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domingo, 6 de janeiro de 2013

Jornalista questiona triste episódio da enfermeira enforcada por causa de trote da mídia

Jacintha e a poeira
 
Carlos Magno Araújo*
Jornalista carlosmagno@novojornal.jor.br
 
Sobre o quê não estaríamos falando agora, nós, os coleguinhas, se, em vez de amarrar o próprio pescoço e puxar a corda, a enfermeira vítima do trote de uma rádio em Londres tomasse decisão diferente?
 
Se, no lugar de se enforcar, ela fosse até a rádio e disparasse murros ou tiros contra os apresentadores engraçadinhos estaríamos até agora denunciando os ataques à liberdade de imprensa ou a violência incessante contra o trabalho da mídia.
 
A família da enfermeira vítima do trote – quando os apresentadores se  zeram passar pela rainha e pediram mais informações sobre o estado de saúde da princesa Kate – disse, os filhos chorando durante o sepultamento, que ela fará muita falta, do que não se duvida. Jacintha Saldanha, 46 aanos, não resistiu à humilhação do trote e se matou.
 
Por que passado já algum tempo, início de dezembro passado, trata-se ainda agora do tema? O assunto só foi focado na imprensa brasileira pelos jornalões e em reportagens pontuais na televisão. Ou em algums sites especializados em mídia.
 
Parece que a ninguém interessa aprofundar o tema e verifi car se esse tipo de piada sem gosto é usada no Brasil.
 
É sim, useira e vezeiramente, em programas de humor no rádio e na televisão. A maioria deles só tem graça para ouvintes e espectadores incapazes de medir o alcance de uma brincadeira dessa e sem noção dos riscos que pode causar.
 
Parece inocente pegar o telefone, ligar para alguém, se fazer passar por outro, soltar uma piadinha e ainda humilhar. Na letra da lei, talvez seja crime. E deveria ser tratado como tal, não como espetáculo de humor, com inúmeros patrocinadores e com gente descolada, colorida e esperta.
 
O mau gosto disso tudo só se assemelha à sugestão radical aí de cima – a de a enfermeira vítima revidar invadindo a rádio e eliminando os engraçadinhos.
 
É fácil lembrar que caso tal pode servir de lição, que bem deveria ser tomado como exemplo para que não ocorra entre os nossos. É comoção que não dura uma semana. Logo a máquina precisa andar, os negócios atingirem as metas, a audiência bater os concorrentes e tudo volta ao normal, no
estilo vale tudo.
 
Chatice assim pode ser melancolia de início de ano ou tédio, cansaço com as mesmices. Mas há episódios que nos dizem respeito, e muito, e a gente, como é mais cômodo, prefere levantar discretamente o tapete e jogar a poeira para lá.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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