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domingo, 18 de janeiro de 2015

O atrapalhado velho Cosme e suas cercas de varas sertanejas

Por João Bosco de Araújo
Jornalista boscoaraujo@assessorn.com  


 Foto: Arysson Soares em seu facebook
Seu Cosme era um agricultor do sertão de Caicó. Seu ofício era fazer cercas de madeira, entrançando as varas de marmeleiros, sua maior habilidade e procura pelos proprietários de terras da região. Mas era no inverno que o velho Cosme abandonava as feituras das cercas para se dedicar à agricultura, literalmente. Aliás, na ausência de chuvas, a cerca era a única saída para manter a sobrevivência da família, que era bastante numerada e, cada vez, aumentava netos e bisnetos.

O ano muito bom de inverno, início de 1964, meu pai Pedro Salviano do Umbuzeiro ajuntou uma cabroeira de trabalhadores para a plantação de arroz e outros grãos. Seu Cosme estava incluindo para a jornada de trabalho. Agrupados, meu pai lançava uma corda, organizada com laços, para a medição das covas aonde seriam inseridas as sementes do plantio.

Com cerca de 20 metros de comprimento, a meta da corda era ser içada para a frente e o trabalho seqüenciado, com os agricultores avançando e cavando o chão molhado pelo bom inverno.

“À frente”, gritava Pedro Salviano. E para sua ira, Seu Cosme recuava. E a cena se repetia. Todos avançavam, Seu Cosme recuava. “Ô diachos”, praguejava. O dia calejado, sol a pino, escaldante. Meu pai olhava aos céus, resmungava. Após um descanso, voltava ao grupo e debaixo de seu chapéu de couro ordenava: “Seu Cosme, preste bem atenção, quando eu disser pra frente o senhor avança com os outros, entendeu?” Desconsertado, ele acenava com a cabeça, positivamente.

Não se cumpria o ensinamento da tarefa e o atrapalhado Cosme voltava a recuar, em vez de ir pra frente. Foi nesse ínterim que outro trabalhador, José Jerônimo, mais conhecido como Zé Girósme, já sem paciência, pediu para intervir: “Seu Pedro”, disse ele lá de trás, “vamos combinar e o senhor em vez de gritar pra frente, diga pra trás!”

Foi a solução e o trabalho realizado com sucesso. Melhor foi a safra com muita fartura no bom ano de inverno no sertão do Seridó.

Lembrei-me desse episódio por causa de uma postagem na página do conterrâneo seridoense Geraldo Anízio, que ele descreve assim:

CURRAL COM VARAS DE MARMELEIRO

Ó SERTÃO... Ó SERIDÓ!!!

No Seridó, por vezes, há de se avistar alguns desses currais feitos de varas de marmeleiro bem comum na caatinga  nordestina. As cercas ficam mais resistentes à chuva e ao sol de tinir. O sertanejo só disponibiliza o trabalho dele em cavar a terra, aprumar os caibros e depois fazer o entrançamento das varas verdes do marmeleiro formando o cercado. Sem muito gasto de dinheiro, o seridoense usa dos recursos da terra e do que o sítio pode oferecer para a segurança da criação de ovelhas, bodes e o gado.

Quando perto  da casa, a cerca de marmeleiro tem a serventia de quaradouro e varal para enxugar as roupas lavadas em casa ou no açude quando é próximo. As cercas de marmeleiro, de pedras as de aveloz ainda se veem pelos sítios regionais principalmente no Seridó do Rio Grande do Norte.

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