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terça-feira, 21 de abril de 2015

Os marcos do calendário caicoense

Por Fernando Antonio Bezerra*

As civilizações mais organizadas definiam seus próprios calendários. O Seridó é uma nação avançada e Caicó, como sua capital, tem um calendário peculiar. Lembro-me, particularmente, que o calendário caicoense até o início dos anos 80 era, mais ou menos, dividido da seguinte forma: férias no sítio; início das aulas; Carnaval; Semana Santa; novenário de maio; São João; Festa de Sant´Ana; luar de agosto; Sete de Setembro; Festa do Rosário; provas finais e recuperação; Natal e Ano Novo.

Evidentemente que outros fatos e eventos permeavam os principais acontecimentos do ano, a exemplo dos jogos escolares, gincanas culturais, a mais bela voz, escolha da miss, grandes bingos, campeonatos de futebol, manhãs de sol no Itans, festivais de chopp, cantorias, exposição agropecuária, vaquejada, chegada de circos, rifas e bacará... Mas, o ano tinha, mais ou menos, um calendário definido e em torno das maiores datas nos organizávamos.

Evidentemente que o inverno era – e continua sendo – um importante marco para o calendário anual do caicoense. Antes, porque corríamos pelas ruas tomando banho, disputando biqueiras ou, nas primeiras sangrias, caravanas se formavam em direção ao Açude Itans e aos sítios. Havia uma farta alegria manifestada nas mesas, risos e mergulhos. Hoje, sem o inverno, não sabemos para onde ir!

Até o início dos anos 80 a agropecuária era mais representativa para a economia local. Aliás, segundo o IBGE, em 1980 Caicó tinha 40.030 habitantes, dos quais 9.202 residiam na zona rural. Em 2010, a população rural limita-se a 5.248 pessoas em um universo estimado de 62.709 habitantes. O meio rural, portanto, já interfere menos no calendário caicoense. Infelizmente! Ademais, outras mudanças ocorreram o que, consequentemente, refletiram nos costumes e no planejamento anual das famílias e das instituições.

Janeiro, por exemplo, não era, como hoje, tão marcado pela ocupação do litoral pelas famílias caicoenses. O mês de janeiro significava, para muitos, o retorno às raízes ainda fincadas no meio rural, inclusive, para centenas de estudantes que regressavam para suas famílias, ainda residentes nos sítios e fazendas, no recesso escolar.

Outro momento de destaque no calendário caicoense é o Carnaval. A partir de 1989 o Carnaval passou a ter bandas nas ruas, à tarde em frente ao antigo Hotel Vila do Príncipe; à noite, no cruzamento das avenidas Coronel Martiniano e Seridó. Entretanto, ainda persistiam os blocos organizados e as festas nos clubes de Caicó e região. Acabava por ali o corso carnavalesco que ocupou, por muitos anos, as tardes de Carnaval na Avenida Coronel Martiniano. Por alguns anos as Escolas de Samba também desfilaram (Unidos da Nova Portela e Unidos da Vila do Príncipe). Os blocos de ala-ursa já existiam, mas sem a dimensão que hoje tem o extraordinário Bloco do Magão. Em um ou outro formato, Caicó sempre realizou grandes carnavais.

Na Semana Santa, havendo bom inverno, os sítios logo eram ocupados pelas famílias. Comidas tradicionais e penitências próprias do período marcavam a Semana Santa que, de fato, era celebrada a partir da quarta-feira de trevas.

O ano não era uma simples sucessão de meses, como ocorre em outros lugares do Brasil, mas de marcos festivos ou de acontecimentos culturais que, realmente, pautavam a vida caicoense. Vamos conversar mais sobre o assunto. Ainda faltam relacionar várias outras referências do calendário caicoense.

Sei que o tempo muda e, naturalmente, os cenários, personagens, posturas e hábitos se transformam. Não tenho tanta idade. Imagino estar no meio da caminhada, mas as lembranças que cultivo já fazem minha alma saudosa de coisas que vivi e, de outras, que apenas ouvi.

*Com post na página do Bar de Ferreirinha 
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