Dos que chegaram no início
Por Fernando
Antonio Bezerra*
Alicerce da Casa Forte do Cuó.
Foto:acervo UFRN |
Muita gente
boa já escreveu sobre o Seridó. Existem livros publicados e monografias
disponíveis que fazem a nossa Região uma das mais estudadas do Rio Grande do
Norte. A maioria demonstra, em síntese, que os primeiros portugueses chegaram
por aqui trazidos pela necessidade de criação do gado bovino. No litoral, a
cana de açúcar; no sertão, a vaca e o boi.
Dentre os
melhores escritos, neste sentido, há um merecido destaque para a pesquisa e o
magistério de Muirakitan Kennedy de Macedo, filho de Macedo e Baiá, menino da
Praça do Rosário que o mundo todo admira. É da pesquisa dele no livro “Rústicos
Cabedais”, com todos os méritos e bônus, a informação que os portugueses no ano
de 1545, no mês de abril, estiveram a primeira vez na Região. A missão foi
cumprida por “Antonio de Mendonça e Vasconcellos, José Brito de Almeida, Pero
Loppes de Maceddo e Natannael Gomes Soares”. Não foi, contudo, uma colonização
rápida. Além dos índios – que depois foram dizimados – a economia, naquele
momento, ainda não exigia o esforço de invadir o sertão. Depois, a expansão do
criatório de gado se tornou atividade estratégica e motivou maior interesse
pela Região. Vale lembrar que no percurso do caminho ainda se deu a invasão
holandesa no Rio Grande do Norte (1633-1654), fato que também teve repercussões
no Seridó, e outras turbulências próprias da época.
Mas, de
certo, mesmo já tendo criações de gado e trânsito de gente de fora por aqui, o
marco sugerido por alguns autores como de início da efetiva colonização é o
final da “Guerra dos Bárbaros”, por volta de 1697. Em Caicó, em particular, a
construção da casa-forte do Cuó, provavelmente em 1683, em terras do local
denominado “sítio Penedo”, é tido como marco relevante para a história local.
Olavo de Medeiros Filho, citado por Helder Alexandre Medeiros de Macedo no
artigo “Contribuição ao estudo da Casa-Forte do Cuó, Caicó-RN”, atribui ao
Coronel Antonio de Albuquerque da Câmara a iniciativa de construção da
casa-forte.
Segundo ele:
“Antônio de Albuquerque da Câmara tratou de construir uma casa-forte, para
servir de aquartelamento às tropas sob o seu comando. Escolheu um ponto muito
adequado, capaz de controlar o trânsito que ocorresse nos rios Acauã (hoje o
trecho é considerado como sendo o Seridó), Quipauá (atualmente Barra Nova), e
Sabugi. Tal ponto estratégico corresponde ao Sítio do Penedo, vizinho à atual
cidade caicoense, à margem esquerda do rio Seridó. Pertinho da casa-forte
edificada, ficava o atual Poço de Santana, manancial inesgotável d´água, fator
indispensável à sobrevivência do Corpo de Ordenanças. Em torno à casa-forte
ficaram acampadas, certamente em choupanas de palha, as tropas empregadas no
combate ao gentio tapuia levantado”.
Persiste, me
parece, uma dúvida quanto ao patrono da casa-forte do Cuó, mas, de fato,
Antonio de Albuquerque Câmara é mencionado pelos principais pesquisadores por
ter usado a casa-forte como base militar para combater os índios e ocupar a
Região. Aliás, ele próprio possuía terras – sesmaria – e tinha interesse na
criação de gado neste sertão que nos abriga.
A conversa
já vai um tanto comprida e, evidentemente, ainda tem uma imensidão de fatos e
pessoas, assuntos para outros textos e leituras. O fato é que, como marco
histórico, para alguns, o ano de 1683 também pode ser entendido como a fundação
de Caicó. Para outros, a exemplo de Dom José Adelino Dantas, lembrado no texto
mencionado de Helder, o marco principal de Caicó é o início da construção da
Matriz de Santana em 1748 por Manoel Fernandes Jorge, aliás, “na história de
nossos sertões, as cidades nascem quando nascem suas igrejas, suas capelas”.
Neste sentido, mas sustentando outra divergência, Padre Eymard L´Eraistre
Monteiro anotou que, em 1725, Manoel de Souza Forte mandou edificar uma
capelinha em honra a Senhora Santana entendendo, portanto, que este é o
fundador de Caicó. A capelinha não é, como visto, a atual Matriz.
Uma outra
dúvida, às vezes presente, é o título de mais antiga povoação do Seridó. Sob a
ótica política, Caicó, antes chamada Povoação do Seridó, se tornou em 1788 a
“Villa Nova do Príncipe” e foi elevada à categoria de Município em 1868. Do
ventre materno de Caicó surgiram Acari (1835); Serra Negra do Norte (1874);
Jardim do Seridó (1858); Jucurutu (1935); Jardim de Piranhas (1948); São
Fernando (1958) e Timbaúba dos Batistas (1962).
Em qualquer
situação, mesmo com as divergências dos pesquisadores ou algum equívoco de data
ou de compreensão, é razoável afirmar que pela construção da casa-forte, pela
atuação militar dos primeiros portugueses, pelos que ficaram, pelos que
chegaram depois e, adiante, pelos que nasceram no Caicó que a gente ama, temos,
pelo menos, 333 anos de história para contar e, aqui prá nós, quem não se
interessa um pouco sobre o que aconteceu ontem, dificilmente saberá planejar o
que pode acontecer amanhã.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post nas páginas do Bar de Ferreirinha e Substantivo Plural.
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