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segunda-feira, 30 de maio de 2016

José Gonçalves de Medeiros; Dos maiores intelectuais

Dos maiores intelectuais

Por Fernando Antonio Bezerra

Orador destacado e articulador
 competente

Do Seridó de todos os tempos um nome ainda é lembrado dentre os maiores intelectuais: José Gonçalves de Medeiros. Acariense, filho de Mário Gonçalves de Medeiros e de Porfíria Pires de Medeiros, nasceu no dia 18 de dezembro de 1919. Faleceu precocemente. Estava na comitiva do Governador Dix-Sept Rosado quando houve o acidente aéreo, na data histórica de 12 de julho de 1951, no Estado de Sergipe.

A trajetória de José Gonçalves é, mais ou menos, a seguinte: nasceu em Acari e, por lá, as primeiras letras; foi para Natal estudar no Seminário São Pedro e, depois no Atheneu. Seguiu para Recife onde se tornou Bacharel em Direito. Voltou para Natal onde ocupou vários cargos, inclusive, eletivos e de chefia. Em tudo, leu e escreveu; foi orador destacado e articulador competente; foi um bom boêmio na juventude e na companhia dos amigos cantou serenatas e declamou poesias. Estava à frente de seu tempo, no convívio, nas letras e na política. Câmara Cascudo, um de seus professores, logo após sua morte, avaliou: “O jornalista, o poeta, o boêmio, o amigo jubiloso, recebeu maior número de artigos, crônicas, poemas e saudades que o próprio Governador sacrificado na destinação de uma vida de esforço e de entusiasmo.”

Outros intelectuais falaram sobre José Gonçalves. Lenine Pinto, inclusive, chegou a organizar uma coletânea de artigos escritos por ele e comentou: “José Gonçalves de Medeiros era, disparado, o maior talento norte-rio-grandense de sua geração, talvez de todo o Século XX, aí incluídas aquelas figuras de beletristas renomados a que ele intitulava de “protonotários”. Seus conhecimentos abarcavam um leque de várias manifestações da inteligência e da sensibilidade, não apenas literárias.”

O escritor Jurandyr Navarro, também contemporâneo de José Gonçalves em "Os oradores" lembrou alguns episódios que realçam sua verve, dentre as quais, um trecho do famoso discurso em Recife, por ocasião da histórica morte do estudante Demócrito de Souza Filho: "A tua e a nossa arma maior sempre foi a palavra. Palavra de amor à liberdade, de combate à tirania; palavra de crença no clamor dos oprimidos". E então indagava: "Por que então metralharam-na: a tua vida e a nossa palavra? Talvez eles não creiam que o grito dos injustiçados repercute no coração de Deus, no mais íntimo do seu grande e onisciente coração".

Demócrito de Souza Filho foi assassinado num comício em Recife, na interventoria de Agamenon Magalhães. Os tiros eram endereçados a Gilberto Freire, amigo de José Gonçalves, mas atingiram Demócrito. José Gonçalves também estava presente no citado episódio do ano de 1945 que, por sua vez, entrou na história da luta pela liberdade no País, no combate contra a ditadura liderada por Getúlio Vargas.

Concluído o curso de Direito em Recife, José Gonçalves voltou para Natal e logo se elegeu Deputado Estadual. Foi, inclusive, constituinte em 1947 no âmbito da Assembleia Legislativa. Aqui, como político, gestor, intelectual, atuou profundamente em uma época e seria, certamente, um dos grandes líderes do Rio Grande do Norte, com a marca Seridó firmada no peito e no caráter, se a morte não tivesse chegado tão cedo em sua vida. Aliás, é dele o poema “Despedida do Pássaro Morto”, peça quase premonitória, escrito antes do fatídico acidente, que se tornou uma das mais belas manifestações inseridas no acervo poético do Rio Grande do Norte:

O voo também é sensualidade
Estremeço e vibração de pássaro
Que possui e penetra o espaço.
E era como se possuísse e penetrasse a alma do tempo.
Se eu morrer como um pássaro
Deixo aos que me amaram, aos que
me quiseram e me gostaram, como eu
era, o meu sempre displicente adeus.
Estou compreendendo que se morrer num voo
antes de tocar a terra do mundo, serei como
a pena do pássaro ferido de morte.
Serei um pássaro de fogo que vem do céu 
para repousar no seu ninho de areia.
Chorem, bebam, dancem, riam, passeiem, 
pela alma do amigo que não foi pássaro 
mas morreu como eles.

*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó/ com post no Bar de Ferreirinha
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