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domingo, 4 de janeiro de 2015

Se Songa dá coco, PeduBreu fuma na quenga

Paulo Jorge Dumaresq*
 
Foto: Evaldo Gomes/ZS
Manter vivas as tradições artísticas e culturais do município de São Gonçalo do Amarante (Songa) fundindo-as com a sonoridade contemporânea tem sido a pisada da banda são-gonçalense PeduBreu em 12 anos de história. Com a intenção de registrar, divulgar e promover a tradição e contemporaneidade da música de raiz, a banda fez sua estreia em palco, a 22 de agosto de 2003, data comemorativa ao Dia Mundial do Folclore e da inauguração do Teatro Municipal Poti Cavalcanti, em Songa. Mais emblemático impossível.
 
O Pedu vem de Pedro e remete à oralidade como o nome é pronunciado sem o “ro” no final, da mesma forma que o povo na maioria das vezes abrevia e fala em sua cultura e oralidade. É também uma homenagem a Pedro Guajiru, Mestre criador do Boi de Reis Pintadinho de São Gonçalo. Já o Breu, é um lugarejo banhado pelo rio Potengi, rico em matéria-prima artesanal, berço da cultura da região e próximo à Songa. Foi lá onde se deram os primeiros sinais de manifestações folclóricas no município, nas décadas de 40 e 50, pelos nativos do lugar. Geralmente, as brincadeiras (apresentações) ocorriam nos escuros terreiros das casas, daí a origem do nome PeduBreu.
 
Graças à influência sócio-cultural, o grupo agrega expressões, elementos e ideias da região, tais como cultura e religiosidade popular; teatro, danças e literatura de cordel, afora ritmos regionais fundidos e embasados na tecnologia da musica eletrônica. Tudo isso misturado deu forma ao tecnococo, um ritmo forte com batuque ritmado e guitarras pesadas.
 
“Fazendo uma retrospectiva no tempo e avaliando as perdas e ganhos, sabemos bem que dificuldades sempre existirão em todas as fases da vida, o que não se pode é deixar ser engolido pelos problemas. É importante está atento e produzindo, criando, reformulando os módulos comuns, rompendo os paradigmas”, declara o vocalista e co-fundador da banda, Gláucio Câmara. No seu entender, o reconhecimento se dá por meio de muito trabalho e persistência naquilo que o grupo faz. Destaca a continuidade de manter viva uma história que, conforme ele, tem significações pessoais.
 
Mais do que um grupo musical, o Projeto PeduBreu Tecnococo tem como objetivo principal promover e cantar a cultura de raiz, única e universal. Estudos e pesquisas sobre os mestres e os saberes populares são realizados pelos integrantes do grupo, focando nas artes cênicas, música, artesanato, gastronomia e cultura popular, como o boi de reis, bambelô, congos de calçola, pastoril, cordel e romances. “Fomos criados em meio aos Mestres e vivemos entre eles. Isso é algo que carregaremos em nossas vidas. Não é só de festivais e shows que vive o grupo, mas do desejo de ser agente de cultura transformador”, ilustra o músico.
Todo o conhecimento adquirido por meio dos antepassados é reflexo da beleza e pureza do imaginário popular, como uma fonte inesgotável do belo. Esta riqueza cultural com características singulares presente nas tradições folclóricas do município é a fonte de inspiração para revificar as manifestações e continuar o sonho de tantos mestres e brincantes.
 
“Como bem falou um dia o jornalista Yuno Silva, o PeduBreu se tornou filosofia de vida para os jovens da região são-gonçalense. E é mais ou menos isso. Fazer arte em uma cidade como São Gonçalo não é diferente de nenhum lugar do mundo. Sofremos do mesmo mal administrativo e balconista, que está  enraizado no descaso e pouco caso com os fazeres e saberes e práticas artísticas”, depõe.
 
Adiante, complementa: “É preciso fazer perceber e discutir nosso papel. Somos criadores de nossa própria história, então fazemos o que ninguém fará por nós. Com esse espírito, propomos nossos projetos como o Feioarte, Musimagem, Cultivando Arte, além dos fóruns de cultura, festivais de arte e o Tributo a Raul Seixas, enfim tudo voltado para a promoção cultural e valorização da diversidade”.
 
Considerado o berço da cultura popular do Estado, o município de São Gonçalo do Amarante tem em suas veias, cancioneiros, músicos, artesãos, atores, artistas e poetas, pessoas simples que transformam sonho em realidade por meio das mãos, corpo e espírito. Gente que arranca de dentro de si mesmo razões profundas e verdadeiras de sua natureza.
 
Formação
 
O Projeto PeduBreu Tecnococo teve como núcleo inicial em 2002 os artistas Gláucio Câmara (vocalista e percussionista), Paulo Sérgio de Menezes (percussionista), Valdinei Teixeira (percussionista) e, posteriormente, Edmilson Torquato (Didi), violonista e ex-integrante do grupo Songa Também Dá Coco; o DJ Nego D’lasonga (movimento Hip-Hop); e o design Otávio Augusto (cenógrafo e ambientador), já falecido. Atualmente, o grupo é formado por Gláucio Câmara (voz e percussão), Dinei Teixeira (percussão e voz), Marcelo Fidelis (baixo e voz), Kiko Mosca (guitarra e voz) e Jamil (bateria).
 
Em 12 anos de história, o PeduBreu participou de diversos projetos, dando a cara a tapa na Festa dos Estados em Brasília (DF), Domingo na Praça, Nação Potiguar, Circo da Luz, Seis e Meia, Cosern Musical 2005, Cena Aberta Casa da Ribeira 2010 e no Festival do Sol 2010. Bem como no lançamento do website Overmundo, em Natal, e na abertura do show de Moraes Moreira, em São Gonçalo.
 
O quinteto também conquistou o Prêmio Hangar de Música 2008, na categoria Melhor Instrumentista e o terceiro lugar no Festival da Canção Universitária da UFRN 2008 e 2009 com as músicas “Berço da cultura popular” e “É Militana”, respectivamente. Outra vitória importante foi o primeiro lugar no Festival da Canção e da Cultura Potiguar da Assembleia Legislativa do RN, com a Música “Coco da moçada”, autoria do cantor e compositor França de Lima.
 
Ainda sem um registro fonográfico oficial, o PeduBreu aposta nos CDs demo e na internet, via Facebook e Myspace, para divulgar sua arte. “Nossa música ainda não está nas rádios comerciais, e isso até certo ponto não nos frustra, porque conseguimos encarar com muita propriedade e determinação nosso trabalho. Temos um bom público no estado, as pessoas sabem e gostam de nosso som e propagam. A internet tem sido ao longo do tempo um bom instrumento de trabalho que contribui na divulgação da nossa música”, observa.
 
Em seguida, destaca: “temos um registro denominado Doc Show Experimental, uma compilação de todas as nossas andanças, produzido pelo cineasta, desenhista e ex-baixista, Lula Borges. Com o advento da internet, hoje já está bem mais fácil divulgar nosso produto. As pessoas podem encontrar nossos vídeos, músicas, fotos, textos e muita coisa sobre o PeduBreu”.
 
*Texto com post na página online do jornal Zona Sul
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