José Bezerra Normando*
“Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar
com a minha dor”. Lembrei-me dessa música “A flor e o espinho” de Nélson
Cavaquinho e Guilherme de Brito. Domingo, às 13 horas quando o vereador Aquino
Neto me ligou comunicando o falecimento do meu amigo e compadre Francisco Neves
de Macedo, um dos doze fundadores da torcida organizada do Alecrim F.C. – FERA
– Fiéis Esmeraldinos Radicais. Como numa tragédia grega, em apenas sete meses o
Alecrim FC perdeu Ubirajara Júnior, o Birinha que era seu advogado, José Arivan
(Pastel), que foi vice presidente e Macedo que foi presidente do clube
esmeraldino. Diante de tantas provações digo como o escritor Euclides da Cunha:
o alecrinense é antes de tudo um forte. Ainda nesse período o clube tem
amargado prejuízos incalculáveis com a derrubada criminosa do Estádio Machadão
fruto da irresponsabilidade dos governos inescrupulosos e incompetentes que
contou com o respaldo de uma população alienada, ingênua e a conivência de
parte da imprensa.
Conheci Macedo em 1977 quando criamos com mais de
dez amigos a torcida FERA que ele chamava carinhosamente de “Os doze apóstolos
da esperança”. Em 1987, ao lado de alguns sonhadores ecologistas criamos o
Partido Verde no RN, partido do qual saí em 2007 e fui para o PSOL (Partido
Socialismo e Liberdade), mas ele continuou no PV. Ainda em 1987 foi padrinho da
minha primeira filha – Mircela Aline. Em 1992 quando fundei o fã-clube do rei
Roberto Carlos – o “Além do Horizonte” – ele veio participar ativamente. No ano
passado depois do show do rei em Jerusalém ligou pra mim dizendo: ”Compadre,
estou chorando até agora. Realmente o cara é fera.”
Tínhamos muita coisa em comum. Além de torcermos
pelo Alecrim, também torcia pelo Botafogo do Rio, era professor. Idealista,
socialista, ecologista, romântico, saudosista. Nascemos no sertão do RN, ele em
Santana dos Matos, eu, em Pau dos Ferros. Seu filho Diógenes Pereira de Macedo
nasceu no dia 17 de outubro de 1997, ou seja, no mesmo dia, hora, mês e ano que
nasceu minha filha Roberta Luciana, com um detalhe, no mesmo hospital:
Promater. Fomos a mais de mil jogos do Alecrim e viajamos centenas de vezes de
carro, ônibus e até avião. Numa dessas viagens um dos pneus de seu carro
estourou e quase morríamos próximo a cidade de Lajes, o que lhe provocou uma
grande gargalhada dizendo que as manchetes dos jornais no dia seguinte seriam;
”Morre a torcida do Alecrim na BR 304.
”Falando em viagens lembro-me que no nosso último
encontro me mostrou um acróstico sobre as mil viagens que estamos prestes a
realizar com o Verdão. No Alecrim Futebol Clube foi torcedor, conselheiro e
presidente, doando-se totalmente. Às vezes comentava que não estava fazendo
mais que sua obrigação e lembrava o profeta do Líbano, Kalil Gibran: “pouco dás
quando dás de vossas posses, porém verdadeiramente dás quando dás de si mesmo.”
Transformou seu corpo em um outdoor ambulante, pois estava sempre vestido com a
camisa do Alecrim FC. Numa festa natalina em nossa sede campestre em Macaíba,
vestiu-se de papai noel ecológico, ou seja, de verde e chegou em um jipe aberto
com um saco de presentes e as crianças quase acabam com ele.
Recordo com saudade quando ligava pra ele e
perguntava: ”é mais cedo ou mais tarde? E ele respondia: “Quanto mais cedo
melhor. Em 1986 ganhamos o bi campeonato estadual arrecadando dinheiro junto
aos torcedores para pagar aos jogadores. Isto foi um fato inédito, pois pela
primeira vez uma torcida organizada venceu um campeonato.
Tradicionalista e emotivo batizou sua filha de
Nobília que era o nome de sua mãe. Solidário, colocou o nome do seu primeiro
filho de Silton em homenagem a um militante de esquerda que foi morto pelo
golpe militar de 1964. Sempre falava com alegria que seu filho mais novo,
Tobias Macedo, torcia pelo Alecrim e Botafogo. Transformou sua casa na sede da
FERA, guardando faixa, charanga e bandeiras. Batizou sua Kombi de “Fera móvel”
numa alusão ao Papa móvel criado durante a visita do papa João Paulo II ao
Brasil em 1980.
Intelectual, membro da Academia de Trovadores do RN,
escrevia textos e poesias belíssimas. Criou frases que marcaram como a que
ironizava a derrota da campanha das Diretas já no Congresso Nacional: “Odilon,
continue cobrando as faltas diretas”. Duas eram as minhas preferidas: “Razão e
coração a serviço do Verdão”; “Com o Alecrim até o dia em que a luta se tornar
desnecessária”. Introduziu nas resenhas esportivas literatura de cordel em
defesa do Alecrim FC. Venceu vários concursos de poesia no Brasil, ganhando ano
passado um em São Paulo numa disputa com mais de mil poetas brasileiros.
É por essas e outras que convido seus amigos,
principalmente os alecrinenses nesse sábado, dia 24, às 16 horas, a
comparecerem ao Estádio Nazarenão em Goianinha, no jogo Alecrim X Palmeira,
quando faremos uma justa homenagem ao saudoso Macedo e cantaremos como o rei
Roberto Carlos: "Não preciso nem dizer tudo isso que lhe digo, mas é muito
bom saber que você foi nosso amigo...”
*Professor e fundador da
Fieis Esmeraldinos Radicais - FERA (torcida organizada do Alecrim F.C.)
Missa
A missa de sétimo dia do falecimento do ex-presidente do clube Francisco Neves de
Macêdo, será nesta sexta-feira, dia 23, às 19h, na Igreja São Pedro, bairro do
Alecrim, em Natal.
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