Por Jomar Morais*
A convenção do calendário faz desses dias uma
abundância de esperanças. O homem é um animal de desejo e de esperança, esses
corcéis que nos arrastam da bem-aventurança para o vir-a-ser, a permanente
transformação na qual conhecemos o crescimento e também a incompletude.
A esperança serve ao progresso do mundo e à marcha
da civilização, mas se o seu foco é a felicidade seria bom descartá-la de sua
rotina. Não há possibilidade de contentamento se trocarmos o desfrute da dádiva
que está aí, o presente, pela espera, essa companheira dos aflitos.
Como disse o poeta francês Nicolas de Chamfort, no
século 18, a frase que Dante inscreveu na porta do inferno – “Abandonai toda
esperança, vós que entrais!” – caberia melhor na do paraíso. São os
bem-aventurados que dispensam a expectativa. O que têm lhes basta. Agostinho de
Hipona e Tomás de Aquino já diziam que no Reino não haverá esperança.
Viver o presente, no entanto, não significa apoiar a
vida no instante, uma forma de sofreguidão - outra filha da espera -, ou na
imobilidade. Aspirações e planos cabem no movimento real do presente e podem
ser desfrutados como dádivas do agora, às quais respondemos com alegria e
gratidão, livres da tortura da ansiedade e do medo.
Isso vale para os eventos corriqueiros e para aquilo
que colocamos no patamar da realização essencial. E aí que me curvo ao
ensinamento de um anônimo franciscano, repartido por Leonardo Boff no excelente
livro “Terapeutas do Deserto”:
“Se você tiver o chamado do Espírito, atenda e
procure ser santo com toda sua alma, com todo o seu coração e com todas as suas
forças.
Se, porém, por sua humana fraqueza, não conseguir
ser santo, procure então ser perfeito com toda a sua alma, com todo o seu
coração, com todas as suas forças.
Se, contudo, você não conseguir ser perfeito por
causa da vaidade da sua vida, procure então ser bom com toda a sua alma, com
todo o seu coração, com todas as suas forças.
Se ainda não conseguir ser bom por causa das
insídias do maligno, então procure ser razoável com toda a sua alma, com todo o
seu coração e com todas as suas forças.
Se, por fim, você não conseguir nem ser santo, nem
perfeito, nem bom, nem razoável por causa do peso dos seus pecados, então
procure carregar isso diante de Deus e entregue a sua vida à divina
misericórdia.
Se você fizer isso, irmão, sem amargura, com toda
humildade e com jovialidade de espírito, por causa da ternura de Deus que ama
os ingratos e maus, então você começará a sentir o que é ser razoável,
aprenderá o que é ser bom, lentamente aspirará a ser perfeito e, por fim,
suspirará por ser santo.”
Feliz Ano Novo!
*Texto do jornalista Jomar
Morais publicado na coluna Plural de terça-feira (27/12) do Novo Jornal
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