acesse o RN blog do jornalista João Bosco de Araújo [o Brasil é grande; o Mundo é pequeno]

domingo, 22 de novembro de 2015

Poesia: Ramos da Minha Oiticica

RAMOS DA MINHA OITICICA

Autor: Orilo Dantas*

Doutô:
Tá  vendo  aquela  oiticca
Qui na  ribanceira  fica
Prantada  perto do rio
Vencendo o só  cor  de brasa
Istendendo  a  verde  asa
Na  areia do  seu  sombrio!

Ela  tem  a  sua  histora
Feita  de  amo  e  gulora
Dessa  gulora  sem  pá
Tem  sido  durante  a  vida
Pras  pessoa  disvalida
Arrancho, cama  e  hospitá.

Prus  retirante  rasgado
Vindo lá  de  outos  lado
Sem u’a  drumida  certa
Ela  acena  cunvidando
Chamando, sempre  chamando
Cum a  mão  de  fôais  aberta.

Se  seu  douto  chegá  perto
Avista  logo  pru  certo
Munta  tira  pulo  chão
Caída  da  roupa  suja
Cuma  pena  de  coruja
Na  drumida  do  grotão!

Vê  logo  intirnada  trempe
Qui  veve  insperando  sempre
Quem  pede de  porta  im  porta
Triste  migaia  de  pão
Pra  matá  a  percisão
Qui a  fome  já  num  suporta.

O  cego  triste  batendo
O  alejado  gemendo
Cum  a  ferida  sangrando,
A cumpanheira, coitada
Na  areia fria  assentada
As  mosca  crué  inxotando.

Im  meio  a  tanta  disgraça
Só um arquém  acha  graça
A criancinha  inucente,
No  seio  da  mãe  querida
Querendo  qui  lhe  dê  vida
Já  quem  a  vida num  sente.

Vou  lhe  contá  um  segredo,
Se  Arguém  corrê  cum  medo
É  u’a  mocinha  nua.
Lavando  os  trapo  qui tem
Pra  dispois  saí  também
Pidindo  ismola  na  rua.

Pois  essa  veia  oiticica
De  tanta  bondade  rica
Hoje tá  sentenciada
Pulo  seu  proprietaro,
Pra  de  modo  sanguinaro
Sê  distruída  e  queimada.

Seu  douto, num  seio lê
Apelo  pra  vosmicê
Qui  num tem  istinto  rui,
Faça u’a  carta  pra  ele
Qui  chegue  logo  a  mão  dele
Pidindo na  inscrita  assim:

Eu lhe  peço  meu  patrão
Num  corte  essa  arve  não
Tenha  dó  e  piedade!
De  quem  anda  pulo  mundo
Taliquá  um  vagabundo
Na  dô  da  necessidade.

Vosmicê  cortando  ela
Vê uma  górda  amarela
Saí do tronco  e  dos  gaio,
É  o  pranto  da  coitada
Pula  raça  fragelada
Qui  rola  sem  agasaio.

Cortando  essa  arve  antiga
Devora u’a  mãe  amiga
Cheia  de  santa  bondade,
Qui  vai  deixá  no  abondono
Sem  ter  onde  druma  um  sono
Os  seus  fio  na  orfandade!

E quando  lançada  ao  fogo
Os  pau  cumeça  num  jogo
Se  queimando  cuma  réu,
Aquele  ringi  medonho
É  um  lamento  tristonho
Pidindo  justiça  ao  céu.

Justiça  qui  hai  de  ser  feita
Pru  que  justiça  perfeita
Só  insperamo  a  de  lá
Jesus  qui  a  tudo  redime
Nunca  perdoa  esse  crime
Na  mansão  celestiá.

É  essa  a  carta  doutô
Qui  lhe  peço  pro  favô
Fazê  cum  munto  coidado,
Sou  testimunha  do  tudo
E  o  sinhô  qui  tem  istudo
Será  dela  adevogado.

Num  seio  se  ele  atende
E  a  razão  cumpreende
Desse  nosso  procedê
Atendendo  munto  bem,
Causo  contraro  tombem
Cumprimo o nosso devê.

Devê  cum  a  mãe  de  ouro
Qui  tem  sagrado  tesouro
Guardado  na   sua  intranha
Qui  na  bondade  se  assenta
E  pru  mundo  representa
Belo  sermão  da  montanha.

Seu  douto  eu  vou  mimbora
Aperte  minha  mão  agora
E diga cum  Zé  Tambica:
Hai  se  essa  humanidade
Tivesse ó  meno  a  metade
Do  amô  dessa  oiticica!

*Poeta popular seridoense, natural de Acari com vivência na cidade de Ouro Branco. Post na página de Geraldo Anízio.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Copyright © AssessoRN.com | Suporte: Mais Template