Por Jomar Morais*
Jornalista
▶ jomar.morais@supercabo.com.br
Na prosa poética de Diógenes da Cunha Lima, em
seu belo e refinado “Natal – uma nova
biografia”, encontro o verso de Dailor Varela que me leva a refletir sobre a
fase de baixa autoestima e desleixo por que passa essa cidade encantadora.
“Clara cidade de luz. Natal não anoitece”, disse o poeta falecido recentemente.
No domingo passado, no entanto, Natal estava escondida na penumbra. As luzes do
pórtico dos Reis Magos, na entrada, apagadas. O calçadão de Ponta Negra
destruído e sem lâmpadas. O Forte dos Reis Magos oculto nas trevas. Até a
Árvore do Mirassol, novo cartão postal, estava desligada e inútil.
O noticiário e o jogo político tiram suas próprias
conclusões e sinalizam ora a inabilidade dos gestores, ora a escassez de
recursos e o caro custeio da máquina administrativa. Certamente é a soma de
tudo isso e mais um detalhe que observo a partir da experiência trivial.
Certa vez, ao visitar um amigo, professor em escola
pública de 1º grau, surpreendi-me com o esmero de seu pequeno apartamento, no
qual móveis simples, mas de bom gosto, contracenavam com tapetes e obras de
arte assinadas por artistas populares, dando ao ambiente uma aparência
agradável e acolhedora. A intimidade nos permitia descer a detalhes e, assim,
ouvi-o revelar espanto pelo fato de seus colegas se acharem em miséria, quando ele
conseguia viver bem e sem dívidas apoiado apenas no salário modesto. Logo
percebi que o segredo estava na sua criatividade e sensibilidade e, certamente,
numa precisa noção de foco e moderação.
Não é uma cena incomum. No contato com famílias
pobres, em meus trabalhos voluntários, frequentemente me deparo com marcas de
zelo, limpeza e beleza onde há alguém disposto a expressar sua sensibilidade e
alegria de partilhar, o que quase sempre tem a ver com a presença da mulher e o
jeito feminino de olhar, sentir, escolher e agir. Nesse contexto o dinheiro é
curto, mas a criatividade supera obstáculos.
Natal, a meu ver, precisa desse toque feminino nos
escalões gestores para sair do estágio depressivo e descuidado. O Rio Grande do
Norte mesmo parece carecer dessa ousadia capaz de criar novas e saudáveis
possibilidades, ainda que na contramão dos interesses corruptores por serem
simples, baratas e desburocratizadas.
Mulheres no poder, já temos. Mas estariam nossas
mulheres poderosas acomodadas a um mimetismo machista no ambiente viciado da
política? Estariam imobilizadas pelas algemas do toma lá, da cá e pelas
sabotagens das máfias invisíveis? Não tenho a resposta, mas tenho uma certeza:
se aprenderem com as mulheres pobres e criativas, Natal ficará mais bela até
com canteiros de xanana, a planta singela e despojada que, segundo Diógenes, é
a flor desta cidade.
*Texto publicado na
coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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