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sábado, 28 de dezembro de 2013

Um ano a mil

Por Jomar Morais*
 
Ah, essa hiperatividade que nos rouba a vida!
 
Pare e respire.
 
Provavelmente você não deu atenção ao meu apelo e já está aqui, correndo a linha dessa frase. Tudo bem, vou pedir de novo. Pare e respire, de verdade. Respire cinco vezes, suave e profundamente, e então retorne ao nosso bate-papo.
 
Se desta vez você conseguiu, aposto que está se perguntando: mas o que ele quer dizer, quer fazer com isso? Uma sessão de meditação “on paper”? Uma digressão filosófica? Uma gracinha sem graça?
 
Homem! (ou mulher!), pare com isso. Pare com essa sofreguidão por fórmulas e coisas explicadas.
 
Mudando de assunto. Dizem que, num momento de mau humor, o jovem Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, profetizou que os brasileiros iriam acabar com a sua gigantesca rede social. O cara, que imaginou um sistema de trocas de amenidades e coisas sérias baseado na palavra, estaria irritado com a explosão de fotos e de todo tipo de piruetas visuais que os brasileiros utilizam para mandar o seu recado na rede, muitas vezes sem uma única legenda que expresse um pensamento, algo abstrato ou introspectivo.
 
Teria sido assim que os brasileiros ajudaram a matar e a enterrar o Orkut? Não sei. Mas acho que, a ser verdade a irritação de Zuckerberg, ela tem lá seus motivos. No próprio Face costumo encontrar posts de usuários implorando que alguém leia suas mal traçadas e já circulam até “testes” nos quais um post sem imagens desafia os usuários a lerem algo sem uma fotinha, uma charge, um desenho...
 
O que eu me pergunto é se o exagero constatado por Zuckerberg tem a ver, como dizem os preconceituosos, apenas com o alto índice de semi-analfabetismo e a ausência de hábito de leitura entre nós. Acho que não.
 
O que nos faz saltar os posts de textos solitários é que eles nos pedem tempo e concentração – e isso é coisa da qual estamos cada vez mais desacostumados. Andamos a mil, na ânsia de vivenciar (de curtir, para usar o jargão do Face) todos os eventos, todas as pessoas, todas as ofertas e uma imagem - que pode ser apreendida, ainda que superficialmente, num único movimento dos olhos -, atende melhor a essa nossa “necessidade”.
 
Você já percebeu como os blocos das novelas estão cada vez mais curtos e os diálogos cada vez mais rápidos? Pois é, os produtores sabem que o telespectador comum já não consegue ficar mais que 8 minutos concentrado numa história. É preciso intervalos mais frequentes para acompanhar o ritmo frenético do controle remoto, aquele que nos dá a ilusão de acompanhar tudo ao mesmo tempo.
 
E os jovens na balada? Aquela ansiedade por beijar muitas bocas enquanto a cabeça voa para a balada seguinte?
 
E os maduros, nós mesmos, preocupados sobre como será o retorno antes mesmo de iniciar a viagem?
 
Ah, essa hiperatividade que nos rouba a vida... O espaço da coluna, irônico, já me pede: pare e respire! Que correria é o final de ano, né?
 
*jornalista e editor do Planeta Jota [Texto publicado na edição do Novo Jornal de 17/12/2013]
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