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domingo, 4 de junho de 2017

João da Mata escreve sobre os 80 anos do encantamento do poeta Noel Rosa

NOEL ROSA – 80 ANOS DO SEU ENCANTAMENTO


No dia 04 de maio completa 80 anos do falecimento do poeta Noel Rosa. Falecia o homem porque a obra é imortal e continua mais viva do que nunca. Suas músicas fazem parte perene do nosso cancioneiro cantada diariamente onde houver celebração da verdadeira Música Popular Brasileira. Noel ficou imortalizado mesmo tendo curta e meteórica existência. Assim como Braz Cubas não deixou aos filhos que não teve o legado da sua pobre existência física. “Não tenho herdeiros, não possuo um só vintém / eu vivi devendo a todos, mas não paguei a ninguém/ meus inimigos que hoje falam mal de mim / vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim”.

De Braz Cubas sendo comido pelos vermes é também a certeza que as morenas sestrosas vão ser comidas pela terra. Não era assim – mesmo- uma apaixonado pela vida e um grande humorista da MPB que ele ajudou a consolidar. E quem ri melhor, é quem ri por fim.

Nascido a fórceps com um defeito no queixo. Foi apelidado de “queixinho” e viveu a vida – boêmio em menos de 27 anos.

A partir de uma paródia ao Hino Nacional, compõe “Com Que Roupa?”, seu primeiro grande sucesso. Aos 19 anos já é famoso e vende milhares de discos. Torna-se ídolo do rádio, é aclamado “filósofo do samba”.

O grande sambista Wilson Batista apelou quando o chamou de “Frankstein da Vila” em música que fez parte da celebre disputa musical travada entre dois dos maiores sambistas brasileiro. Boêmio de muitos amores, Noel trocou a medicina pelo samba e compôs quase três centenas de clássicos da MPB. Dos seus conhecimentos como acadêmico de medicina ele compôs o anatômico samba “Coração”.

Foi diplomado em matéria de sofrer e no samba. Em o “X do problema” ele mostra as suas credenciais: eu fui educado na roda de samba, eu fui diplomado na escola de samba, sou independente conforme se vê.

Participa de uma linha evolutiva que tem início com o “Boca do Inferno”, passa pelo Sargento de Milícias e deságua na melhor musica popular universal brasileira. Como cronista canta a alma feminina e, décadas depois, terá um herdeiro da estatura de Chico Buarque de Holanda.

Sua primeira composição foi Minha Viola (Minha Viola ta chorando com razão / por causa de uma marvada / que roubou meu coração ). Influencia da música nordestina que chegava ao RJ. Rio de Janeiro, cidade mulher, cantada por Noel – um dos grandes cronistas de uma época em rápidas transformações. O cinema falado estava chegando e Noel canta as transformações que aquilo ia provocar na fala do malandro e seus Alô Boy.

O poeta da vila teve grandes parceiros da estatura de Cartola, Braguinha ( João de Barros) e Lamartine Babo. Com André Filho fez Filosofia. Com o grande poeta Orestes Barbosa compôs Positivismo. Com o pintor e sambista Heitor dos Prazeres ele fez Pierrot Apaixonado.

Um dos seus mais profícuos parceiros foi o paulista do Braz Oswaldo Goliano (Vadico), com quem compôs os célebres “Feitiço da Vila”, “Feitios de Oração”, “ Só pode ser você”, etc.

Quem nasce lá na Vila/ nem se quer vacila / ao abraçar o samba, / que faz dançar os galhos do arvoredo/ e faz a lua nascer mais cedo.

Noel Rosa conheceu Lindaura, uma operária com 15 anos de idade. Logo depois conhece a dançarina Ceci e por ela se apaixona. Divide-se entre as duas mulheres, trabalha muito, dorme pouco, vive gripado e fraco. Denunciado pela mãe de Lindaura como raptor e sedutor de menores, é obrigado a se casar sob pena de prisão.

Descobre-se tuberculoso e vai para Belo Horizonte e tenta recuperar sua saúde. Volta ao Rio de Janeiro, reencontra Ceci e abandona Lindaura. Em encontros ocasionais, engravida Lindaura. Ceci o deixa, e Lindaura perde o bebê. Uma tragédia de uma meteórica vida. Ceci também amava o compositor Mário Lago. Esse triângulo amoroso com quatro pés masculinos resultou numa das mais célebres músicas Noel: “Pra Que Mentir”. Dilacerante. Elas merecem.

Um de seus últimos sucessos é a antológica canção “Último Desejo”, em homenagem ao seu grande amor, Ceci.

Último Desejo / Noel Rosa

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo

Numa festa de São João

Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,

sem luar, sem violão

Perto de você me calo, tudo penso e nada falo

Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo

você não pode negar

Se alguma pessoa amiga pedir que você

lhe diga

Se você me quer ou não, diga que você

me adora

Que você lamenta e chora a nossa separação

Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não

presto

Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida.

Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

*Com post na coluna do autor em Substantivo Plural
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