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domingo, 20 de janeiro de 2013

Filhos da vida

Livres do medo de perder controle ou afeto, os pais se tornam aptos a escolher a atitude apropriada a cada circunstância
 
Jornalista
 
Nossos filhos não são nossos. Eles são da vida. São filhos da vida. Pais e mães são apenas veículos por meio dos quais seus corpos se materializam, lançando-os no fluxo dessa dimensão de formas a fim de que cumpram o próprio destino. Um pouco mais, na verdade: pais são tutores e preceptores temporários, encarregados de regar e podar uma planta que logo se tornará robusta e única no bosque da existência.
 
Essa visão não reduz e nem menospreza a dura e indispensável missão dos pais na formação intelectual e espiritual dos filhos, mas – penso - poderia contribuir para ajustar as relações familiares e evitar muito sofrimento no dia a dia de pais e filhos. Quando excluímos ou, pelo menos, relegamos ao segundo plano o pronome possessivo “meu”, tudo fica mais fácil em nosso relacionamento com o próximo e conosco mesmos. Ter a consciência de que nada nos pertence e nem está submetido ao nosso controle, alarga o horizonte das possibilidades e nos salva da rigidez da morte das posturas inflexíveis.
 
Talvez a primeira e a mais discreta consequência do entendimento de que os filhos pertencem à vida seja a expansão de nossa sensibilidade – e responsabilidade! – diante de todas as crianças e jovens. Superamos a neurastenia possessiva de quem entra em pânico com a simples falta de apetite de seu descendente e passa indiferente ante à fome do filho do vizinho e, sobretudo, a dos excluídos do banquete social. Não “possuir” um filho é um acesso para adotar todos os filhos do mundo, tornando-nos solidários e cooperativos. Menos posse na paternidade pode significar mais compaixão na gestão do mundo.
 
No cotidiano da família esse choque de realidade, certamente, faria florescer talentos reprimidos por pais frustrados que tentam moldar os filhos na forma dos próprios desejos, fomentando assim a gentileza e a confiança em casa. E, de outro lado, poderia evitar a indisciplina, as manipulações e o desrespeito que pontuam as relações domésticas baseadas na posse e no medo.
 
Posse e medo no exercício da paternidade geram ou superproteção ou despotismo, atitudes extremadas cujo alto custo abrange muito além dos limites do lar. Filhos mimados (e manipuladores) ou vítimas de brutalidades (que se tornaram brutais) quase sempre contribuem para as estatísticas da delinquência enrustida entre jovens ricos e da classe média.
 
A aceitação de que nossos filhos são filhos da vida traz, enfim, para a relação familiar os ingredientes fundamentais do amor e da liberdade e suas inevitáveis parcerias com a justiça e a responsabilidade. Livres do medo de “perder” controle ou afeto, os pais se tornam aptos a escolher a atitude apropriada a cada circunstância, respeitando limites e fixando obrigações.
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