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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Outubro de festa, de negros do Rosário, de Zé Ezelino, fotógrafo e caicoense

Do mês de José Ezelino

Fernando Antonio Bezerra*

Outubro é um mês especial para o Caicó de todos nós. Dentre outras razões para a evidência, outubro é o mês da celebração da Festa de Nossa Senhora do Rosário e a destacada atuação, desde 1771, da Irmandade dos Negros do Rosário. Com seus valores, tradições, dificuldades, belezas e limitações, a Festa e os Negros se confundem. Os Negros do Rosário, com sacrifícios e esperanças, chegaram aos dias atuais mantendo a tradição da dança e do reinado. Fazem a festa de Caicó para os caicoenses.

Também é o mês que marca a despedida de um dos maiores nomes do Caicó de todos os tempos: José Ezelino da Costa, caicoense que expressou genialidade na fotografia, na música e na pintura, vencendo eventuais preconceitos de raça e de condição financeira. Segundo a Arquiteta Ana Zélia Maria Moreira, sobrinha-neta de José Ezelino, “25 de outubro de 1952” foi a data de sua partida para o horizonte que a fé nos faz enxergar. Filho da escrava alforriada Bertuleza e de pai desconhecido, “Zézelino” foi músico, pintor, agricultor e fotógrafo.

Como músico, tocava vários instrumentos, integrava a Banda de Música e era compositor convivendo com nomes consagrados como Felinto Lúcio Dantas, em Carnaúba dos Dantas, e Capiba, em Recife/PE. Como pintor, produzia cenários para emoldurar fotografias e outras mais peças que faziam parte de seu estúdio de fotografia. Aliás, na fotografia os principais registros de Caicó de seu tempo foram feitos por ele: “imagens em Caicó da enchente de 1924, no ano seguinte a visita do presidente eleito Washington Luiz, a chegada de Roma do Padre Walfredo Gurgel, a construção do Açude Itans”, segundo apontamentos de Ana Zélia.

A Professora Eugênia Maria Dantas também pesquisou sobre José Ezelino, consignando: “Em 1889, no sítio Umbuzeiro, município de Caicó (RN), nascia José Ezelino da Costa. A alegria do nascimento se confundia com as comemorações, ainda presentes na sociedade brasileira, da libertação dos escravos. Esse fato estava ligado a sua vida. José Ezelino parecia ter nascido com o destino traçado. Negro, de origem humilde, assumiu para si a tarefa de ser livre, poder se mover, olhar o mundo com a autonomia daqueles que não podem ser servil”. Acrescenta: “Ele foi um dos muitos personagens que compõem a nossa história. Preferiu abdicar do anonimato e se expor às marcas do tempo cunhando em algumas ‘páginas do livro de registro da cidade´ a sua marca. Fez isso através de sua grande paixão, a fotografia. Como toda pessoa genial esteve além do seu tempo.”

Uma curiosidade sobre José Ezelino, contada por todos que sobre ele escreveram, é a ida regular a Recife e ao Rio de Janeiro, naquela época – como hoje - centros urbanos relevantes do Brasil. Dr. Francisco de Assis Medeiros, a quem sempre recorro para ler sobre fatos e personalidades do Seridó que a gente ama, conheceu José Ezelino e atesta: “Anualmente viajava de férias para Recife ou para o Rio de Janeiro, de onde trazia as últimas novidades para o seu ateliê fotográfico. Não conheci ninguém em Caicó dessa época, que tirasse férias anualmente e viajasse para a Capital da República ou quando menos para uma cidade do porte de Recife. Nesse particular, José Ezelino era um bem-afortunado profissional autônomo, podia viver à fidalga, numa cidade de pouquíssimas oportunidades de trabalho. Nunca lhe faltava trabalho.”

Certamente José Ezelino foi pioneiro e emprestou ao que fez toda sua genialidade. Foi amparado, de todo modo, sem prejuízo de sua tenacidade, por uma época onde a cultura clássica tinha prestígio, as famílias se reuniam em torno de boas tradições e nos hábitos da maioria estava presente a boa música, a arte e a fé.

José Ezelino da Costa, enfim, é um dos maiores nascidos no chão caicoense e deixou marcas fortes de sua existência nas áreas onde atuou, tudo feito com o primor da inteligência seridoense que faz, em tudo, o que há de melhor. A data de sua partida, portanto, não pode passar sem justo registro e merecida homenagem.

*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó / com post na página Bar de Ferreirinha
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