Por Ricardo José Torres*
A história do jornalismo
demonstra a sua capacidade de adaptação às novas possibilidades tecnológicas,
culturais e econômicas, por meio de processos que envolvem os jornalistas, os
meios de produção e a sociedade. Atualmente, estamos vivenciando a constituição
de um ecossistema midiático que apresenta novas perspectivas para a atividade
jornalística. Entretanto, não podemos perder de vista os princípios e valores
essenciais do jornalismo que se consolidaram ao longo dos anos. A busca pela
verdade, as diretrizes éticas e o debate das problemáticas sociais constituem a
credibilidade da função jornalística e refletem diretamente na sua relevância.
Na comunicação
analógica, encontrávamos um cenário de escassez de informação e lucros
astronômicos. Atualmente, as múltiplas plataformas digitais descentralizam e
horizontalizam as informações, além de fornecer outra dinâmica ao conteúdo
jornalístico, que altera a relação entre os meios produtores e seus públicos. A
função de filtro de representação da verdade não está somente no que disseminam
os veículos de comunicação tradicionais. A relevância dos conteúdos pode ser
questionada e as angulações das temáticas podem ser avaliadas. Essa
configuração redimensiona a prática jornalística, mas não interfere na sua
relevância social e no seu papel enquanto produtor de conteúdo relevante.
Independentemente do
suporte em que irá se disseminar o jornalismo, a busca pela relevância deve ser
um dos balizadores centrais da produção do conteúdo. No objetivo de atrair a
atenção do público, o jornalista deve refletir também sobre os efeitos que essa
informação irá gerar no contexto social e no cotidiano dos indivíduos. Acredito
que esse seja o grande desafio para os jornalistas atualmente, diante das
inúmeras informações como atrair a atenção e manter o compromisso com os
parâmetros relacionados a relevância. Sem falar no desafio apresentado pelas
adaptações culturais e pela quebra de alguns paradigmas que permaneceram
intactos durante décadas.
Quem decide o que é
relevante?
Na “missão” de conjugar
a atenção do público com os parâmetros jornalísticos, o que fica evidente são
algumas implicações desafiadoras para os jornalistas que envolvem: O que o
público quer? (Nem sempre é o que o público precisa) E o que o público precisa?
(Nem sempre está ligado aos interesses dos veículos de comunicação ou dos
próprios jornalistas). Neste sentido, o conceito de relevância está atrelado ao
equilíbrio desses interesses onde o que deve prevalecer são os interesses dos
cidadãos.
Na ânsia de oferecer as
suas pautas, muitos jornalistas perdem de vista o referencial de que o mínimo
(oferecer informações relacionadas ao contexto social pautadas na apuração)
pode ser o máximo. Entre as perdas e ganhos do cotidiano do jornalismo, uma boa
pauta acaba perdendo espaço, pois, na dinâmica de mercado a quantidade supera a
qualidade e a utilidade da informação perde espaço para sua expectativa de
venda.
Quando nos referimos a
informações públicas ligadas a investigações, as práticas policiais e judiciais
parecem suplantar as técnicas jornalísticas. Documentos jurídicos e policiais
são propagados como verdades absolutas e estão presentes regularmente nos
debates propostos pelo jornalismo. Mesmo diante da infinidade de fontes de
informação o que continua sendo recorrente é a utilização de fontes oficiais.
As iniciativas de transparência dos órgãos públicos em todas as esferas ainda
não surtiram efeito na prática jornalística que continua tendo dificuldades
para filtrar os dados relevantes para sociedade.
Nem toda produção de um
jornalista será relevante, mas apenas o que for relevante poderá ser
considerado jornalismo. Claro que temas que em um primeiro momento parecem
banais podem se tornar boas matérias se levarem em conta as técnicas
jornalísticas e explorarem as suas potencialidades.
*Ricardo José Torres é mestrando em Jornalismo no
POSJOR e pesquisador do objETHOS
- Com post napágina do Observatório da Imprensa
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