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terça-feira, 14 de março de 2017

Educação: é poder - O que você sabe sobre essa invenção?

Por Sidney Caicó*

A educação é poder. Ela está presente em todas as culturas mesmo que em algumas a escrita não tenha sido desenvolvida. A educação perpassa os signos que servem para representar seu significado, pois muito além de ser uma forma de ensinar as gerações sobre seus costumes e ajudar a guardar a memória de seus antepassados, é uma invenção que permite aos que a dominam multiplicar e disseminar através dos ensinamentos o que
realmente é considerado mais importante.

Mas o que é realmente mais importante na educação? Quem escolhe o que devemos aprender e ensinar? Como a educação é pensada e por quem é pensada? Quando existem mudanças na educação também existem mudanças significavas nas relações sócias e tais mudanças interessam a todas as pessoas em uma sociedade? Estas reflexão é um chamado do Antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, em seu texto “O que é educação” (?); também afirma: “Ninguém escapa da educação”. (Esse texto será notado nas citações). A educação é necessária para que as pessoas convivam em sociedade. É através da educação que uma civilização perpetua sua existência, consolida sua cultura e passei pela história. A educação é poder e sua força é demonstrada através do desequilíbrio existente entre as camadas da sociedade, na dinâmica existente entre formas de produções que são exercidas pela elaboração do conhecimento. Seja no trabalho, nos meios de produções e comunicações, no comércio, nas relações existentes entre pessoas e entre o meio, a educação é um poder que revela diferenças.

A educação proporciona ao ser humano discernir sua participação no mundo e a pensar sobre sua evolução. A educação é praticada no cerne da sociedade humana e não é um instrumento utilizado para perpetuar a espécime, mas sim um meio pelo qual o ser humano toma posse da sua própria evolução. Sua evolução é possível devido sua “dupla estrutura corpórea e espiritual”, dando-lhe condições especiais para sua manutenção e transmissão que lhe é particular e as “organizações físicas e espirituais”, aos seus conjuntos que chamamos de educação. Um fim consciente: aprender, ensinar e evoluir. Através do trabalho, e nas trocas das relações sócias o homem torna-se aprendiz de si mesmo e no interior de suas culturas aprende a “aprender-ensinar-e-aprender”, aprende educar, inventa a educação.

Os antropólogos ao fazerem observações sobre as tribos mais primitivas entendem que os processos sociais de aprendizagem existem; independente de uma estrutura institucional ou escolar. A sabedoria acumulada pelo grupo é repassada aos mais jovens que aprendem com a prática. O conceito de educação é nos estudos substituído por aprendizagem; os antropólogos “pouco querem falar de processos formalizados de ensino.” As situações pedagógicas observadas nos “grupos humanos mais simples” são guias para evolução dos indivíduos. “As formas vivas e comunitárias” de “ensinar-e-aprender” que as conhecemos como socialização realiza em todas as pessoas que estão inseridas nos “projetos da sociedade”, sendo o que precisam para serem reconhecidas como parte do grupo ou da comunidade.

Nesse processo de aprendizagem nos grupos com culturas mais primitivas a experiência mais livre da educação ocorre na proliferação da “endoculturação”. A “endoculturação” é o processo de situação pedagógico e total que orienta a formação do adulto no “interior de todos os contextos sociais coletivos”. Esse processo de aquisição pessoal de saber “crença-e-hábito” de uma cultura funciona como uma situação pedagógica atuando sobre o educando. “A educação é uma fração da experiência endoculturativa” e está presente na relação entre as pessoas que intencionalmente estão na lenta transformação que opera a aquisição do saber.

O “ensinar-e-aprender nas relações entre as pessoas constituem a enduculturação. A socialização dos membros de uma sociedade em tipos de sujeitos sociais é realizada através de um outro grupo social.  No processo vivenciado o educador imagina servir a um propósito mais elevado que é o de repassar os conhecimentos e que através do saber as pessoas modifiquem o meio; sendo assim melhor para todos. É fato que o educador em sua sociedade, por vezes, reproduz o conhecimento que é produzido, modificado e delimitado por grupos que exercem o poder sobre outros. Quando o educar não dobra o conhecimento sobre o próprio conhecimento e não consegue refletir sobre os diversos motivos que o levam a educar, pode deixar de detectar que a educação estar impregnada por ideologias que servem como meio de dominação e perpetuação de poder. No momento que as pessoas começam a dividir os bens produzidos pelo trabalho, começa a dividir o poder, gerar hierarquias sociais, também o conhecimento é restrito para alguns e passa a ser empregado como meio de dominação, passando a ser uso de políticas que reforçam as diferenças. “[...]

A educação escolar é uma invenção recente na história das sociedades primitivas que nos acompanharam até aqui, a educação escolar que ajuda a separar o nobre do plebeu parece ser um ponto terminal na escala de invenção dos recursos humanos de transferência do saber de uma geração a outra. Também nas sociedades ocidentais como a nossa - sociedades complexas, sociedades de classes, sociedades capitalistas [...]”

A escola é uma grande invenção que surge nesse contexto e o saber é selecionado por categorias para diferentes categorias de sujeitos. O ser humano é identificado conforme a atividade que desempenha no sistema político de relações do grupo. Desde seu surgimento a escola surge para formação dos jovens em adultos que irão desempenhar suas funções de acordo com a divisão do trabalho e de acordo com suas origens sociais irão estar em cargos considerados mais nobres. Quanto mais pobre mais trabalho e menos conhecimento, quanto mais ricos mais conhecimentos e menos trabalhos. “[...] “Citação de Sólon, legislador grego: ‘As crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia, à caça e à frequência aos ginásios’.[...]"

*Sidney Caicó é escritor autor de O tesouro de Sant’Ana e acadêmico de Psicologia na UFRN
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