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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Quipauá, cuó: Dos que chegaram no início

Dos que chegaram no início

Por Fernando Antonio Bezerra*

Alicerce da Casa Forte do Cuó.
Foto:acervo UFRN
Muita gente boa já escreveu sobre o Seridó. Existem livros publicados e monografias disponíveis que fazem a nossa Região uma das mais estudadas do Rio Grande do Norte. A maioria demonstra, em síntese, que os primeiros portugueses chegaram por aqui trazidos pela necessidade de criação do gado bovino. No litoral, a cana de açúcar; no sertão, a vaca e o boi.

Dentre os melhores escritos, neste sentido, há um merecido destaque para a pesquisa e o magistério de Muirakitan Kennedy de Macedo, filho de Macedo e Baiá, menino da Praça do Rosário que o mundo todo admira. É da pesquisa dele no livro “Rústicos Cabedais”, com todos os méritos e bônus, a informação que os portugueses no ano de 1545, no mês de abril, estiveram a primeira vez na Região. A missão foi cumprida por “Antonio de Mendonça e Vasconcellos, José Brito de Almeida, Pero Loppes de Maceddo e Natannael Gomes Soares”. Não foi, contudo, uma colonização rápida. Além dos índios – que depois foram dizimados – a economia, naquele momento, ainda não exigia o esforço de invadir o sertão. Depois, a expansão do criatório de gado se tornou atividade estratégica e motivou maior interesse pela Região. Vale lembrar que no percurso do caminho ainda se deu a invasão holandesa no Rio Grande do Norte (1633-1654), fato que também teve repercussões no Seridó, e outras turbulências próprias da época.

Mas, de certo, mesmo já tendo criações de gado e trânsito de gente de fora por aqui, o marco sugerido por alguns autores como de início da efetiva colonização é o final da “Guerra dos Bárbaros”, por volta de 1697. Em Caicó, em particular, a construção da casa-forte do Cuó, provavelmente em 1683, em terras do local denominado “sítio Penedo”, é tido como marco relevante para a história local. Olavo de Medeiros Filho, citado por Helder Alexandre Medeiros de Macedo no artigo “Contribuição ao estudo da Casa-Forte do Cuó, Caicó-RN”, atribui ao Coronel Antonio de Albuquerque da Câmara a iniciativa de construção da casa-forte.

Segundo ele: “Antônio de Albuquerque da Câmara tratou de construir uma casa-forte, para servir de aquartelamento às tropas sob o seu comando. Escolheu um ponto muito adequado, capaz de controlar o trânsito que ocorresse nos rios Acauã (hoje o trecho é considerado como sendo o Seridó), Quipauá (atualmente Barra Nova), e Sabugi. Tal ponto estratégico corresponde ao Sítio do Penedo, vizinho à atual cidade caicoense, à margem esquerda do rio Seridó. Pertinho da casa-forte edificada, ficava o atual Poço de Santana, manancial inesgotável d´água, fator indispensável à sobrevivência do Corpo de Ordenanças. Em torno à casa-forte ficaram acampadas, certamente em choupanas de palha, as tropas empregadas no combate ao gentio tapuia levantado”.

Persiste, me parece, uma dúvida quanto ao patrono da casa-forte do Cuó, mas, de fato, Antonio de Albuquerque Câmara é mencionado pelos principais pesquisadores por ter usado a casa-forte como base militar para combater os índios e ocupar a Região. Aliás, ele próprio possuía terras – sesmaria – e tinha interesse na criação de gado neste sertão que nos abriga.

A conversa já vai um tanto comprida e, evidentemente, ainda tem uma imensidão de fatos e pessoas, assuntos para outros textos e leituras. O fato é que, como marco histórico, para alguns, o ano de 1683 também pode ser entendido como a fundação de Caicó. Para outros, a exemplo de Dom José Adelino Dantas, lembrado no texto mencionado de Helder, o marco principal de Caicó é o início da construção da Matriz de Santana em 1748 por Manoel Fernandes Jorge, aliás, “na história de nossos sertões, as cidades nascem quando nascem suas igrejas, suas capelas”. Neste sentido, mas sustentando outra divergência, Padre Eymard L´Eraistre Monteiro anotou que, em 1725, Manoel de Souza Forte mandou edificar uma capelinha em honra a Senhora Santana entendendo, portanto, que este é o fundador de Caicó. A capelinha não é, como visto, a atual Matriz.

Uma outra dúvida, às vezes presente, é o título de mais antiga povoação do Seridó. Sob a ótica política, Caicó, antes chamada Povoação do Seridó, se tornou em 1788 a “Villa Nova do Príncipe” e foi elevada à categoria de Município em 1868. Do ventre materno de Caicó surgiram Acari (1835); Serra Negra do Norte (1874); Jardim do Seridó (1858); Jucurutu (1935); Jardim de Piranhas (1948); São Fernando (1958) e Timbaúba dos Batistas (1962).

Em qualquer situação, mesmo com as divergências dos pesquisadores ou algum equívoco de data ou de compreensão, é razoável afirmar que pela construção da casa-forte, pela atuação militar dos primeiros portugueses, pelos que ficaram, pelos que chegaram depois e, adiante, pelos que nasceram no Caicó que a gente ama, temos, pelo menos, 333 anos de história para contar e, aqui prá nós, quem não se interessa um pouco sobre o que aconteceu ontem, dificilmente saberá planejar o que pode acontecer amanhã.

*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó / com post nas páginas do Bar de Ferreirinha e Substantivo Plural. 


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