O NOSSO PROFETA
Por Diógenes
da Cunha Lima
São passados
150 anos do nascimento de um profeta que habitou entre nós. Os verdadeiros
profetas são iluminantes, mas raros. A Bíblia menciona cinco grandes profetas
(que denominam livros bíblicos): Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel e Baruc.
Além desses, oito profetas menores. Todos são emissários da palavra divina.
Para o Islamismo, Alá e o seu profeta Maomé. Em verdade, todas as religiões têm
os mensageiros de Deus.
Autor de “As
Profecias”, o médico e poeta Nostradamus (1513 – 1566) alcançou -êxito histórico
inigualável. As suas quadras em decassílabos são interpretadas como previsão
dos grandes acontecimentos da história. Dessa forma, lá estariam escritos fatos
de hoje ou como da Revolução Francesa, homens de fama como Napoleão, Hitler e
Trump. A este é atribuído o que diz o texto: “Um grande gritador, canalha e
corajoso se tornará governador do exército e das forças armadas mundiais”. Os
devotos seguidores de Nostradamus dizem que ele utilizou a linguagem simbólica,
metafórica, em face da possível punição da época para feiticeiros e adivinhos.
Ele falou, pois, em linguagem polissêmica, o que permite identificações
analógicas, com múltiplos sentidos.
Também nós
tivemos o nosso Nostradamus. Manoel Dantas, nascido em Caicó (1867-1924),
conseguia ver o futuro em múltiplos afazeres. Em funções do Direito foi
advogado, promotor, procurador geral do Estado e juiz fundador da primeira fase
da Justiça Federal no Rio Grande do Norte. Como político, de início foi
abolicionista, republicano e exerceu a deputação estadual. O jornalista
escreveu para os principais jornais do Estado, inclusive como diretor de “A
República”. O educador foi diretor geral da Instrução Pública (equivalente hoje
à Secretário de Educação). O professor de Geografia do Atheneu produziu um belo
estudo sobre municípios do RN. Foi introdutor do ensino agrícola no nosso
Estado, pregando a seleção de sementes, adubação, a irrigação, a mecanização.
Como biógrafo, produziu perfis de personalidades. Como etnógrafo, estudou
costumes e superstições seridoenses, crenças e crendices, valorização da
tradição. Foi prefeito da cidade (presidente da Intendência). É dele as mais
antigas fotografias da nossa cidade.
A 21 de
março de 1909, no Salão Nobre do Palácio do Governo, Manoel Dantas pronunciou
conferência fantasiosa e bem humorada, mas com objetivas previsões do futuro e
a publicou sob o título “Natal Daqui A 50 Anos”. Há perfeitas antevisões sobre
os avanços tecnológicos que haverão de acontecer aqui e no exterior. É preciso
entender que nessa época não se sonhava com transmissão radiofônica (o rádio
somente foi inaugurado no Brasil em 1922). A luz elétrica desse tempo vinha com
a lua cheia, registrava Jorge Fernandes. O Brasil ainda não tinha
universidades. Ele sabia que “os séculos são instantes na vida dos mundos”.
O profeta
“viu” teatros com telefones e fotografias a distância, exibindo telas móveis
(seria a descrição perfeita da televisão!). Falavam do entusiasmo da produção
em Paris, Londres e outros pontos da Europa. Inacreditável que ele previsse o
Eurotúnel. Falando na estrada de ferro transcontinental: “partindo de Londres,
passa o Canal da Mancha e percorre a Europa”. Haveria os Estados Unidos da
Europa (União Europeia). O Parque das Dunas é antecipado: “cercas, plantações,
guardas, postos de vigias, tudo o que a ciência do morro aconselha para a
fixação das areias”. Ele adverte que as dunas que são abandonadas são um perigo
iminente. Natal teria aeroportos. A Via Costeira foi dita como o bairro das
dunas, cingido graciosamente pela Avenida Beira-mar. O nosso cais seria provido
de guindastes elétricos, restaurantes, bares e cafés. Não escapou da atenção do
nosso profeta a Zona Norte: “Do outro lado do Potengi, cortado de pontes, surge
uma cidade imensa, ou antes, estendem-se filas de armazéns, oficinas, docas,
casa de negócios, albergues, estalagens, casas de campo. É Natal que se atira
nos braços do sertão”. A nossa Faculdade de Direito teve predição para
funcionamento até 1959 (foi instalada em 1954).
Se você
ainda duvida que tivemos um grande homem, um grande profeta, mesmo assim
acredite no verso de Manoel Dantas que orienta: “Deus fez o homem para viver de
luz”.
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