos favorecidas
economicamente estão me parecendo mais ativos, buscando agarrar as
oportunidades, formando times, grupos musicais, frequentando as ruas e os
ambientes culturais, esportivos e sociais com mais intensidade, correndo atrás
para que suas vidas possam alcançar níveis mais satisfatórios de prazer pessoal
e de tranquilidade econômica.
A constatação de que a classe A está assistindo em
suas luxuosas poltronas a ascensão das demais classes, passando a ver o
cotidiano, o linguajar, as comidas e as multidões aplaudindo seus sucessos, é
real tanto nas novelas, quanto na vida real.
Quem são hoje os grandes ibopes do Brasil, podemos
citar o Neymar, jogador de futebol, Anderson Silva, lutador de MMA, o Lula,
ex-presidente, uma grande quantidade de cantores, atores e atrizes, todos
oriundos das classes B, C e D, que chamam atenção das antenas da raça, os
escritores, diretores e jornalistas, ávidos para revelar a todo o Brasil e até
ao planeta, as origens e as histórias de todos estes vencedores.
Essa exposição, tirando questões filosóficas,
sociológicas e psicológicas diversas, tem seu lado bom, a meu ver, essa
multidão anônima de jovens, nascidos em berço de cobre, muitos dos quais doados
ou adquiridos em 50 suaves e criminosas prestações de juros estratosféricos,
vendo na TV ou demais meios de comunicação o sucesso do seu semelhante, aquele
que saiu lá do meio do mato e foi enfaixado presidente, aquele que saiu da
favela, lutou e subiu no pódio mundial de Las Vegas e o que saiu do bairro
periférico e é hoje um dos mais balados jogadores de futebol do planeta, entre
tantos outros, só pode vibrar, ficar feliz, sentir dentro de si que também pode
chegar lá.
Como dirigente de uma organização não governamental
tive o prazer de receber em nossa Casa do Bem o jogador de futsal Falcão. Os
jovens ficaram loucos e a visita teve um efeito muito positivo. Ele que saiu da
Zona Norte de São Paulo e chegou a ser eleito o melhor jogador de sua categoria
do mundo, disse para os jovens presentes que todos ali podiam chegar aonde ele
chegou.
Não tem palestra com fotos, novela, filme, preleção,
livro ou artigo que possa influenciar tanto um jovem, como o contato direto com
uma pessoa bem sucedida na área que ela almeja, por isso, proponho a todos os
seres que alcançaram sucesso, que sempre abram um tempinho na agenda para dar
testemunho, estimular, fazer ver a tantos quantos possam que é possível sim
chegar lá, basta agarrar as oportunidades, jogar, treinar, estudar, ler,
ensaiar, correr, pensar positivo e, aos jovens de todas as classes sociais,
lembro, facebook, twitter, orkut, e-mails, tudo isso é muito bom, mas, avitória
final exige mais, exige uma atuação também no mundo real.
* Flávio Rezende é
escritor, jornalista e ativista social em Natal.
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