Por Fernando Antonio
Bezerra*
As civilizações mais
organizadas definiam seus próprios calendários. O Seridó é uma nação avançada e
Caicó, como sua capital, tem um calendário peculiar. Lembro-me,
particularmente, que o calendário caicoense até o início dos anos 80 era, mais
ou menos, dividido da seguinte forma: férias no sítio; início das aulas;
Carnaval; Semana Santa; novenário de maio; São João; Festa de Sant´Ana; luar de
agosto; Sete de Setembro; Festa do Rosário; provas finais e recuperação; Natal
e Ano Novo.
Evidentemente que outros
fatos e eventos permeavam os principais acontecimentos do ano, a exemplo dos
jogos escolares, gincanas culturais, a mais bela voz, escolha da miss, grandes
bingos, campeonatos de futebol, manhãs de sol no Itans, festivais de chopp, cantorias,
exposição agropecuária, vaquejada, chegada de circos, rifas e bacará... Mas, o
ano tinha, mais ou menos, um calendário definido e em torno das maiores datas
nos organizávamos.
Evidentemente que o
inverno era – e continua sendo – um importante marco para o calendário anual do
caicoense. Antes, porque corríamos pelas ruas tomando banho, disputando
biqueiras ou, nas primeiras sangrias, caravanas se formavam em direção ao Açude
Itans e aos sítios. Havia uma farta alegria manifestada nas mesas, risos e
mergulhos. Hoje, sem o inverno, não sabemos para onde ir!
Até o início dos anos 80
a agropecuária era mais representativa para a economia local. Aliás, segundo o
IBGE, em 1980 Caicó tinha 40.030 habitantes, dos quais 9.202 residiam na zona
rural. Em 2010, a população rural limita-se a 5.248 pessoas em um universo
estimado de 62.709 habitantes. O meio rural, portanto, já interfere menos no
calendário caicoense. Infelizmente! Ademais, outras mudanças ocorreram o que,
consequentemente, refletiram nos costumes e no planejamento anual das famílias
e das instituições.
Janeiro, por exemplo,
não era, como hoje, tão marcado pela ocupação do litoral pelas famílias
caicoenses. O mês de janeiro significava, para muitos, o retorno às raízes
ainda fincadas no meio rural, inclusive, para centenas de estudantes que
regressavam para suas famílias, ainda residentes nos sítios e fazendas, no
recesso escolar.
Outro momento de
destaque no calendário caicoense é o Carnaval. A partir de 1989 o Carnaval
passou a ter bandas nas ruas, à tarde em frente ao antigo Hotel Vila do
Príncipe; à noite, no cruzamento das avenidas Coronel Martiniano e Seridó.
Entretanto, ainda persistiam os blocos organizados e as festas nos clubes de
Caicó e região. Acabava por ali o corso carnavalesco que ocupou, por muitos
anos, as tardes de Carnaval na Avenida Coronel Martiniano. Por alguns anos as
Escolas de Samba também desfilaram (Unidos da Nova Portela e Unidos da Vila do
Príncipe). Os blocos de ala-ursa já existiam, mas sem a dimensão que hoje tem o
extraordinário Bloco do Magão. Em um ou outro formato, Caicó sempre realizou
grandes carnavais.
Na Semana Santa, havendo
bom inverno, os sítios logo eram ocupados pelas famílias. Comidas tradicionais
e penitências próprias do período marcavam a Semana Santa que, de fato, era
celebrada a partir da quarta-feira de trevas.
O ano não era uma
simples sucessão de meses, como ocorre em outros lugares do Brasil, mas de
marcos festivos ou de acontecimentos culturais que, realmente, pautavam a vida
caicoense. Vamos conversar mais sobre o assunto. Ainda faltam relacionar várias
outras referências do calendário caicoense.
Sei que o tempo muda e,
naturalmente, os cenários, personagens, posturas e hábitos se transformam. Não
tenho tanta idade. Imagino estar no meio da caminhada, mas as lembranças que
cultivo já fazem minha alma saudosa de coisas que vivi e, de outras, que apenas
ouvi.
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