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Posto de saúde do Estado, local da morte do doutor Onaldo |
O título é a continuação da matéria de autoria da dupla José Hamilton Ribeiro e Jean Solar, publicada na revista REALIDADE, de circulação nacional, em fevereiro de l970. E só nos foi possível repeti-la aqui graças à colaboração do Armando Tesourinha, nosso chapa e que trabalhou muito tempo conosco na Rádio Rural de Caicó.
Seu acervo é riquíssimo: pilhas de jornais e revistas, dos tempos da vovó, juntam-se ao arquivo fotográfico que inundam a sua casa, na Ladeira do Hospital. Outro grande colecionador, divulgador e vendedor de fotos antigas é o Cabo Souza, carinhosamente chamado Bacuê.
Importante colaboração também é do comerciante Sevi - Severiano Firmino de Araújo Filho, agenciamento de veículos novos e usados.
Todos esses nossos colaboradores vivenciaram essa época trágica, puro derramamento de sangue que manchou as ruas de Caicó, causando dor e revolta entre as famílias da região.
O autor da SÍNDROME DA RUA GRANDE, também. Inclusive, quase figura na matéria da dupla Hamilton Ribeiro e Jean Solari.
Estava em Natal, casado, em lua de mel.
Então, por um triz…
Agora, depois de tanto blá, blá, blá, vamos a leitura de alguns trechos da reportagem publicada em REALIDADE:
- O matador, depois de ter quebrado a luz do alpendre e a luz de um poste próximo, mirou pela janela, de uma distância de dois metros. Ao impacto do tiro, Onaldo nem mudou de posição; passou sem ver de um sono a outro
Essa morte fez mudarem a vida e a fama da cidade inteira. Ninguém mais dormiu de janela aberta. A suspeita, o medo, a emboscada passaram a marcar todas as mentes.
Uma série de crimes misteriosos, em clima de vingança e envolvendo pistoleiros profissionais, trouxe desassossêgo para 30.000 pessoas.
…. A vingança tornou-se uma obsessão nas conversas reservadas, nos cochichos, nas insinuações. E é um título de honra em Caicó…terceira cidade do Rio Grande do Norte, depois de Natal e Mossoró, é a “”Capital do Seridó””, região que produz o melhor algodão do Brasil e um dos melhores do Mundo.
—- Para bater o nosso algodão fibra longa, só mesmo o algodão egípcio!
Caicó é sede de bispado, tem um Batalhão de Engenharia do Exército e a mesma relação escola-habitante de Brasília; um terço de sua população está matriculada. Caicó já deu Ministros, juristas, senadores e até se diz que a cada caicoense no Governo do Rio Grande do Norte corresponde a um caicoense do resto do Estado.
O governador atual, por exemplo, Walfredo Gurgel, é de Caicó. Também é de lá o maior político do Estado, Senador Dinarte Mariz.
Antes da sua fama de cidade violenta, Caicó era saudada pela excelência de sua carne-de-sol e de seu queijo do sertão, e pela potencialidade de seu subsolo. Uma rêde de mais de mais de l.200 açudes particulares permite ao homem do campo compensar a secura do solo e fazer a terra render um pouco. Não fossem esses açudes e o aproveitamento agrícola do rio Seridó – o maior rio seco do mundo – a população não teria o que comer.
Cidade limpa, aberta, hospitaleira, recebe o forasteiro com visível simpatia. Mas há qualquer coisa no ar. Da janela, a mulher informa para alguém dentro de casa:
- São dois homens. Chegaram em transporte próprio. O carro já voltou.
Mais tarde, o capitão delegado de polícia nos diria que era até possível alguém tomar quarto no hotel onde estávamos para ouvir nossa conversa e saber o que viéramos fazer em Caicó. A suspeita e a espionagem, praticadas normalmente entre os moradores, se aguçam quando chega um estranho. Há poucos dias, o pai de um tenente da policia veio visitar o filho. Chegou no seu jipe e, do momento que entrou na cidade até alcançar o quartel – dez minutos –, o delegado recebeu dois telefonemas:
- Capitão, há um carro de outro Estado na rua. O senhor já averiguou? Parece que o homem está armado. Ele não tem boa cara, não.
Os viajantes de firmas comerciais rareiam quanto podem suas viagens a Caicó. Em novembro, numa quinta feira, chegou um deles. Diante do hotel, antes de hospedar-se, perguntou a um moreno que se aproximava:
– Então, continuam matando muita gente por aqui?
Abrindo a camisa com a mão esquerda, o moreno enfiou a mão direita na cintura, no gesto de quem puxa a faca e gritou:
– Lá vai um!
O viajante saiu na carreira, aos gritos, até ser alcançado por outras pessoas, que lhe explicaram que o moreno – Zeca Doido - fazia aquilo com todo mundo, mas não passava de um louco manso e brincalhão:
- Não deu para o senhor perceber ele era doido?
– Bem, depois de tudo que tem acontecido aqui, o melhor mesmo é correr e verificar depois, de longe!
Severino Cornetinha é o investigador da cidade. Está na polícia há 24 anos e já atuou contra ladrões, arrombadores, falsários, tarados. Homem de fazer diligência até no Recife, diz ele. Mas, desses crimes não quer nem ouvir falar:
– Tenho três meninos em casa, ainda não posso morrer.
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