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sábado, 30 de março de 2013

O deserto chegará, disseram. Nada foi feito e ele chegou

Por Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
A seca braba que sentencia de morte o rebanho nordestino tem sido pródiga na produção de imagens fortes e tristes e de produção de matérias que documentam o fato e atestam a forma descuidada como se tem tratado a terra. Pela ausência das chuvas um tema voltou a ser lembrado, a desertificação, e o Novo Jornal tratou do assunto com uma bem trabalhada matéria de Paulo Nascimento enriquecida pelas fotos de Ney Douglas e pelo oportuno e competente artigo de Sílvio Andrade. Acompanhando o notíciário, lembrei ter guardado um trabalho que o professor e ex-governador Cortez Pereira me enviou no idos de 1994, de várias páginas manuscritas, alertando que “...no Rio Grande do Norte o Seridó, se nada for feito em sua defesa, poderá ser o primeiro deserto do Brasil e das Américas”. Está registrado também que a Estação Ecológica do Seridó, com sede em Caicó, àquele ano, já identificara pontos desérticos nos municípios de Ouro Branco, Parelhas e São José do Seridó.
 
Cortez Pereira, um dedicado estudioso das questões do Nordeste, acompanhava os eventos ligados à desertificação e naquele 1994 era realizado na França a Convenção Internacional de Paris Contra a Desertificação, realizada pela ONU, reunindo 132 paises ameaçados pelo fenômeno. E do evento ele pinçou a informação de que nas Américas três zonas foram identificadas como de “altíssima susceptibilidade”: Piedemonte, no México; Patagônia, na Argentina; e Nordeste, no Brasil. Em seu manuscrito o ex-governador, que revolucionou o Rio Grande do Norte com projetos inovadores, juntou estudos realizados pela Universidade Federal do Piaui e levados ao Seminário Latino-Americano da Desertificação realizado em 1994, em Fortaleza. O documento já apontava o Rio Grande do Norte como o Estado de maior área de risco (80%), seguido de Pernambuco (75%) e Paraiba (70%).
 
Lembrava ainda Cortez Pereira que o cientista mineiro, Guimarães Duque, em anos anteriores, já fizera a advertência apontando o índice de aridez como crítico por se aproximar do nível dos desertos. “As suas observações ao longo de 25 anos utilizaram os registros da antiga Estação de Cruzeta (Seridó), que atestavam um índice de aridez de 3.3, o mais baixo nível de todo o Nordeste.” Lembro que em nossa conversa o professor Cortez Pereira me informou ter encaminhado ao governador Vivaldo Cortez (que substituira a José Agripino que se afastara do cargo para disputar novas eleições) um estudo sugerindo providências para serem encartadas em programa amplo em defesa do Seridó. A essência era trabalhar com uma diversificada cobertura e leguminosas como base e início do programa, buscando a recuperação e fixação do solo. Em paralelo haveria a criação do suporte forrageiro para desenvolver uma pecuária com desenvolvimento industrial.
 
O manuscrito e a conversas estão completando 19 anos, beirando duas décadas. O conteúdo tinha apoio em documentos ainda mais antigos. A desertificação do semiárido é tema recorrente, sempre. E sempre, nele, o anúncio da iminência do deserto tomar conta do Seridó. O alerta do professor Cortez Pereira, que tem várias páginas manuscritas, não foi o primeiro e, depois dele, muitos estudos e muitas pesquisas já foram produzidos. Gritos silenciosos sem ecos em quem tem o comando. As matérias e as fotos publicadas nos últimos dias mostram bem o cenário que cada vez mais se efetivam no sertão do Seridó e sem solução à vista.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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