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sábado, 21 de julho de 2012

A cachaça não é mais só nossa. Ganhou o mundo



A cachaça é reconhecida nos Estados Unidos. Vi a notícia na página e o filme passou  por inteiro no meu juízo. Me vi na feira, sentado nas caixas do mascate que atendia aos clientes, desfilando na frente deles rolos de tecidos com estamparias diversas.

Vez por outra eu arriscava o olhar de menino curioso na direção da bodega que ficava num dos cantos do mercado, bem em frente ao ponto do meu amigo mascate. Também na bodega os clientes se revezavam, mas o produto vendido ali era outro,  exatamente a cachaça. Uma bicada, pedia um; uma pinga, pedia o outro. Invariavelmente deixavam cair um pingo no chão e o que restava no copo, pequeno e de fundo grosso, era derramada garganta abaixo, num único gole. Seguiam-se um sopro forte, o estalar dos dedos e, com frequência, a cusparada na calçada.

O mundo da cachaça era a bodega, tendo o balcão como apoio. Bebida maldita, motivo de desdém para muitos. Algumas bodegas faziam uma pequena concessão, destinando uma sala com mesas e cadeiras toscas, onde a bebida era servida.  Eram salas fora do alcance da vista dos fregueses e frequentemente chamadas de “escondidinho”. O preconceito era tão agudo que o sujeito podia até ter o hábito de tomar porres de bebidas consideradas mais refinadas, mas o diagnóstico era um só: cachaceiro.
O mundo demorou a descobrir nossa cachaça, isso não faz muito tempo. Mas entre nós,  conterrâneos, ainda a enxergam com olho atravessado e boca troncha. Quanto aos gringos, hoje certamente lamentam o tempo perdido para reconhecer e saborear uma de nossas maravilhas.

*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL
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