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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Monsenhor Walfredo Gurgel; Dos maiores caicoenses

Dos maiores caicoenses

Por Fernando Antonio Bezerra

Foto de acervo histórico
Não é dito por mim, mas por todos que o conheceram; não é dito apenas pelos amigos, mas por todos que o enfrentaram: Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel é um dos maiores – em toda a história – nascidos no Caicó de todos nós!

Walfredo Gurgel é caicoense, filho do enlace do Professor Pedro Gurgel do Amaral e Oliveira e Joaquina Dantas Gurgel (Mãe Quininha). O pai, da família Gurgel de Caraúbas, filho de Vicente Gurgel do Amaral e Joana Francisca Romana. A mãe, Dantas das Oiticicas, é filha de José Calazâncio Dantas e Enedina Maria de Sant'Ana. Nasceu no dia 2 de dezembro de 1908. Aliás, nasceu para se chamar Armando, mas, na pia batismal, o Cônego Emídio Cardoso sugeriu e os pais aceitaram batizar o menino com o nome de Walfredo. Padre Gleiber Dantas de Melo ao pesquisar sobre o assunto por ocasião do centenário de nascimento de Monsenhor Walfredo, esclareceu: “Cônego Emídio Cardoso sugeriu ao Professor Pedro que a criança se chamasse Walfredo, em homenagem ao Monsenhor Walfredo Soares dos Santos Leal, um filho de Areia (PB), nascido aos 21 de fevereiro de 1855, que era o Presidente do Estado da Paraíba naquele momento. O que o Professor Pedro Gurgel não podia imaginar era que o Cônego Emídio Cardoso, com aquela sugestão, estava batizando uma criança que seguiria os passos de seu patrono na vida religiosa e política”. Do casal Pedro Gurgel e Joaquina nasceram, além de Walfredo Gurgel, os filhos: Zózimo; Maria Zenóbia (Sinhazinha); Clotário; Polísia e Armando.

Foi, desde a infância, um destaque em tudo o que fez e por onde passou. Concluiu o curso primário em 1920 no Grupo Senador Guerra. Ingressou no Seminário de São Pedro, em Natal, no dia 3 de fevereiro de 1922. Em 1926, contemplado com uma bolsa de estudos, foi para Roma onde concluiu Filosofia, Teologia, fez doutorado em Direito Canônico e recebeu o sacerdócio em solenidade própria no dia 25 de outubro de 1931, segundo apurada pesquisa de Bianor Medeiros que, em 1976, publicou Monsenhor Walfredo: um símbolo, um dos mais completos trabalhos sobre o nosso ilustre conterrâneo.

De volta ao Brasil, Padre Walfredo foi abraçado pela Caicó da época, no dia 14 de agosto de 1932. No dia seguinte celebrou a primeira missa na terra de suas origens. Retornando a Natal, cuja Arquidiocese a quem Caicó era subordinada, assumiu a Reitoria do Seminário São Pedro, passando por lá poucos anos. Já em 1935 foi designado e assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Guia de Acari de nossas raízes. Em 1936 retornou a Caicó para o cargo de Vigário da Paróquia local e das cidades que dela faziam parte e, mais ainda, para ser o mestre de gerações, a modelagem de como deveria ser alguém, o líder que inspirou e trabalhou por avanços no chão palmilhado pelos peregrinos de Sant'Ana. Com Monsenhor Walfredo o sonho da instalação da Diocese ganhou largura; os projetos de Dom Delgado, um solidário feitor; a juventude, um novo e qualificado mestre; a cidade, um poeta, desportista, dramaturgo, articulista, sertanejo acostado às melhores qualidades e tradições. Aliás, de fato, aqui neste recanto de página, não cabe um minucioso relato sobre o muito que ele fez e foi! O importante é evidenciar que nada de importante, naquele fecundo período da vida caicoense, deixou de ter o apoio, a colaboração, o comprometimento e a liderança de Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel, que não pode ser esquecido neste julho de Sant'Ana ou nos meses adiante!

Em 1945 veio a convocação para a militância partidária através do PSD e, com a expressa autorização de Dom José de Medeiros Delgado, Bispo da época, disputou e venceu as eleições para participar da Assembleia Nacional Constituinte, em 1946, como Deputado Federal. Foi Deputado Federal ainda em outra ocasião, na legislatura de 1950, convocado na condição de 1º suplente. Exerceu mandatos de Vice-Governador, Senador e Governador. Como Vice-Governador, presidiu a Assembleia Legislativa. Quando não estava no efetivo exercício de cargos públicos, dirigia o Colégio Diocesano Seridoense, certamente, uma obra marcante em sua trajetória que ainda tem sua visível e reluzente marca.

Como candidato a Governador, uma palavra de firme franqueza em propósitos publicados na imprensa de então, com a síntese suficiente para ser entendido e para fazer, sem pompas e cerimônias, o que devia ser feito:

“A todo cidadão, a oportunidade de trabalhar e progredir.
A toda criança, o amparo necessário para que cresça com saúde e se eduque com proveito.
A toda esposa e mãe, o reconhecimento do caráter sagrado de sua missão, assistindo-a com desvelo e carinho.
A toda família, o estímulo decorrente da tranquilidade social e harmoniosa propriedade.
A todo trabalhador, a preservação dos seus direitos e prerrogativas, mediante justa remuneração e devida assistência.”

Como Governador, um realizador! Seus feitos estão ainda hoje espalhados em obras por todo o Estado, mas também nas inúmeras lições de simplicidade. Transferiu para a chefia do Executivo a mesma austeridade da vida sertaneja – reta e limpa – que o caracterizou em todos os momentos e em todas as missões. Foi reconhecido! De Dinarte Mariz, por exemplo, seu histórico adversário político durante décadas, citado por Bianor Medeiros na obra já mencionada, recebeu a seguinte manifestação: “Fui seu adversário, sou insuspeito para julgar sua memória: ninguém foi, pessoalmente, mais probo e mais honesto”.

Monsenhor Walfredo Gurgel faleceu em Natal no dia 4 de novembro de 1971. Como relata ainda Bianor, pela gravidade da doença que o abateu, “seus últimos dias foram de sofrimento. O Monsenhor não reclamava. Esteve alguns dias em pré-coma e a última vez que recobrou totalmente a lucidez chamou a irmã, Sinhazinha, para dizer: - Estou morrendo. Venha me dar um abraço e abrace todos os meus”.

*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó / com post na página do Bar de Ferreirinha. 
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