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sábado, 25 de janeiro de 2014

Rebarbativo, não. Passional



Jarbas Martins*

Foto: página sebo vermelho
Não poderia deixar de falar de um velho amigo, MOACY CIRNE, que conheci aos dezessete anos, vindo do Sertão de Caicó para morar em Natal. Da mesma idade, construímos nossa amizade, respeitando nossas diferenças e acentuando nossas semelhanças. Ele se dizendo ateu e eu, cristão. Ambos procurando um sentido para vida. Ele lendo Sartre e eu, o existencialismo católico. Até que entrou o diálogo entre marxistas e cristãos, João XXIII e Kruschev se entendendo.

Ingressei na Ação Popular e ele, já no Rio de Janeiro, ingressou no Partido Operário Comunista, uma dissidência trotskista. Mas antes da angústia existencial, bem antes de Marx, Gramsci, O Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung, a guerrilha de Che Guevara, havia o amor pela arte. A literatura, e a paixão pelas mulheres que tratávamos como damas, nos cabarés da Ribeira, zona portuária.

O que admirava neste amigo era a paixão. Quadrinhos (o primeiro a publicar no Brasil livro sobre o tema), a Teoria Literária, o Cinema, o Futebol (torcedor do Fluminense), a Vida. Detestava os hábitos burgueses, os signos do capitalismo, consumismo, a indústria cinematográfica hollywoodiana, Coca Cola. Os  shoppings. Detestava o academicismo.

Largou o curso de Direito, na Faculdade da UFRN, alegando que pouco tinha que aprender ali. No Rio ingressou na Revista Vozes, onde foi editor e publicou livros que começaram ter receptividade tanto no meio acadêmico e fora dele.

Ficou conhecido por integrar o movimento vanguardístico do Poema Processo, ao lado de Wlademir Dias-Pino, Álvaro de Sá e outros.

Foi um dos fundadores do PT, nunca renegando seu ideário. Mesmo quando abandonou a militância política. Na ultima conversa que tivemos, disse estar satisfeito com os rumos que o seu partido tomava. E mais: falou que José Dirceu fazia parte da história do PT e do país. (Concordei, dizendo-lhe que em minha carreira jurídica tive muitas decepções).

Meu amigo Moacy nunca se graduou em Universidade nenhuma, mas foi convidado para ensinar na Universidade Federal Fluminense em Niterói. Contentou-se com o título de "notório saber" que lhe foi outorgado pela Universidade onde lecionava e onde chegou a ser Chefe do Departamento de Comunicação Social.

Nunca se afastou do Rio Grande do Norte, principalmente da Região do Seridó. A paixão foi o seu método, para chegar aonde queria: o Comunismo ou à Terra de São Saruê, a utópica pátria dos sertanejos segundo os cordéis de feira dos pobres camponeses.

Tinha costumes simples. Com sua barba podia ser confundido com Marx, um profeta sertanejo de Caicó, ou de Canudos. Havia, claro, os reacionários e preconceituosos que o detestavam. Eu, parodiando Lafargue, chamava-o de Jeová Barbudo de Caicó.

Rebarbativo, não. PASSIONAL!!!


*Com post do Sebo Vermelho
 
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