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domingo, 7 de dezembro de 2014

Nós do RN, o suplemento resistente

Por Anchieta Fernandes*
 
Jornalistas:Edilson Braga, Edson Benigno e Moura Neto
Agora em novembro, completa-se precisamente os dez anos de existência deste suplemento. É uma façanha a comemorar, a sua continuidade, pois outros veículos culturais, oficiais ou não, desistem depois de alguns meses ou anos. Ao final do ano de 2004, o talentoso jornalista Henrique Miranda de Sá Neto era o Coordenador de Administração e Editoração do Departamento Estadual de Imprensa – DEI. O Governo do Estado era exercido pela governadora Vilma Maria de Farias, que tinha como Assessor de Comunicação Social o jovem jornalista Rubens Manoel Lemos Filho. O Diretor Geral do DEI era Carlos Alberto de Oliveira Torres.
 
Todos estes superiores apoiaram a brilhante idéia de Miranda Sá: criar um suplemento cultural a acompanhar as edições do Diário Oficial, amenizando a sisudez burocrática dos textos oficiais. Foi escolhida uma boa equipe de colaboradores em texto (Paulo Dumaresq, Carlos Morais, entre outros), foto (João Maria Alves), desenho (Emanoel Amaral) e diagramação (Edenildo Simões, Alexandre Tavares de Melo e Valmir Araújo) e então, tendo o próprio Miranda Sá como Editor-Geral, e Moura Neto como Chefe de Redação, foi lançado em novembro de 2004 este suplemento, Nós do RN... Timidamente, era datado Nº Zero, do Ano I.
 
Era quase uma confissão de pessimismo, de descrédito quanto à continuidade da iniciativa. Mas aquela marca gráfica à esquerda do título, mostrando a figuração do selinho com o contorno do mapa do Rio Grande do Norte sobre a sigla DO, e embaixo a definição programática “Editorial A República”, parece até que funcionava como bons prenúncios visuais, como se os anjos da terceira hierarquia atuassem revirando para trás os novelos que as Parcas fiavam, trazendo silenciosamente a vitória-vida da idéia do materialista-marxista Miranda Sá. O suplemento continuou.
 
O suplemento continua. Filho dileto do velho jornal pedrovelhista A República, cujo título ainda estava no coruchéu da fachada do prédio do DEI, e em cimento encimando o portão de entrada do jardim da área frontal do mesmo prédio, como foi fotografado para a bela capa do referido número zero, o suplemento Nós do RN é definitivamente um marco na história do jornalismo cultural na terra de Câmara Cascudo. No início, era contada a história das várias vertentes da nossa produção cultural, em cada número monotemático. Dentre outras, as estórias em quadrinhos (Nº 07, junho de 2005), o cinema (Nº 13, dezembro de 2005), a música (Nº 14, janeiro de 2006). Muito bonita a capa do número (o 04, de março de 2005) dedicado à arte da poesia, uma alegoria onde se vê Euterpe, a deusa da poesia, surgindo da sua concha aquática, observada por seres e flores voadoras tentando acompanha-la. Aliás, muitas outras capas bonitas e significativas puderam ser apreciadas pelos leitores do suplemento, ao longo destes 10 anos, podendo-se mencionar: a do Nº 8 (julho de 2005), sobre as artes plásticas no estado, e a do Nº 21 (de agosto de 2006), um belíssimo desenho modernista de Emanoel Amaral, mostrando dois violeiros no 12º Congresso Brasileiro do Folclore, que estava se realizando em Natal. Aliás, este suplemento de Nº 21 já estava sob orientação de um novo Editor-Geral, o jornalista Edilson Braga, ex repórter do jornal A República.
 
E Braga trouxe uma inovação à sala de redação do suplemento: uma reunião de pauta, pelo menos uma vez por mês, para definir qual seria o tema do próximo número do suplemento, e quais dos colaboradores repórteres ou articulistas iriam escrever as matérias com variações do tema geral. Estas reuniões de pauta, embora sérias e produtivas, decorriam num clima de descontração, com Emanoel Amaral brincando com o perfil fisionômico do pessoal, fazendo suas caricaturas. É preciso explicar que desde o número inicial, aquele nº ZERO (fora publicada assim a indicação do número – por extenso, e os quatro fonemas, duas consoantes e duas vogais, digitados em formato maiúsculo), o suplemento publicou autores que não participavam do corpo redacional ou de reportagem, mas que eram figuras importantes dojornalismo ou da literatura norte-riograndense. Neste nº ZERO, por exemplo, foi publicado (aliás, republicado em transcrição do jornal A República, de 16 de maio de 1943) o artigo “Amor e Islamismo”, de Eloy de Souza, o grande jornalista que deu nome ao Museu da Imprensa Oficial.
 
Embora focalizando principalmente assuntos norte-riograndenses, o suplemento nunca foi porta-voz de chauvinismos ou regionalismos exagerados. O número dedicado ao Carnaval(Nº 03, de fevereiro de 2005), começou mergulhando fundo na pesquisa histórica, em maravilhoso ensaio de Moura Neto, revelando que “para alguns estudiosos, a comemoração do carnaval advém de costumes das comunidades agrárias, onde homens e mulheres, por volta de 10 mil anos a.C., usavam máscaras, pintavam os corpos, bebiam bastante e dançavam até cair para espantar os demônios da má colheita.” Personalidades diversas da espécie humana, mereceram e foi aceito o destaque delas inspirando o tema de alguns números do suplemento. Sejam escritores (Raimundo Nonato, no Nº 32, de agosto de 2007) ou governadores do estado (Juvenal Lamartine, no Nº 38, de janeiro de 2008; e Dix-Sept Rosado, no Nº 66, de julho de 2011). Houve também, a partir do segundo ano de existência do suplemento, a presença de duas personalidades dividindo o conteúdo de um mesmo número (no caso, deixando de ser monotemático, e passando a ser bitemático, a exemplo do Nº 12, de novembro de2005, apresentando matérias sobre o padre João Maria e Alberto Maranhão).
 
Reforçando a presença feminina na colaboração escrita com o suplemento, que pode ser rastreada desde o Nº 09(de agosto de 2005), onde a repórter cultural Carla Xavier publicou matéria sobre o poeta assuense Paulo Varela, o editor Edilson Braga lançou no Nº 29 (de maio de 2007), a cronista da última página, a talentosa Yasmine Catarina. O seu primeiro trabalhado publicado neste suplemento recebeu o título “O Preço de Um Tempo”, encaixado na temática deste número de maio de 2007, contando a história do comércio no Rio Grande do Norte, e Yasmine descrevendo detalhes preciosos do comércio do Centro de Natal (Praça Padre João Maria, Café São Luiz). A partir do Nº 48 (abril de 2009), Yasmine passou a se assinar Yasmine Lemos. Com essa assinatura, manteve a coluna até ao Nº 56 (de janeiro de 2010), onde sua crônica recebeu o título “Exercício Para Alma”, um belíssimo texto, ao mesmo tempo filosófico, poético, e revelando um sofrimento humanitário pelas vítimas do terremoto do Haiti. Sua mensagem, quase ao final do texto, é inegavelmente cristã: “Ser solidário é exercitar o que de melhor a nossa alma possui: amar ao próximo.” Depois da saída de Yasmine do suplemento, após esta crônica, passou um certo período (do Nº 57, de fevereiro de 2010 ao Nº 64, de maio de 2011) sem a última página ser assinada continuamente pelo mesmo autor.
 
Com o Nº 65 (de junho de 2011) voltou a última página a ser enriquecida com a voz feminina. Salete Pimenta passou a escrever a crônica da última página, iniciando sua colaboração com a crônica “Quadrilha Junina”, demonstrando bastante conhecimento sobre esta dança festiva típica do Nordeste. Desde então, a caraubense autora dos livros “Acordes da Alvorada” (Sebo Vermelho, 1999) e “Fragmentos da Alma” (Editorial A República, 2013) tem escrito a coluna, com ausência do seu nome na coluna do Nº 81 (dezembro de 2012), por falha redacional, e na do Nº 91 (novembro de 2013), pelo motivo da última página ter sido escrita por Rosane Macêdo, supervisora do Museu de Imprensa Oficial.
 
O suplemento Nós do RN...foi lançado em formato tablóide, papel jornal, 12 páginas, capa e contracapa coloridas. Até o presente momento somente foi feita uma edição (especial) em formato revista, em papel couchê brilhante: foi a do Nº 63, de dezembro de 2010, edição natalina onde cada colaborador (articulistas, repórteres, e até fotógrafos que fizeram a cobertura da visita do papa João Paulo II – o João de Deus – a Natal, em outubro de 1991) escolheram para publicar nesta edição especial as melhores matérias que produziram e já publicadas em edições anteriores. A revista trouxe um suplemento do suplemento: um caderno colorido contando a história do Museu da Imprensa Oficial Eloy de Souza. Após a circulação da revista, o Nós do RN...entrou por um período parado, devido a enxugamento do quadro de colaboradores, e também por alterações no perfil de um novo governo. Foram quatro meses de ausência no contexto do jornalismo cultural do Rio Grande do Norte.
 
Mas em maio de 2011, foi a volta à circulação, com apenas oito páginas, e Edson Benigno, experiente jornalista, fundador de outros jornais (inclusive o vitorioso “Jornal Zona Sul”, fundado em 1991, e ainda em circulação), como o Editor-Geral. No número da volta, o 64, prestou-se uma homenagem à memória dos ex-diretores da Imprensa Oficial do RN, em matéria assinada pelo próprio Edson Benigno. Com Edson, embora mantendo o foco nos viezes artísticos e literários, o suplemento também foi a câmera e a voz de testemunhos voltados para assuntos econômicos, ambientais etc. O Nº 67, de agosto de 2011, faz um levantamento histórico e opinativo sobre a presença de secas, ou, o oposto, cheias, na paisagem climática de nossa região, e do Nordeste como um todo. E se Natal tem o maior cajueiro do mundo, foi bem sacada a idéiade se fazer um número como homenagem ao elemento vegetal.
 
Foi o Nº 69 (de outubro de 2011), com matérias curiosas, como uma sobre espaços públicos natalenses com nomes de árvores. Atendendo uma sugestão minha, o editor Edson Benigno resolveu publicar, a partir do Nº 73(março de 2012),algumas matérias transcritas de outro veículo cultural oficial, o jornal O Galo (1988 – 2002), iniciando pela reportagem “Imprensa Feminina no RN, uma história a ser contada”, escrita em parceria pelas escritoras Constância Lima Duarte e Diva Cunha Pereira de Macedo, e publicada em O Galo, no Nº 06 do Ano IX, referente a junho de 1997. A transcrição destas matérias tem funcionado como um resgate, um testemunho do valor da imprensa oficial em seu viés de divulgação cultural, pois suas gráficas são também editoras de livros, como o nosso DEI. Dentro destes 10 anos, a existência deste suplemento, como mostrei ao longo desta matéria, foi uma existência vitoriosa e profícua, resistente e não desistente. O atual Diretor Geral deste Departamento, Marcos de Souza Sobrinho, e seu Coordenador de Administração e Editoração, Josenilton Batista de Oliveira, acertaram em cheio na decisão de manterem o suplemento. A iniciativa de Miranda Sá deve permanecer. Porque, como escreveu o leitor João Vianey de Araújo, em carta enviada ao suplemento e publicada no Nº 59 (de agosto de 2010), o que fazemos aqui, desde novembro de 2004, “justifica plenamente a missão” (do DEI). Vianey refere-se a “artigos bem escritos, informações sobre nossa história” etc.
 
*Com post na página online do jornal Zona Sul.
 
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